As bibliotecas públicas não são apenas locais para se retirar livros; elas funcionam como verdadeiros espaços de acolhimento e troca.
A Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, foi fundada em 1810. Mais de 200 anos depois, a leitura tem se destacado como uma ferramenta poderosa de promoção do bem-estar emocional e mental, por meio do que se conhece como biblioterapia. Esse termo, que vem sendo utilizado há décadas, nunca foi tão relevante quanto agora. Afinal, nossa sociedade vive um momento em que a população enfrenta níveis crescentes de ansiedade e depressão.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Já o transtorno de ansiedade atinge cerca de 264 milhões de pessoas. No Brasil, o cenário é preocupante: somos o país com a maior taxa de pessoas ansiosas do mundo e o quinto em número de casos de depressão. Esse panorama reforça a urgência de buscar alternativas para o cuidado da saúde mental. Nisso, a leitura surge como um “remédio natural“, oferecendo benefícios para pessoas de todas as idades.
A leitura como alternativa saudável
A biblioterapia é a prática de utilizar a leitura de livros, contos, poesias ou outros textos literários como um recurso terapêutico. Promovendo a reflexão, o alívio do estresse e o desenvolvimento pessoal. Assim como um exercício físico de relaxamento, a leitura pode acalmar a mente, reduzir os sintomas de ansiedade e ajudar as pessoas a processarem emoções difíceis. Em alguns países, como o Reino Unido, o Sistema Nacional de Saúde (NHS) já adota programas de “prescrição social”, que incluem a recomendação de livros específicos para ajudar no tratamento de problemas de saúde mental.
Pesquisas da Universidade de Sussex mostram que a leitura pode diminuir os níveis de cortisol, hormônio associado ao estresse, em até 68%. Ler durante apenas seis minutos já é suficiente para começar a relaxar o corpo e a mente. Isso ajuda a desacelerar o ritmo frenético do dia a dia. Essa prática favorece o desenvolvimento de empatia, melhora o foco e oferece novas perspectivas de vida, permitindo que o leitor se conecte com outras realidades e compreenda melhor suas próprias emoções.
Bibliotecas surgem como espaços de acolhimento
As bibliotecas não são apenas locais para se retirar livros; elas funcionam como verdadeiros espaços de acolhimento e troca. Em tempos de grande agitação, elas proporcionam um ambiente onde é possível desacelerar, refletir e buscar momentos de novas experiências. A prática da biblioterapia pode ser potencializada em espaços como esses, onde a organização e o contato com os livros e as pessoas contribuem para um ambiente de conforto e bem-estar.
A Biblioteca de São Paulo (BSP) e a Biblioteca Parque Villa-Lobos (BVL), na capital paulista, são exemplos de locais que integram a leitura ao cuidado com as pessoas. Além de promoverem o acesso a livros, elas oferecem uma programação que pode contribuir para a promoção da saúde mental. Como, por exemplo, clubes de leitura e oficinas de contação de histórias, que estimulam o encontro, a partilha de experiências e o apoio mútuo.
Assim como a BibliON – biblioteca digital gratuita de São Paulo – que leva a leitura a diversas localidades, é uma alternativa que rompe as barreiras físicas. Assim, possibilita que mais pessoas tenham acesso aos benefícios da leitura como prática terapêutica. A presença de bibliotecas digitais em locais com menos infraestrutura cultural torna a biblioterapia acessível, democratizando essa alternativa de cuidado emocional.
Benefícios para a saúde e o desenvolvimento pessoal
Além dos benefícios para a saúde mental, a leitura contribui significativamente para o desenvolvimento pessoal. Ela melhora a capacidade de concentração, amplia o vocabulário e estimula o pensamento crítico. O ato de ler regularmente proporciona uma espécie de “ginástica mental” que, assim como os exercícios físicos, traz benefícios duradouros.
Não podemos esquecer que, em uma sociedade cada vez mais digital e isolada, as bibliotecas oferecem um espaço de convivência, onde o público pode se reunir para atividades culturais e sociais. Os clubes de leitura e oficinas literárias, por exemplo, não são apenas momentos de lazer. São também construção de laços, acolhimento e combate ao isolamento. Esses espaços permitem que as pessoas compartilhem suas histórias e sentimentos. Essas trocas vão além das palavras escritas e contribuem para a saúde mental coletiva.
Diante dos desafios que a saúde mental impõe à sociedade atual, a biblioterapia desponta como uma prática valiosa e acessível. Ao promover a leitura em espaços acolhedores e democratizar o acesso aos livros, bibliotecas como a de São Paulo e a Parque Villa-Lobos, além de iniciativas como a BibliON, desempenham um papel importante na construção de uma sociedade mais saudável. No Dia Nacional do Livro, celebrar a leitura é reconhecer seu potencial terapêutico e sua contribuição para o bem-estar individual e coletivo.
Assim, a leitura se apresenta não apenas como uma forma de entretenimento ou enriquecimento cultural. Ela é como um verdadeiro aliado no cuidado com a mente e o coração, ajudando a enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais complexo e acelerado.