
O elo invisível entre o burnout e os desequilíbrios hormonais
Você acorda cansado, passa o dia em piloto automático, esquece prazos e compromissos, sente o humor oscilar e, mesmo tentando dormir cedo, continua exausto? Esses sintomas estão cada vez mais comuns na rotina profissional, e, muitas vezes, são atribuídos apenas ao estresse ou à pressão no trabalho. Mas há um fator silencioso que pode estar por trás disso tudo: os hormônios.
Quase metade dos profissionais brasileiros relata sintomas de fadiga persistente, dificuldade de concentração, irritabilidade e alterações de sono, conforme dados da Associação Brasileira de Medicina do Trabalho (ABMT). O que pouca gente sabe é que desequilíbrios hormonais, mesmo quando sutis, podem ser a origem, ou o agravante, desses quadros.
Hormônios x produtividade
“Quando os hormônios estão em descompasso, o corpo sente e o desempenho no trabalho também. Muitos quadros de exaustão física e mental podem ter causas hormonais. Por exemplo, o mau funcionamento da tireoide, alterações no cortisol, estrogênio, progesterona ou testosterona”, explica a endocrinologista Fernanda Parra.
Ela destaca que, embora os exames de rotina nem sempre detectem essas alterações de forma clara, os sinais clínicos estão ali: falta de energia, perda de memória recente, baixa motivação, oscilações emocionais e até sintomas depressivos. O burnout, classificado pela OMS como um fenômeno ocupacional, é frequentemente tratado apenas com foco na saúde mental. Mas o corpo físico também adoece.
O estresse crônico ativa constantemente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, aumentando os níveis de cortisol, o “hormônio do estresse”, que, quando desregulado, afeta diretamente o sono, a imunidade, o metabolismo e o humor. “Um organismo que vive em alerta constante, sem pausas para recuperação, entra em colapso. E os hormônios são os primeiros a acusar esse desequilíbrio. Sem cuidar da base hormonal, a pessoa pode até melhorar temporariamente, mas dificilmente terá um ganho real e duradouro de bem-estar e performance”, reforça a endocrinologista Fernanda Parra.
Outras doenças também precisam de atenção
Em mulheres, desequilíbrios hormonais comuns como síndrome do ovário policístico (SOP), TPM intensa ou perimenopausa podem gerar sintomas severos de ansiedade, depressão leve e déficit de atenção. Já nos homens, a queda gradual da testosterona, muitas vezes não diagnosticada, compromete o foco, o vigor físico, a libido e a disposição geral. Alterações da tireoide também são recorrentes e pouco percebidas, principalmente nos casos subclínicos.
O hipotiroidismo, por exemplo, está diretamente associado à lentidão mental, baixa energia e até ganho de peso, fatores que impactam diretamente o rendimento profissional e a autoestima. “É impossível separar mente e corpo. Hormônios bem ajustados significam mais clareza mental, equilíbrio emocional e capacidade de tomar decisões. O contrário também é verdadeiro: quando algo está fora do lugar, todo o sistema entra em sobrecarga”, afirma a médica.
Cuidar da saúde hormonal vai muito além da estética ou da balança é uma estratégia essencial para preservar a energia, o foco e o equilíbrio emocional diante das exigências do dia a dia. Reconhecer os sinais do corpo, buscar acompanhamento especializado (terapia, consulta médica) e incluir exames hormonais mais detalhados na rotina de cuidados pode ser o primeiro passo não só para evitar o burnout, mas para conquistar uma vida profissional mais produtiva, saudável e sustentável. Afinal, produtividade de verdade começa com equilíbrio interno.