Problema afeta entre 50 a 80 milhões de pessoas no mundo, 8 milhões somente no Brasil

Ter filhos é o sonho de muitas pessoas, mas uma grande porcentagem delas não consegue procriar, ou seja, são inférteis. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 80 milhões de pessoas no mundo sofrem com a chamada infertilidade. Mas, por que algo que afeta o ser humano ainda é um tabu na sociedade? 

De acordo com a psicóloga Larissa Fonseca, isso se dá porque existe uma expectativa de procriar que está relacionada a questões religiosas. “Existe uma expectativa de continuidade da família, por exemplo, quando perguntam: ‘Quando vocês vão me dar um netinho?’. Por mais que o casal não queira ou seja infértil. Então, esse tabu existe, por mais que seja uma disfunção fisiológica ou também uma falta de vontade mesmo. Estamos falando de uma sociedade que espera a continuidade da família.”

Causas da infertilidade

O médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana, Fernando Prado, explica que diversos fatores podem levar à infertilidade. “Sabemos que 1 em cada 6 casais terão dificuldades para engravidar e precisarão de algum tipo de tratamento.” O médico listou as causas mais comuns, de acordo com o gênero do paciente:

Causas femininas:

  • Distúrbios ovulatórios: alterações hormonais, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), podem interferir na ovulação.
  • Lesões nas tubas uterinas: obstruções ou lesões nas tubas uterinas podem impedir que os espermatozoides cheguem ao óvulo para fertilizá-lo. Algumas razões para lesões são infecções ou endometriose.
  • Endometriose: é uma condição na qual o tecido que reveste o útero (endométrio) cresce fora deste órgão, o que pode levar à dor, aderências pélvicas (os órgãos “grudam” uns nos outros), inflamação e obstrução tubária.
  • Idade: a fertilidade na mulher diminui naturalmente com a idade, especialmente após os 35 anos, quando se acelera a diminuição da quantidade e qualidade dos óvulos.
  • Doenças uterinas: anormalidades estruturais no útero, como malformações, pólipos, miomas ou mesmo aderências, podem dificultar a implantação do embrião.

Causas masculinas:

  • Baixa contagem de espermatozoides: a baixa produção de espermatozoides pode ser causada principalmente pela varicocele (veias dilatadas – varizes nos testículos), problemas hormonais (e também abuso de implantes hormonais e outros hormônios esteróides), obstruções nos ductos ejaculatórios ou problemas genéticos.
  • Qualidade do sêmen: a qualidade do sêmen é um conceito mais amplo e refere-se à capacidade dos espermatozoides de se moverem e fertilizarem o óvulo. Fatores como estresse, cigarro, consumo excessivo de álcool ou uso de drogas e exposição a toxinas ambientais, incluindo a poluição, podem afetar a qualidade seminal.
  • Vasectomia: embora seja uma causa “provocada”, muitos homens assumem um novo relacionamento e se fizeram vasectomia há mais de 10 ou 15 anos, a qualidade do sêmen também fica prejudicada.
  • Lesões testiculares: traumas, cirurgias ou infecções nos testículos podem causar danos aos tecidos reprodutivos masculinos.
  • Problemas genéticos: algumas condições genéticas, como a síndrome de Klinefelter ou a fibrose cística, podem levar à infertilidade masculina. Existem centenas de genes suspeitos de interferirem no processo, mas ainda é desconhecido o mecanismo exato deste problema.

Combate a desinformação

Um dos motivos da infertilidade ainda ser um tabu na sociedade é a falta de informação sobre o assunto e o preconceito. Para a psicóloga Larissa, é preciso mais circulação na mídia e também oferta de educação sobre o assunto. “Principalmente porque para as mulheres, após uma certa idade, fica mais difícil engravidar, e devido à falta de informação, muitas mulheres acreditam que elas vão ter filhos a qualquer momento, e não é bem assim. A gente precisa combater esse estigma, porque muitas pessoas têm vergonha de serem inférteis. A gente precisa criar um ambiente de apoio e acolhimento e praticar mais a empatia.”

Procure ajuda profissional

Por mais que a infertilidade tenha tratamento – e há chances de ainda ter filhos, assim como é possível adotar – a psicóloga reforça a importância em procurar ajuda profissional para cuidar da sua saúde mental. Para aquelas pessoas que não sabem qual passo dar, Larissa aconselha: “Primeiramente, é preciso olhar para si e fazer algumas perguntas, como: ‘O quanto eu quero ter filhos?’ ‘Isso realmente é uma prioridade para mim?’ ‘O que ter filhos significa para mim?’ ‘Eu estou disposta a fazer tratamentos de infertilidade para ter filhos ou a adoção?’. E também o mais importante: se isso é uma coisa que te machuca, você precisa de um suporte e uma ajuda, seja um grupo de suporte ou um psicólogo que vai te ajudar a lidar com todas essas questões e te ajudar a arranjar soluções, principalmente a aceitação do seu corpo do jeito que ele é.”

Tratamentos contra a infertilidade

O ginecologista Fernando Prado afirma que existem vários tipos de tratamento. Para a infertilidade feminina, ele deu dois exemplos: (I) medicamentos hormonais para estimulação da ovulação e (II) fertilização in vitro (FIV). Nesse procedimento, a FIV,  os óvulos são coletados da mulher e fertilizados em laboratório com os espermatozoides do parceiro. Os embriões resultantes são então transferidos para o útero. 

Para a infertilidade masculina: (I) Cirurgia se houver varicocele, obstruções nos ductos ejaculatórios ou outras condições passíveis de correção cirúrgica. A cirurgia pode ser realizada para restaurar a fertilidade. E (II) utilização de sêmen de doador, se houver uma ausência completa de espermatozoides no sêmen ejaculado, um casal pode optar por utilizar banco de sêmen para realizar o tratamento para engravidar. É válido pontuar que existem muitas outras opções.