E o amor? Essa matéria é um sinal para você não desistir dele Foto: Pixabay

Mas talvez seja importante modificar suas percepções sobre o que ele representa!

Ah, o amor … Um dos temas mais falados de todos os tempos, e que nos últimos anos tem gerado questionamentos sobre o quão nociva é sua hipervalorização. O Dia dos Namorados já passou, e é nesse período onde o bombardeio afetivo (e comercial) parece estar por toda parte, numa pressão social invisível para que todo mundo tenha um par.

Mas como diz o ditado, a diferença entre remédio e veneno pode estar na dose. Ter uma visão mais realista sobre afetos não significa que você precisa deixar de acreditar neles. A Mente Afiada conversou com duas psicólogas sobre a importância de não desistir dessa emoção.

Amor é fundamental

“Freud disse que é preciso amar para não adoecer. Nosso maior traço como humanos é o desamparo, por isso somos seres grupais, para proteção da espécie. Acreditar no amor traz o sentimento de pertencimento, e em consequência, de proteção. Sendo amados, nos tornamos de certa forma eternos, mesmo que seja na memória de uma única pessoa”, comenta Leninha Wagner, doutora em psicologia. “Acredito que não há sujeito mais forte do que o sujeito amado. Crer no amor, seja da forma que for, sempre será positivo”, completa.

A psicóloga Anne Crunfli, acredita que não vivemos sem afeto. “Atrás de todo extremo há uma dor. Provavelmente, a pessoa que não quer se relacionar, que se compromete com a solidão, não quer fugir do amor, mas sim de alguma dor associada. A grande questão é que, quando a pessoa foge do amor, ela perde também o seu lado bom: a alegria, a cumplicidade, a intimidade, o afeto. E o ser humano é um ser social, que existe na interação com o outro. Portanto, o amor é fundamental. Mas o que muitas pessoas ainda não entendem é que o amor não precisa ser só romântico. Por isso, elas se frustram”, pontua Anne.

Não é como nos filmes!

Leninha comenta que um dos motivos para haver tantas frustrações está justamente na idealização dessa emoção nas artes. “No filme, o casal quase sempre é protagonista, e o resto da vida, coadjuvante. Essa visão é nociva porque no mundo real, amar demanda maturidade, já que múltiplas áreas da vida se desenrolam simultaneamente. Enxergar o amor romântico como grande protagonista é receita para decepções”, explica.

“O dos filmes normalmente se divide entre o que precisa salvar, e o que necessita ser salvo. Essa idealização parece inocente, mas corrói, porque o amor deve ser construído no conhecer, na troca, na empatia, na preservação de um eu individual e de um nós em comum”, afirma Anne.

A psicóloga detalha uma verdade que pode ser dura a princípio, mas um remédio a longo prazo: “Não existe pessoa ideal, não existe herói, não existe um ser responsável por ‘salvar’ outro. Com certeza, toda vez que uma pessoa entrar em uma relação dessa forma, a mesma estará fadada ao fracasso, pois já há uma idealização, um personagem de si, e automaticamente há uma projeção no outro. Não cabe o ser real, imperfeito e cheio de defeitos e limitações, cabe apenas a idealização de perfeição. Para a relação ser saudável, ela precisa ser desprovida de idealismos e caricaturas culturais, de alma gêmea. O amor funcional, é aquele em que ambos possam estar sempre em crescimento, aprendendo e ensinando. Suas vulnerabilidades são bem-vindas e não devem ser escondidas”.

O amor é maravilhoso, mas não essencial

Normalmente, quando se fala em “desistir do amor”, as pessoas estão desabafando sobre desilusões amorosas. Mas, aceitar que, na verdade, o amor está em todo o lugar, e que o amor romântico é ótimo, mas não fundamental, é justamente o que ajudará nos próximos relacionamentos, e o desafio é saber dosar o realismo diante das relações, ao mesmo tempo em que não devemos nos render ao ceticismo total.

“Dar limite também é uma forma de amor, porque é se preocupando com nós mesmos e com a pessoa que amamos, que vivemos em plenitude. Um amor verdadeiro não vai diminuir a autoestima, prejudicar a carreira ou prejudicar suas outras relações de afeto. Se faz mal, não é amor, porque o verdadeiro humaniza. Na psicanálise, dizemos que o amor cura. Por isso, se render a uma decepção e deixar de crer no amor, é tão nocivo quanto ser dependente de uma relação tóxica. O conselho é sempre o amor. Mas antes de amar alguém, se ame, se conheça e se respeite”, finaliza Leninha.

Ambas as profissionais orientam que, tanto para a dependência emocional, quanto para um grande trauma que gerou a descrença no amor, o ideal é buscar pela terapia como uma forma de se fortalecer e lidar com o sofrimento.


Ana Carvalho

Repórter de revista e portal na Editora Alto Astral. Formada em jornalismo em 2022 pela Unip e atualmente pós-graduanda em...