
Psicanalista analisa o sentimento de resistência ao fim da vida, comum em quem ainda se sente ativo e produtivo
Ícone da televisão brasileira, Susana Vieira abriu o coração em uma entrevista ao falar sobre o medo que sente da morte. Aos 82 anos, a atriz afirmou que continua com energia de sobra para atuar, viajar e curtir os netos. “Eu tenho pena de morrer”, disse, com sinceridade, em um desabafo que comoveu fãs e reacendeu o debate sobre envelhecimento e finitude.
A fala de Susana ecoa em muitas pessoas que, mesmo na terceira idade, seguem com planos, vitalidade e amor pela vida. Para o psicanalista Jarbas Caroni, especialista em Neurociência do Comportamento e Programação Neurolinguística, esse sentimento é legítimo e profundamente humano.
“O medo da morte não nasce da fraqueza. Muitas vezes, ele é fruto da própria intensidade com que alguém vive. Pessoas que ainda sentem alegria em estar presentes, que mantêm vínculos afetivos profundos e que carregam planos no coração, naturalmente resistem à ideia de se despedir. Não se trata apenas de temer o fim, mas de valorizar tudo aquilo que ainda pulsa dentro do peito. É a alma dizendo que ainda não terminou de viver”, avalia o especialista.
Amor pela vida
Segundo Caroni, o medo da morte, nesse contexto, está diretamente ligado ao amor pela existência e ao apego às experiências que ainda desejamos viver. “Quando alguém expressa esse medo de forma sincera, não está negando a realidade, mas revelando o quanto a vida ainda faz sentido. É um sentimento legítimo, espiritual e profundamente humano. Resistir à partida é, muitas vezes, uma forma silenciosa de gratidão por tudo que já se viveu — e por tudo que ainda se gostaria de viver. E isso merece ser acolhido com respeito, e não com julgamento”, explica.
Ele ressalta ainda que, apesar de natural, esse medo pode se intensificar em fases de transição emocional, perdas significativas ou diagnósticos de doenças. Nessas situações, o acolhimento emocional é fundamental.
No caso de figuras públicas como Susana, que sempre estiveram em evidência, o envelhecimento também pode vir acompanhado de uma cobrança social para se manterem ‘eternamente jovens’, o que aprofunda a dor de enfrentar a própria finitude.
“Celebridades muitas vezes se tornam símbolos de força, beleza e vitalidade. Quando elas compartilham seus medos e fragilidades com tanta verdade, isso humaniza e aproxima, pois quebra o silêncio sobre um tema que, embora universal, ainda é cercado de tabus. Quando alguém com tanta história tem coragem de dizer ‘eu tenho medo de morrer’, ela dá voz a milhões que sentem o mesmo, mas não sabem como expressar. Essa é uma das formas mais bonitas de humanidade”, finaliza o psicanalista.