Síndrome do Impostor faz com que pessoas se sabotem e não se sintam merecedoras de suas conquistas
Você já lutou muito por uma conquista e quando chegou lá, simplesmente desistiu ou acho que não era justo com as demais pessoas? Ou até mesmo sente como se estivesse enganando as pessoas e, por isso, que não é merecedor de algo que possui por esforço ou mérito próprio? Caso tenha se identificado com alguma dessas situações, saiba que você pode estar com a Síndrome do Impostor.
O que é a Síndrome do Impostor?
Segundo a psicóloga Maria Rafart, a Síndrome de Impostor deixa geralmente as pessoas inseguras de sua própria capacidade. E faz com que elas acreditem ser verdadeiras fraudes ambulantes. “A todo instante temem ser desmascaradas, porque acreditam que apenas pelo fator sorte estão onde estão, e não por suas habilidades e competências. Na Síndrome do Impostor estabelece-se um ciclo de autodescrédito, que inicia na atribuição de tarefas, passa pela ansiedade que o medo de não a fazer causa. Pode haver adiamentos por perfeccionismo, ou procrastinação pela incapacidade de acreditar que será capaz”, explica a profissional de saúde mental. Com isso, as pessoas acabam se autosabotando.
Um exemplo interessante, que a apresentadora Rafa Brites narra no livro Síndrome da Impostora (Editora Academia), ilustra bem este problema. Nesse contexto, a autora compartilha que sonhava em conseguir um trabalho em uma empresa. Assim, ela se inscreveu para a vaga e participou de todos os processos seletivos, até mesmo em inglês. Quando foi aprovada, em meio a tantas outras candidatas, simplesmente desistiu, sem nenhum motivo aparente. Ou melhor, o motivo estava claro: ela não se sentia boa o suficiente para o cargo que tanto desejava e que se mostrou merecedora.
Quais são as características da Síndrome do Impostor?
Maria Rafart conta que, por se sentir uma fraude, a pessoa que está com a Síndrome do Impostor tem medo de ser descoberta, ou desmascarada. “Essa costuma ser a maior característica. Quem tem a Síndrome do Impostor acredita que não vai conseguir enganar as pessoas por muito tempo, que sua incapacidade será descoberta, e que elas irão sofrer as consequências de terem de, certa forma, enganado quem estava ao seu redor por muito tempo. Pode acontecer um paulatino isolamento, por temor de ter esse segredo descoberto.”
Fases da Síndrome do Impostor:
1-) Ansiedades, dúvidas e inseguras relacionadas à própria capacidade; sentimento de não pertencimento ou merecimento;
2-) Aumento da ansiedade e dúvidas;
3-) Práticas de autossabotagem;
4-) Dependência da aprovação externa;
5-) Desqualificação das conquistas pessoais; acreditar que as conquistas vieram por “sorte”.
Fonte: Universidade Federal de Minas Gerais
Quais são as pessoas mais afetadas por ela?
Segundo dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), pessoas que pertencem a grupos sub-representados em nossa sociedade, como as mulheres, a população LGBTQIAP+ e os negros, estão mais suscetíveis a essa Síndrome. Assim, a falta de representatividade e as desigualdades sociais podem aumentar a vulnerabilidade a essa condição, evidenciando a necessidade de uma maior inclusão e suporte para esses grupos. Além disso, uma pesquisa realizada na Universidade da Georgia, nos EUA, com 150 mulheres em posição de prestígio, mostrou que a grande maioria delas acreditava que estava em sua posição por “sorte” ou pelo acaso do “destino”.
“Vemos esse fenômeno acontecer muito no mundo corporativo, e pode ocorrer um medo generalizado de ter as suas incapacidades descobertas e punidas, perdendo com isso prestígio, emprego e dinheiro. Pessoas perfeccionistas tendem a achar que seus bons resultados são uma fraude, pois poderiam entregar mais e melhor.”, conta Maria Rafart.
Como podemos diferenciá-la de outros problemas como a ansiedade?
Segundo a psicóloga, a ansiedade é um dos sintomas que podem ser desencadeados pela Síndrome do Impostor. “De tanto medo de ser desmascarado, o indivíduo passa a imaginar que num futuro próximo algo trágico pode acontecer nesse sentido, e então, vêm os sintomas de ansiedade. A ansiedade também aparece quando tarefas são entregues a quem tem a Síndrome do impostor, pois a pessoa acha que não será capaz de fazer uma entrega satisfatória.”
É preciso lidar com o perfeccionismo
Para Maria Rafart, a terapia cognitivo-comportamental, por meio de seu questionamento socrático, pode ajudar a quebrar as crenças de que a pessoa é somente uma fraude. Além disso, essa abordagem pode ajudá-la a encontrar uma imagem mais adequada àquilo que realmente é.
Em relação à prevenção, ela afirma que é importante tratar o perfeccionismo e ensinar que a autoestima não se baseia apenas naquilo que você pensa. “No entanto, também é fundamental considerar os resultados e o feedback de terceiros, pois isso pode ajudar bastante a evitar que a Síndrome do Impostor se instale profundamente. Além disso, compartilhar seus sentimentos pode ser benéfico, na medida em que você pode receber devolutivas que mostrem outros ângulos do mesmo problema. Por fim, os líderes nas corporações devem estar muito atentos às suas equipes para não fomentar a sensação de impotência de seus liderados”, completa.