O simples ato de se alimentar pode esconder algumas questões internas que podem ser complexas de se entender. Como, por exemplo, emoções e, em alguns casos, medos intensos e irracionais, que podem transformar a relação com a comida em uma verdadeira batalha. As fobias alimentares, embora muito pouco faladas, afetam muitas pessoas, e entender essa condição é importante para aprofundar as discussões sobre o tema e proporcionar um tratamento adequado.
A Mente Afiada Curiosidades conversou com Lilian Vendrame, psicóloga e neuropsicóloga, especialista em adolescência, formada em terapia cognitivo-comportamental e com capacitação em tratamentos para transtornos depressivos e ansiosos pelo Hospital Albert Einstein e USP, para entender melhor sobre o assunto.
O que são fobias alimentares?
Segundo Lilian, “fobias alimentares são medos intensos e irracionais diante de certos alimentos, que geram uma ansiedade enorme e podem até desencadear comportamentos extremos, como ataques de pânico.” A fobia, que é uma derivação do medo – uma das emoções mais básicas e biológicas do ser humano –, surge após experiências traumáticas ou aprendizados que envolvem alguns alimentos específicos.
A psicóloga explica que a fobia é uma versão aumentada do medo, que inicialmente tem a função de nos proteger. “O medo nos protege de situações de perigo, como atravessar a rua sem olhar. Mas, quando esse medo é ampliado e direcionado a alimentos, pode prejudicar nossa vida e saúde”, alerta.
É coisa séria!
Por ser pouco debatida, as fobias alimentares podem não ser reconhecidas como um problema real e preocupante. Mas Lilian deixa claro que elas afetam diretamente a qualidade de vida de quem sofre com isso. “Dependendo da fobia e do alimento, a pessoa pode desenvolver outros transtornos, como anorexia nervosa, que está ligada a um medo enorme de engordar. Isso pode causar desnutrição e depressão”, aponta a especialista. Além da saúde física, a profissional também destaca que a fobia alimentar também pode levar ao isolamento. “Há casos em que as pessoas evitam eventos sociais por vergonha ou medo de ter que lidar com o alimento que causa pânico.”
Fobias alimentares x aversão
Muitas vezes, as fobias alimentares são confundidas com a ideia de aversão a certos alimentos, mas Lilian explica que são coisas diferentes. “A aversão vem mais do nojo, outra emoção básica de proteção, e está relacionada a questões como sabor e textura, que podem ser associadas a experiências passadas ou simplesmente ao gosto pessoal”, esclarece a especialista. A fobia, por sua vez, é caracterizada por um medo intenso. “Enquanto o nojo é uma forma de o corpo se proteger de algo que pode ser ruim para nós, a fobia nos leva a evitar certos alimentos por um medo irracional, gerando uma ansiedade tão intensa que o simples contato visual com o alimento pode desencadear uma crise.”
Como reconhecer
Mas, como identificar uma fobia alimentar? Para responder a essa pergunta, antes Lilian alerta para os perigos de autodiagnósticos feitos com base em informações das redes sociais. Por isso, ela ressalta a importância de procurar um profissional de saúde mental para que possa ser realizada uma avaliação detalhada da situação. Ainda assim, ela cita alguns sintomas que podem indicar a presença da fobia: taquicardia, falta de ar, sudorese e até náuseas apenas ao pensar no alimento em questão. “A pessoa pode sentir um ataque de pânico antes mesmo de entrar em contato com o alimento”, explica.
Causas e tratamentos
Como mencionado anteriormente, as fobias alimentares podem ser desencadeadas por experiências traumáticas envolvendo determinados alimentos. Lilian relembra um caso de uma paciente que desenvolveu fobia de feijão após receber a notícia do falecimento do pai enquanto cozinhava o alimento. “A mente associa a dor daquele momento ao alimento, como uma forma de autoproteção”, conta. Além disso, ela aponta que fatores genéticos, culturais e psicológicos também podem contribuir para o surgimento da fobia.
O tratamento mais indicado para esses casos, de acordo com a psicóloga, é a terapia cognitivo-comportamental (TCC). “Esse tratamento ajuda a pessoa a entender os pensamentos e comportamentos relacionados à fobia e, aos poucos, lidar com as situações que geram medo”, explica e conclui.