Você conhece o câncer de pele mais comum?

Feridas que não cicatrizam, “caroços”, áreas avermelhadas e descamativas na pele podem ser sinais de carcinoma basocelular. Esse é o tipo de câncer de pele mais comum, sendo não melanoma, que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), corresponde a cerca de 80% dos diagnósticos desse tipo de neoplasia. Essas lesões podem apresentar crostas, causar coceira ou ardor, e ter pigmentação amarronzada ou preta.

A cada ano, a incidência do carcinoma basocelular aumenta. As estimativas do INCA para o triênio 2023-2025 preveem 101.920 novos diagnósticos em homens e 118.520 em mulheres no Brasil. A doença não é agressiva e tem baixo potencial de metástase. Cirurgias ambulatoriais costumam resolver mais de 90% dos casos, segundo o Grupo Brasileiro de Melanoma. Pessoas de pele mais clara são as mais suscetíveis ao surgimento da condição, cujo principal fator de risco é a exposição direta ao sol.

A doença ganhou visibilidade na mídia recentemente. A atriz Fernanda Rodrigues revelou em suas redes sociais o diagnóstico de carcinoma basocelular pela segunda vez. A neoplasia reapareceu um ano após ela ter realizado a cirurgia para remoção. Agora, ela terá que passar por um novo procedimento.

A Dra. Marilu Tiúba, dermatologista da Rede Mater Dei de Saúde, conversou com exclusividade com a MALU e esclareceu as principais dúvidas sobre a doença. Confira!

Quais são as características do carcinoma basocelular, o câncer de pele mais comum de todos?

O carcinoma basocelular é o tipo de câncer de pele mais frequente e muito comumente visto em nossos consultórios. Geralmente, eles se apresentam como lesões, como pequenas pápulas que não têm sintoma específico e que não costumam doer. São lesões que podem aparecer com um centrinho ulcerado. Então, a reclamação do paciente é de lesões que não cicatrizam, que às vezes sangram com facilidade. O olhar do dermatologista é bem treinado para identificar essas características. Uma delas que é muito comum para o diagnóstico são as bordinhas peroladas e a presença, às vezes, de alguns vasos sanguíneos visíveis, crostas, casquinhas. Mas o que chama a atenção realmente é que é uma lesão, na maior parte das vezes, que tem um crescimento razoavelmente lento e que não metastiz. Diferentemente de outros tipos de cânceres, como por exemplo o melanoma.

Por que esse é o tipo de câncer mais comum e por que são diagnosticados cada vez mais casos?

Ele é um tipo de câncer comum porque acontece principalmente nas áreas com exposição crônica ao sol. Como a cabeça, região da face e pescoço, principalmente em pacientes de pele, cabelos e olhos claros. Infelizmente, as pessoas ainda têm hábitos solares muito intensos, fazendo uso de bronzeadores, tendo exposição aos raios UV nos horários de pico. E isso, sem dúvida alguma, é um dos principais fatores para a observação desse aumento da incidência.

Por que pessoas de pele mais clara são mais suscetíveis a terem a doença?

As pessoas de pele clara têm uma chance maior justamente porque elas têm menos melanina. A melanina funciona como uma proteção natural contra os danos solares e a sua menor quantidade faz com que se tenha uma maior susceptibilidade dessas células ao dano da radiação ultravioleta e, consequentemente, ao desenvolvimento do câncer de pele, como o carcinoma basocelular.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico do carcinoma basocelular é basicamente clínico. O dermatologista é familiarizado com a identificação de lesões e suas características, como as bordas peroladas, lesões que não cicatrizam, pequenas pápulas etc. Em casos assim, basta um exame físico minucioso feito pelo médico especialista para diagnosticar a doença, mas também existe a possibilidade de pedir uma biópsia e estudo anátomo patológico para identificar com precisão com que tipo de células estamos lidando. Portanto, exames físicos são essenciais, principalmente em pacientes com histórico pessoal ou familiar de câncer de
pele.

Quais são os sinais de alerta que indicam que a pessoa deve procurar ajuda médica?

Os pacientes devem ficar atentos a mudanças em lesões que já existiam – por exemplo, uma pinta que muda de cor ou tamanho, bordas irregulares, uma lesão que começa a sangrar, ou que coça, ou que forma uma casquinha e demora para cicatrizar. Esses são sinais que indicam que realmente vale a pena o paciente buscar uma avaliação por um dermatologista.

Como se dá o tratamento? Cirurgias são sempre necessárias?

O tratamento padrão para o carcinoma basocelular é a excisão cirúrgica, mas também existem outras opções, como eletrocoagulação, terapia fotodinâmica, alguns medicamentos tópicos, mas que devem ser avaliados com muito critério e considerados somente em casos onde a excisão cirúrgica não seja viável.

Existe algum cuidado pós-cirúrgico em específico?

Depois da cirurgia de remoção, é importante que o paciente tenha cuidados em relação à cicatrização, evitar a exposição solar daquela área tratada e aplicar protetor solar, ou algum agente cicatrizante, se for uma lesão maior, que necessitou de uma abordagem cirúrgica mais cruenta e que exija algum tipo de rotação de retalho.

Como prevenir esse tipo de câncer de pele mais comum?

A proteção solar é, sem dúvida alguma, o método de prevenção mais eficaz. É essencial usar o protetor solar e evitar a exposição nos horários de pico (entre 10h e 15h). Também é recomendado o uso de roupa de proteção com fator de proteção ultravioleta, que a gente chama de FPU, e de chapéus com abas largas, principalmente para proteger a região das orelhas. E no caso dos homens que têm algum nível de calvície, proteger o couro cabeludo com um boné também é importante, por conta da incidência da radiação solar direta nessa região, que pode causar lesões. Prevenir também é consultar o dermatologista regularmente, pelo menos uma vez por ano, para favorecer a detecção precoce das lesões.

Também é importante promover o aumento da conscientização sobre a saúde da pele e a promoção de campanhas de detecção precoce, como a realizada anualmente pela Sociedade Brasileira de Dermatologia em dezembro, quando ocorrem mutirões de rastreamento – iniciativas que acabam resultando em muitos diagnósticos, principalmente de carcinomas basocelulares.

Por que é importante que o diagnóstico seja precoce?

O diagnóstico precoce é importante porque essas lesões, quando são detectadas nos seus estágios iniciais, têm uma taxa de cura muito alta e menor complicação na abordagem cirúrgica. Quanto maior a lesão, mais invasivo o procedimento pode ser, então detectar e tratar o problema o quanto antes favorece a recuperação do paciente.

O que acontece caso não haja diagnóstico e tratamento oportunos? A doença pode evoluir para algo mais grave?

A metástase é muito rara para esse tipo de condição. Porém, lesões de carcinoma basocelular que não forem tratadas vão continuar crescendo, podendo invadir os tecidos adjacentes e causar uma destruição local significativa. Existem alguns tipos de carcinoma basocelular que são altamente invasivos, como por exemplo o carcinoma basocelular esclerodermiforme, um tipo de câncer cuja invasão é bem local e pode levar para complicações extremamente graves, principalmente em algumas regiões do rosto, naquelas áreas próximas à “zona T”, perto dos olhos e do nariz.

É comum o carcinoma voltar a aparecer depois de tratado? Por que isso acontece e como evitar que isso ocorra?

Quem tem uma lesão de carcinoma basocelular pode sim vir a ter novas lesões. É sempre importante conscientizar o paciente dessa realidade, principalmente aqueles que têm histórico de múltiplos cânceres de pele. Essa recidiva pode acontecer também por fatores como predisposição genética, ou exposição continuada ao sol, ou se o tratamento inicial não tiver sido 100% efetivo. Então, para diminuir o risco dessa recorrência, é fundamental que o paciente siga com aquelas medidas de prevenção, se protegendo da exposição solar, usando filtro solar, usando roupas com fator de proteção, e sempre contar com uma avaliação regular com o especialista dermatologista.

Caso o carcinoma reapareça no mesmo local, como foi o caso da atriz Fernanda Rodrigues, que já tinha tirado a lesão cirurgicamente e a doença retornou, provavelmente uma das margens da ressecção não foi completamente livre das células cancerígenas, ou então a lesão inicial era mais extensa do que inicialmente foi detectado. Existem alguns métodos que são feitos com a congelação do material removido em centro cirúrgico e o cirurgião oncológico vai acompanhando até onde ele pode ir com uma margem sem células cancerígenas presentes. Esse método é chamado de Cirurgia de Mohs e é um grande aliado hoje no tratamento de lesões cancerígenas, principalmente na face.