Solidão e sobrecarga na maternidade prejudicam a saúde mental Freepik

Maternidade e saúde mental: sobrecarga e isolamento podem aumentar riscos emocionais, alerta a médica

Muitas pessoas retratam a maternidade como um período de plenitude e realização, mas muitas mulheres vivem uma realidade bem diferente do ideal socialmente construído. A pressão para ser a “mãe perfeita” — sempre paciente, feliz e disponível — pode gerar sobrecarga emocional, culpa e isolamento, aumentando a vulnerabilidade a transtornos mentais, como depressão e ansiedade.

Segundo a Dra. Luana Carvalho, médica com foco em saúde mental materna, é urgente abrir espaço para discutir o lado invisível da maternidade. “Existe uma cobrança social silenciosa, mas pesada, para que a mulher seja impecável em todos os papéis: mãe, profissional, esposa, cuidadora. Esse ideal é inatingível e, quando a mãe não consegue alcançá-lo, ela se sente fracassada. A culpa e a exaustão não são sinais de fraqueza, mas de uma carga desigual e de expectativas irreais.”

O desconforto é real

Estudos apontam que as redes sociais amplificam a sensação de inadequação. Imagens de maternidade romantizada, sem choro, noites mal dormidas ou dúvidas, criam comparações injustas. Essa “maternidade perfeita” virtual não corresponde ao dia a dia real, mas impacta diretamente a autoestima das mulheres.

A culpa é um dos sentimentos mais relatados pelas mães: culpa por não amamentar o suficiente, por voltar ao trabalho, por desejar tempo para si, ou simplesmente por se sentir cansada.

Além disso, o isolamento social agrava esse quadro. Muitas mulheres se veem sem rede de apoio efetiva, sobrecarregadas com responsabilidades e sem espaço para pedir ajuda. A solidão, somada à exaustão física e mental, pode evoluir para quadros de ansiedade, depressão ou burnout materno.

Prejudica todo mundo

A sobrecarga materna não atinge apenas a mulher, mas reverbera em toda a família. Pesquisas indicam que mães emocionalmente esgotadas têm maior dificuldade em estabelecer vínculos saudáveis com os filhos, o que pode afetar o desenvolvimento infantil. “Cuidar da saúde mental da mãe não é um luxo. É uma questão de saúde pública. Quando a mãe adoece, toda a família adoece junto. Quando ela recebe apoio e acolhimento, todos se fortalecem.”, reforça a Dra. Luana.

Romper o silêncio sobre o sofrimento materno é o primeiro passo. Buscar acompanhamento médico, psicoterapia e cultivar redes de apoio comunitário são estratégias fundamentais. Além disso, políticas públicas que reconheçam a maternidade como um período de maior vulnerabilidade emocional podem oferecer suporte decisivo.

A maternidade real inclui amor, mas também cansaço, dúvidas e solidão. Reconhecer essa complexidade é essencial para promover cuidado e prevenção. “Mães não precisam ser perfeitas. Precisam ser apoiadas, respeitadas e acolhidas. Esse é o verdadeiro caminho para uma maternidade saudável.”