Dependência digital: é provável que você sofra com isso Foto: Pixabay

O mundo já colhe os frutos negativos relacionados à transformação tecnológica e do uso constante de aparelhos eletrônicos

Durante a Guerra Fria, as disputas entre as duas principais nações globais, Rússia e Estados Unidos, motivaram o nascimento da internet. Isso ocorreu quando o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (ARPA – Advanced Research Projects Agency), por medo de espionagem, criou uma ferramenta de compartilhamento de informações. A primeira transmissão ocorreu em 1969 na Universidade de Stanford.

De lá para cá, muita coisa mudou! A internet se popularizou nos anos de 1990, e ganhou força no Brasil a partir dos anos 2000. Em especial nos primeiros anos do Governo de Luís Inácio Lula da Silva, por meio de políticas públicas que permitiram a democratização do acesso às redes no país. 

Era dos smartphones! 

Após os computadores terem se tornado comuns ao redor do globo, chegou a vez dos celulares. Com aplicativos que vão desde jogos até cuidados com a saúde e vida financeira. No entanto, entre todos estes benefícios, o mundo digital e a cibercultura criaram também um novo tipo de dependência: a digital! 

O que é dependência digital? 

Iron Dangoni Filho, neurologista do Instituto de Neurologia de Goiânia, explica que “trata-se de uma necessidade constante de contato e acesso à internet. O que leva a consequências em diversos aspectos da qualidade de vida do indivíduo (área física, sentimental e social) a depender da gravidade. “A dependência em redes sociais é uma realidade e existe. Inclusive, a defesa para inclusão do Transtorno de Dependência em Internet no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM)”, destaca. 

Como o cérebro age em relação a casos de dependência digital? 

Há uma desregulamentação em uma parte de nosso cérebro chamado sistema de recompensa, que é responsável pela forma como esse órgão processa as informações relacionadas à sensação de prazer. “Quando comemos algo gostoso ou fazemos algo interessante, nosso cérebro libera um neurotransmissor chamado Dopamina, que nos leva à sensação de satisfação. O cérebro guiado pelo Sistema de Recompensa gosta da sensação e vai querer repeti-la. Cabe ao nosso córtex pré-frontal ser um freio e de forma racional avaliar se essa sensação de satisfação deve ser repetida ou não.” 

Porém… 

Segundo o neurologista, em crianças e adolescentes, essa região que freia o sistema de recompensa, córtex pré-frontal, ainda não é bem formada, resultando em facilidades para a criação da dependência. “Logo sua capacidade de autocontrole, principalmente quando a busca pelo prazer é limitada, está mais propício à dependência”, completa.

Quais são as principais formas de tratamento para esse problema? 

Iron diz que o primeiro passo é a prevenção. “Como o cérebro da criança não está pronto para tomar algumas decisões, cabe aos pais limitarem o tempo de tela dos filhos e para que treinem seu sistema de recompensa a saber ter limites. Quando já estamos frente a casos de dependência, deve-se limitar de forma progressiva a exposição à internet e redes sociais. Além disso, as crianças também precisam ter outras atividades recreativas que não a digital, devendo-se estimular atividades físicas; organizar programas com a família e com amigos; mudar hábitos, pois na dependência algumas vezes há o uso digital simplesmente pelo hábito, como ao acordar, ao ir ao banheiro, durante refeições.”

Tempo máximo para uso das telas para evitar dependência

Orienta-se limitar o acesso das crianças à internet a duas horas por dia associado a prática de atividades físicas regulares e sono com tempo e qualidade adequados. Isso está associado a um melhor desenvolvimento cognitivo e menor risco de dependência. De acordo com Iron, estudos indicam que apenas uma em cada 20 crianças atendem a essas três recomendações.

Impactos na saúde mental  

Inúmeros estudos mostram que quanto maior o tempo gasto usando as mídias sociais, maiores são os problemas de saúde mental como: 

  • Depressão;  
  • Ansiedade; 
  • Ideação suicida; 
  • Suicídio; 
  • Automutilação.  

Além disso, o neurologista finaliza, afirmando que redes sociais oferecem um terreno fértil para comparação social, “pois possibilita a criação de uma realidade inexistente, levando os indivíduos a sofrerem com autodepreciação, com baixa autoestima e humor mais rebaixado”.