
Organização Mundial da Saúde estima que 1 em cada 6 pessoas em idade reprodutiva no mundo tem dificuldades de engravidar naturalmente
Considerada como uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a infertilidade afeta 1 em cada 6 pessoas em idade reprodutiva. Junho é o Mês Mundial de Conscientização da Infertilidade, estabelecida quando um casal que deseja obter gravidez não consegue após um ano de tentativas por relações sexuais sem uso de nenhum método de anticoncepção. A infertilidade pode ser primária, quando este casal nunca conseguiu engravidar, ou secundária, quando pelo menos já houve uma gravidez anterior.
O cuidado com a infertilidade é um problema de saúde pública que precisa ser abordado nos consultórios. Pois impacta a saúde mental podendo gerar consequências para a vida profissional e qualidade de vida. Segundo a Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), cerca de 35% dos casos são relacionados à mulher, 35%, relacionados ao homem, 20% a ambos e 10% permanecem desconhecidos.
A recomendação é que mulheres com menos de 35 anos, sem outros fatores de risco para infertilidade, iniciem a investigação após 12 meses de tentativas de gravidez sem sucesso, ao passo que aquelas entre 35 e 37 anos após seis meses de tentativas já comecem a investigar as causas da dificuldade por meio de exames específicos ou imediatamente se elas estiverem com 38 anos ou mais. Os homens também devem investigar sua fertilidade, principalmente após os 45 anos, quando estudos já têm mostrado impactos na qualidade do sêmen.
Causas da infertilidade
No caso das mulheres, o ginecologista especialista em reprodução humana Marcelo Marinho de Souza, diretor médico da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana e mestre em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), enumera como possíveis causas: distúrbios hormonais e outras doenças ginecológicas como miomas ou aderências pélvicas, Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), endometriose, infecções da região pélvica, idade, estilo de vida e fatores ambientais.
“Há uma série de causas para a infertilidade feminina. Entre elas, destaca-se o fator ovariano com as suas disfunções ovulatórias. Nesse grupo, um importante elemento é a síndrome dos ovários policísticos. Sem esquecer de considerar a idade da paciente e fazer uma precisa avaliação da reserva folicular ovariana. Especialmente naquelas pacientes com uma idade um pouco mais avançada, ou seja, acima de 35 anos”, explica.
O médico complementa que, ao longo da vida, as mulheres podem passar por tratamentos agressivos do câncer com o uso de rádio ou quimioterapia assim como a exposição crônica e prolongada a agentes químicos tóxicos presentes nos meios industriais, agrícolas e domésticos.
Exames
“É importante sempre avaliar a paciente de uma forma personalizada, com exames complementares específicos que possam assegurar o diagnóstico e o melhor tratamento a ser realizado”, afirma o médico.
Entre os exames para avaliar a fertilidade feminina estão a dosagem do hormônio anti-mulleriano e o ultrassom transvaginal de contagem dos folículos antrais.
No caso dos homens, as principais causas de infertilidade podem incluir doenças como a varicocele, criptorquidia na infância, Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), entre outros.
Segundo o ginecologista especialista em reprodução humana Roberto de Azevedo Antunes, também diretor médico da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana e diretor da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), é importante que os homens façam o exame de espermograma, que entre outras informações consegue avaliar a quantidade de espermatozoides presentes, o tipo de motilidade ou se existem fatores inflamatórios, por exemplo.
Além desse exame, o especialista complementa sobre o teste de fragmentação de DNA de espermatozoides para casos de infertilidade sem uma causa aparente e perdas, ou falhas de implantação, de repetição em casos de reprodução assistida.
“Não podemos esquecer que, além dos fatores relacionados ao estilo de vida, a idade também influencia a fertilidade masculina. Já existem evidências que sugerem que alterações nos espermatozoides ocorrem de forma natural com o envelhecimento. Com isso, os parâmetros do sêmen podem piorar com o passar do tempo, o que pode reduzir as chances de gravidez. Por fim, o aumento da idade paterna também parece ter correlação com a ocorrência de mais alterações cromossômicas e epigenéticas nos embriões. Isso é verificado principalmente para uma idade paterna superior a 45-50anos.”, afirma Dr. Roberto de Azevedo Antunes.
Tratamentos para engravidar
Os tratamentos na Reprodução Humana Assistida envolvem:
Relação sexual programada
O coito programado é quando o casal planeja ter relações sexuais durante o período fértil da mulher. Esse método é simples, mas são necessários exames a fim de se avaliar a função reprodutiva como um todo. Nos homens, um exame de abordagem inicial importante é o espermograma. E nas mulheres, a histerossalpingografia, para avaliar a cavidade uterina e permeabilidade das trompas, a ultrassonografia pélvica e o painel hormonal reprodutivo da mulher. Importante lembrar que esse tipo de tratamento pode ser oferecido também para mulheres que apresentam dificuldades de ovulação, como o caso daquelas que possuem Síndrome dos Ovários Policísticos, mas nessas situações deve ocorrer uma indução medicamentosa da ovulação.
Inseminação artificial
É uma técnica de reprodução medicamente assistida, utilizada quando os parâmetros do espermograma encontram-se com alterações leves a moderadas ou quando a relação sexual programada não dá certo. O procedimento é realizado no período fértil da mulher. E consiste em injetar o sêmen devidamente preparado e melhorado em laboratório, diretamente no útero da paciente para que, então, ocorra a fecundação do óvulo e a geração do embrião. As taxas de sucesso da inseminação artificial dependem da qualidade das trompas e da quantidade de espermatozoides.
Fertilização in vitro (FIV) e Injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI)
É um método de reprodução humana assistida de alta complexidade. O encontro dos óvulos e espermatozoides, ou seja, a fecundação em vez de acontecer na trompa da mulher é feita no laboratório. Por ser “fora do corpo”, recebe a denominação “in vitro”. O tratamento envolve o estímulo hormonal de um processo ovulatório múltiplo, acompanhamento de ultrassonografias transvaginais e a coleta dos óvulos sob sedação, em local seguro e devidamente equipado. Nesse mesmo dia, o homem colhe o sêmen ou a mostra de espermatozoides já pode estar disponível no laboratório. A partir desse momento os espermatozoides passam por um processo de seleção a fim de se definirem os melhores.
2 formas de fertilização dos óvulos
A fertilização dos óvulos em si pode ocorrer de duas maneiras. Através da técnica clássica, na qual óvulos e espermatozoides são colocados em um mesmo compartimento e a fecundação ocorre de forma espontânea (FIV clássica). Ou, então, pela técnica de injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) nos óvulos. Essa consiste literalmente na injeção de um único espermatozoide pré-selecionado dentro de um óvulo. A técnica de ICSI, embora originalmente utilizada apenas para os casos de fator masculino grave, atualmente é disseminada e utilizada prioritariamente na maior parte dos serviços por entregar melhores taxas de fertilização dos óvulos.
“O tratamento a ser indicado deve ser individualizado e dependerá da saúde e histórico do casal”, finaliza Marcelo Marinho de Souza.