
A novela Volta por Cima estreou na faixa das sete na Globo em 2024, com a proposta de representar o povo brasileiro. Os dilemas da mocinha Madalena (Jéssica Ellen) lembram muito os de diversas mulheres Brasil afora, e isso não é um acidente, mas sim fruto de uma visão artística de vários profissionais, verdadeiros aliados da autora Claudia Souto. Um deles é o diretor artístico da novela, André Câmara. Com carreira consolidada na TV e no teatro e até alguns prêmios Emmy em seu currículo (por Lado a Lado e Órfãos da Terra, de 2012 e 2019, respectivamente), ele conversou com a MALU sobre sua profissão, influências, a importância da representatividade e muito mais. Confira!
Primeiramente, o que faz um diretor artístico de novelas?
“O diretor artístico é responsável por coordenar todos os aspectos criativos e estéticos de uma novela. Isso inclui desde a definição do tom visual e narrativo, até a escalação e direção dos atores em cena, garantindo que cada detalhe – do cenário à interpretação – esteja alinhado com a visão da obra. É como ser o maestro de uma grande orquestra, equilibrando talentos e elementos para contar a melhor história possível. No caso de Volta Por Cima, a colaboração e sintonia com a autora Claudia Souto tem sido essencial para traduzir essa visão de forma tão impactante.”
Como essa carreira surgiu na sua vida?
“Minha paixão pelo teatro e pelas artes começou cedo e foi consolidada em projetos sociais que coordenei no Rio de Janeiro e em Pernambuco, ensinando teatro em comunidades e no sistema socioeducativo. Essa experiência foi transformadora e me ensinou o poder da narrativa na vida das pessoas. Quando tive a oportunidade de trabalhar com audiovisual, percebi que poderia levar essas histórias para um público ainda maior. Foi uma transição natural, mas com raízes no meu trabalho com comunidades e no desejo de contar histórias que conectem.”
Qual o maior desafio que sua carreira enfrentou até agora?
“Um dos maiores desafios foi ganhar espaço em um mercado que muitas vezes opera em territórios já estabelecidos. Conquistar reconhecimento sendo fiel às minhas origens e à importância da representatividade foi algo que exigiu resiliência. Superei isso acreditando no poder das histórias que contamos e cercando-me de uma equipe talentosa e comprometida, como a da novela Volta Por Cima.”
Volta Por Cima tem sido uma novela que acertou tanto numa trama interessante quanto em questões de representatividade. Como você tem se sentido com esse sucesso?
“Me sinto profundamente realizado. Essa novela é uma celebração da força e da beleza da classe trabalhadora brasileira, com um protagonismo negro que rompe padrões e inspira. É emocionante ver como a audiência abraçou essa história, enxergando nela reflexos da própria vida. Saber que estamos contribuindo para um imaginário mais inclusivo e representativo é algo que me enche de orgulho.”
Quais são os profissionais que mais te inspiram?
“No cinema, me inspiro em nomes como Stanley Kubrick, pela ousadia visual; Steven Spielberg, pela capacidade de emocionar; Pedro Almodóvar, pelas cores e personagens intensos; e Jean-Luc Godard, por sua quebra de convenções. O cinema neorrealista italiano também me influencia, com a autenticidade de diretores como De Sica e Rossellini, que usaram pessoas reais como personagens para retratar a vida cotidiana. Admiro também o Cinema Novo, especialmente Glauber Rocha, por sua narrativa ousada e compromisso com uma arte que dialoga com as raízes do Brasil, algo que sempre busco levar para meus projetos.”
Você acumula sucessos e prêmios. Sente que tem algum sonho que ainda não realizou?
“Com certeza! Apesar das conquistas, acredito que sempre há espaço para sonhar e fazer mais. Um dos meus maiores desejos é continuar criando histórias que representem a diversidade do Brasil, explorando novas linguagens e formatos.”
Qual o seu momento favorito na sua carreira?
“Há muitos momentos marcantes, mas um dos mais especiais foi ver a recepção calorosa de Volta Por Cima. Saber que a novela tocou tantas pessoas e se tornou um símbolo de representatividade me dá uma sensação de missão cumprida. Mas, ainda há muito o que se conquistar… e continuamos a caminhar… Além disso, nunca vou esquecer o impacto dos projetos sociais nos quais trabalhei, que foram fundamentais para minha trajetória.”
“A imagem cria o imaginário, e dar mais um passo na busca de uma tela mais brasileira é contribuir na construção de um Brasil mais diverso e democrático.”