Sim ou não: “Queria negar, mas aceitei” Shutterstock, Inc

A baixa autoestima e a necessidade de agradar podem nos levar a dizer sim, mesmo quando não queremos

Quem nunca se viu preso em uma situação em que queria dizer não, mas acabou falando sim? Aposto que muitos de nós já passamos por isso. Afinal, é comum que, ao longo da vida, deixemos de lado compromissos e vontades pessoais para ceder favores a outras pessoas. 

Isso pode estar relacionado a vários fatores, mas o fato é que esse comportamento é autodestrutivo e pode acarretar em sentimentos de frustração e infelicidade. Mas por quê não conseguimos resistir a esse hábito? Para a psicóloga e autora do livro Sim ou Não – A difícil arte de colocar-se em primeiro lugar na sua vida (Litarare Books), Gislaine Erbs, a motivação pode vir de diversos lugares. “Essa dificuldade pode estar relacionada a baixa autoestima, o medo da rejeição, traumas, crenças limitantes, educação durante a infância, dependência ou vício emocional, falta de habilidade social, entre outras coisas.”  

As experiências moldam as condutas

Segundo a profissional, a conduta pode estar fortemente ligada aos nossos registros feitos ao longo da vida, já que o nosso histórico de experiências gera emoções que nem sempre condizem com o momento atual, direcionando de forma afetiva as nossas escolhas. Portanto, se as vivências modelam nossos comportamentos, quanto mais elas são negativas, mais elas reforçam os maus hábitos. “Quando uma criança é muito repreendida ao manifestar sua opinião, dizendo ‘não’, e recebe um castigo, ou perde um amiguinha(o), por exemplo, seu subconsciente registra uma emoção negativa. A memória desse registro pode surgir em novas situações e fazer com que a criança desenvolva receio das consequências e, por medo, não consegue negar outros pedidos”, exemplifica.

Gislaine destaca ainda que todas as experiências negativas, mesmo que na vida adulta, nos remetem a sentimentos e emoções que, no futuro, irão reforçar a visão de certos comportamentos como inadequados ou improdutivos. ”Alguém que foi traído por um namorado, um amigo ou um familiar, poderá se tornar uma pessoa endurecida, dominada por pensamentos do tipo: ‘nunca mais confiarei em ninguém’, e começará a agir no automático.”

A escritora aponta a falta de autoconhecimento como um dos fatores mais determinantes para essa dificuldade em recusar algum pedido quando este não é plausível, ou tão urgente assim. Para ela, é preciso, em primeiro lugar, conhecer-se para então saber discernir o que de fato é importante para si. “É incrível como as pessoas não sabem responder sobre o que gostam, o que as fazem felizes, quais são suas preferências e que sentimentos tem.”

“Como podemos fazer escolhas, se não sabemos onde queremos chegar? Que resultados queremos ter? Quem são as pessoas importantes? E assim por diante.”

Estamos sempre querendo dizer sim, mas quem se beneficia disso? 

Gislaine relembra que outra situação que dificulta a dizer ‘não’ é a baixa autoestima, junto de uma necessidade de se sentir aceito, amado e valorizado. “A dependência emocional do outro gera a crença de que, para que me amem, preciso atender todas as necessidades do outro. Em que se essa pessoa não se sentir satisfeito comigo, acabarei sozinho”, aponta a psicóloga. 

Para a profissional, o motivo da maioria das pessoas quererem agradar, não precisa necessariamente representar um problema. “Ter vontade de agradar aos outros não é ruim, pois isso também significa que você tem sentimento pelas pessoas, que se importa com elas. Pessoas que nunca sentem a necessidade de agradar alguém podem, até mesmo, ter alguma patologia”, pontua. 

Porém, ela alerta que isso não precisa ser o norte para tomar todas as decisões, afinal, não é isso que irá determinar nosso valor dentro das relações. “O desejo de agradar pode estar relacionado ao sentimento de querer se sentir útil, de insegurança ou medo de ser abandonado ou não ser aceito. Mas isso não quer dizer que você precisa agradar a todos o tempo todo, ou de que as pessoas não irão gostar de você por isso.”

“Se dê respeito, as pessoas valorizam pessoas determinadas e seguras. Comunique-se, e tenha respostas efetivas para dizer o motivo pelo qual não irá aceitar a solicitação”, orienta Gislaine.

Avalie, repense e escolha relações saudáveis

De forma geral, a sensação de culpa e os medos internalizados acabam nos fazendo aceitar situações que não deveríamos. Vale ainda refletir que se há insistência de quem está pedindo, é preciso avaliar se é algo realmente importante, se é por capricho ou por pura inconveniência. “Depois de descartar essas questões, verifique se é possível aceitar sem ter prejuízos, afinal, é sempre bom ajudar alguém que precisa. É bom lembrar que amanhã, pode ser você a estar na posição do outro.” 

Além disso, a psicóloga indica que uma boa análise é capaz de ajudar bastante a trabalhar esse comportamento. “Comece identificando com quem e em que lugares têm mais dificuldade de dizer ‘não’. Verifique se existem crenças limitantes na resposta. Tenha sempre em mente quem são as pessoas que são importantes para sua vida, quais são seus objetivos e metas, quais são as ações que precisa fazer para atingir seus objetivos e manter as relações que realmente valem seu esforço”, aconselha.

Por último, mas não menos importante, é necessário avaliar os relacionamentos em que está inserido para identificar possíveis comportamentos prejudiciais que possam despertar hábitos ruins. “Relacionamentos saudáveis sabem respeitar os limites de cada um, e sabem entender o ‘sim’ e o ‘não’. Existe diálogo, comunicação e compreensão. Se não existir tais elementos, é porque não é saudável, logo você não deve se preocupar em desapontar, porque é melhor estar longe mesmo”, finaliza.