É preciso estabelecer limites para que essa relação não gere interferências problemáticas na vida conjugal
“Falei com a minha mãe e ela disse que é melhor fazer desse jeito.” Essa frase pode parecer inofensiva, mas muitas vezes pode significar um certo desequilíbrio na vida conjugal. Afinal, ter um bom relacionamento com a família de origem é ótimo, mas quando isso começa a interferir nas decisões do dia a dia do casal, pode abalar o alicerce dessa relação e causar algumas complicações nesse sentido.
Um problema comum
Um estudo recente, publicado na revista Psychology Today, mostra que três em cada quatro casais enfrentam problemas significativos com seus sogros. Desse número, 60% das mulheres têm divergências com as mães de seus parceiros. “Essa dinâmica pode ter um impacto significativo na relação e na intimidade do casal, gerando ressentimento e frustração. A percepção de que um parceiro está sendo negligenciado em favor da família de origem pode diminuir a intimidade emocional e física, criando um ambiente de competição prejudicial à conexão entre o casal”, pontua Leninha Wagner, PhD em neurociências.
Relacionamento é uma responsabilidade conjunta
Mesmo que para algumas pessoas isso possa parecer óbvio, é importante reforçar que a partir do momento em que escolhemos alguém para dividir nossa vida, escolhemos também uma nova estrutura familiar. Assim, entender o lado do parceiro(a) precisa ser um compromisso sempre. Segundo a especialista, os sinais de que um parceiro está priorizando a família de origem em relação ao casamento incluem “a falta de comunicação sobre questões importantes do casal, desinteresse nas atividades ou necessidades do parceiro, consulta frequente à família antes de tomar decisões conjuntas e a desvalorização das opiniões ou sentimentos do outro”.
O que isso representa para o casal?
Leninha explica que a interferência constante da família pode ser um sinal de codependência, principalmente quando o parceiro não consegue tomar decisões sem a aprovação da família. “Relações familiares não resolvidas, como conflitos não tratados, podem afetar negativamente a dinâmica do casal e gerar estresse adicional”, aponta.
E isso se torna constante, é ainda mais prejudicial para a relação a dois e pode até caminhar para o fim do relacionamento. “Os possíveis efeitos a longo prazo incluem insatisfação crônica no relacionamento e um sentimento de isolamento para o parceiro que se sente negligenciado. Isso pode levar a ressentimentos acumulados, que podem culminar em crises ou rupturas no relacionamento, prejudicando a conexão amorosa”, explica a neuropsicóloga.
Quando ultrapassa os limites
Também é importante dizer que manter laços fortes com a mãe ou outros familiares pode ser saudável. Mas o limite se torna problemático quando as decisões do casal são excessivamente influenciadas por essa relação. “É essencial priorizar as necessidades e limites do relacionamento conjugal, garantindo que ambos se sintam valorizados e respeitados”, reforça a profissional.
E isso pode ser um problema específico de certas famílias, mas também pode ser uma questão social. Leninha pontua que crenças culturais podem ter um papel significativo nessa dinâmica, especialmente em culturas que valorizam laços familiares intensos. “A ideia de que os filhos devem cuidar dos pais pode criar um senso de obrigação que interfere nas dinâmicas do casal, levando a uma priorização da família de origem”, discorre.
Como agir diante do problema
Dito isso, a maior dúvida que pode pairar é: como abordar o tema com o parceiro sem que ele se sinta atacado ou culpado? “É importante utilizar a escuta ativa e a comunicação não-violenta”, responde a neuropsicóloga. “O parceiro pode expressar seus sentimentos sem culpar, dizendo, por exemplo, que se sente inseguro quando percebe que a mãe é priorizada, o que pode abrir um diálogo construtivo”, completa.
“Quando um parceiro busca constantemente a aprovação da mãe antes de tomar decisões, é fundamental incentivá-lo a refletir sobre suas próprias necessidades e as do relacionamento.”
Dá para o casal viver em paz
E sim, é possível envolver a família na dinâmica do casal de forma saudável, sem que isso interfira em decisões que só dizem respeito a eles. “Para isso, é necessário estabelecer regras claras sobre como e quando a família de origem pode se envolver na vida do casal”, orienta Leninha.
A especialista reforça a necessidade de criar um espaço para conversas abertas sobre limites e expectativas. “Reforçar que as decisões devem ser tomadas entre os dois e manter a família como um suporte emocional pode ajudar a gerenciar essa dinâmica de forma saudável”, finaliza.