Dor nas pernas, inchaço e hematomas? Pode ser lipedema Embora frequentemente confundido com obesidade ou celulite, o lipedema é uma doença distinta, e sua visibilidade aumentou nas últimas décadas

Do diagnóstico preciso ao tratamento personalizado, tratar o lipedema envolve estilo de vida, tecnologia e ciência para melhorar a qualidade de vida de mulheres com a doença

O lipedema é uma condição inflamatória crônica e progressiva que afeta principalmente as mulheres, caracterizando-se pelo acúmulo anormal de gordura em áreas específicas do corpo, como quadris, coxas e panturrilhas, poupando mãos e pés. Essa gordura, porém, não é apenas localizada, mas uma “gordura doente”, que pressiona vasos linfáticos, sanguíneos e terminações nervosas, causando dor, sensação de peso e dificuldade no emagrecimento.

O que causa o lipedema?

A fisioterapeuta dermato-funcional Talita Bessa, especialista em estética corporal e Head do Grupo Clay, explica que a condição é fortemente influenciada por hormônios femininos, como o estrogênio, o que explica seu surgimento em momentos chave da vida da mulher, como primeira menstruação, no uso de anticoncepcionais ou durante a gestação. A doença tem um componente genético significativo e afeta, em sua maioria, a região da cintura para baixo. “O lipedema é uma gordura doente. O adipócito, que é a célula de gordura, cresce desordenadamente, às vezes chegando a centímetros, e comprime vasos linfáticos, sanguíneos e terminações nervosas”, explica.

Embora frequentemente confundido com obesidade ou celulite, o lipedema é uma doença distinta, e sua visibilidade aumentou nas últimas décadas. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente o lipedema como uma condição médica, e em 2022, a doença foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), um avanço crucial para o diagnóstico e tratamento adequados.

Em pausa no Brasil

No entanto, no Brasil, a adoção da CID-11, que inicialmente estava prevista para 2025, foi adiada para 2027 pelo Ministério da Saúde. O adiamento, segundo o governo, se deve à necessidade de capacitação de profissionais de saúde e à adaptação de sistemas para que o diagnóstico e o tratamento da doença sejam mais eficazes e padronizados em todo o país. Isso é especialmente relevante em um contexto onde o lipedema é ainda subdiagnosticado e muitas vezes negligenciado.

A inclusão do lipedema na CID-11 representa um passo importante para que o diagnóstico da doença seja mais preciso e amplamente reconhecido. Além de permitir a implementação de políticas públicas específicas e a melhoria no acesso ao tratamento.

Sintomas e diagnóstico

Dor ao toque, sensação de peso nas pernas, edema no final do dia, dificuldade de emagrecimento em determinadas regiões e hematomas frequentes são sinais que podem indicar a presença da doença. “A mulher se olha no espelho e vê um tronco fino, mas pernas muito grossas. Se mesmo emagrecendo, aquele volume nas coxas ou no bumbum permanece, é um sinal de alerta”, afirma a fisioterapeuta.

Tratamento multidisciplinar do lipedema: da fisioterapia à cirurgia

Embora não tenha cura, o lipedema pode ser controlado com uma abordagem integrada. No Grupo Clay, a paciente é acompanhada por uma equipe multidisciplinar que inclui fisioterapeutas, nutricionistas, nutrólogas, dermatologistas e cirurgiões plásticos. “Tratar lipedema é cuidar da inflamação, e isso exige atenção à alimentação, suplementação, controle hormonal e estilo de vida. É uma jornada conjunta”, pontua Dr.ᵃ Talita.

Entre os tratamentos não cirúrgicos, o Grupo Clay desenvolveu o protocolo LipoControl, voltado ao controle do lipedema. “Usamos recursos como ozonioterapia, ultrassom, radiofrequência em baixa temperatura, taping, pressoterapia e terapias manuais. Cada paciente evolui de maneira diferente, então o protocolo é totalmente personalizado”, destaca.

Quando necessário, a cirurgia é indicada após o controle clínico. “O procedimento cirúrgico melhora significativamente a qualidade de vida, mas é importante lembrar que a doença continua existindo. Por isso, o acompanhamento pós-operatório é essencial”, reforça.