Em meio a rotina conturbada, os momentos a dois podem acabar negligenciados
A vida moderna é agitada. Agitada até demais, muitos irão alertar. Entre diversos papéis sociais no trabalho, na família e até nas redes sociais, um personagem acaba sendo escanteado na vida de diversos casais: o tesão. Rotina, filhos, responsabilidades e até doenças físicas e psíquicas podem atrapalhar o sexo, mas não precisam representar o início do fim do relacionamento. A Malu entrevistou dois especialistas sobre quando isso pode se tornar um problema para o casal e, principalmente, como lidar com ele.
Sem sexo = com crise?
Calma, mais ou menos! Para o terapeuta sexual e Presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual (ABRASEX), Paulo Tessarioli, a falta de sexo e tesão representa, sim, uma crise no relacionamento, mas não pela falta do ato em si. “Sexo, numa relação estável e duradoura, não é só penetração. Sexo é carinho, atenção, cuidado, afeto, querer estar junto. E a falta desse interesse pode, sim, representar uma crise conjugal”, inicia ele.
Já a psicóloga e sexóloga, Marcelle Paganini, vai além. “A falta de sexo e tesão, isoladamente, não é o termômetro para a qualidade do relacionamento, porque ela pode ter diversas causas, como fatores ambientais, de saúde ou emocionais. Fases mais exigentes, como a chegada de filhos, problemas financeiros e desentendimentos por comunicação ineficaz são as mais comuns. A ausência ou baixa frequência sexual deve servir mais como um alerta da falta de sintonia do casal. Pois quem nós não admiramos, não conseguimos desejar e sentir tesão”, complementa.
Mas então, o que fazer?
Você parou para pensar agora e chegou à conclusão de que ainda ama e admira seu/sua parceiro(a), mas ainda não sabe o que poderia fazer para melhorar a vida sexual e aumentar o tesão? O primeiro passo é o diálogo honesto. “Desenvolver a resiliência da relação a dois é fundamental para que ela resista ao tempo. Conversar, a partir da perspectiva de saber o que se passa com o outro é sempre muito bom. Geralmente, apenas isso é o suficiente para que haja mudanças de alinhamento. Estratégias simples, como falar com o outro o que está sentindo, na primeira pessoa do singular ‘eu’, promovem a melhoria da comunicação e o alívio do estresse diário”, comenta Paulo.
E para os casos onde a boa e velha conversa não está sendo o bastante, Marcelle recomenda a busca por um especialista. “A terapia de casal pode ser interessante, para identificar quais são as armadilhas que o casal cai por conta do estresse e cansaço (como desentendimentos recorrentes, questões emocionais dos dois, etc.). Ao identificar, é possível trabalhar estratégias de comunicação e enfrentamento dessas armadilhas. Individualmente, o casal deve trabalhar a flexibilidade de compreender a realidade em que estão inseridos. Em conjunto, cuidar da amizade, serem gentis um com o outro e pensar sempre em atividades que aliviam a pressão, mesmo que momentaneamente”, explica.
Marca na agenda!
A sexóloga comenta que, primeiramente, o sexo deve ocupar um lugar de relaxamento para ambos. “Uma estratégia simples é o casal ter um tempo, mesmo que pouco, para estabelecer conexão emocional. Isso ajuda o cérebro a se acostumar com a sugestão de possivelmente ter relação com aquela pessoa. Outro ponto é trabalhar individualmente os porquês de estarem juntos, alimentando a admiração pela parceria do dia a dia”, aconselha.
Paulo complementa: “Geralmente, o sexo não faz parte das tarefas do casal, e sem que percebam, a expectativa de um se frustra ao notar que isso também acontece com o outro. Da mesma forma que todas as tarefas encontram espaço na agenda, o sexo também precisa encontrar o seu espaço”, afirma. E deixa outra dica: “A tão falada divisão de tarefas domésticas é essencial para a melhora da vida sexual do casal, já que ajuda a gerir o cansaço. O interesse sexual de muitas mulheres melhora a partir do momento em que o homem se mostra proativo nos cuidados com a casa, principalmente quando o casal já tem filhos”.
O gap do orgasmo
Não tem como pensar na melhora da vida sexual do casal sem uma discussão honesta sobre o chamado ‘gap do orgasmo’, como ficou popularmente conhecida a maior dificuldade que mulheres heterossexuais têm em ‘chegar lá’, quando comparadas aos homens heterossexuais. As conclusões foram de um estudo da Universidade de Chapman, em Orange, EUA, com mais de 50 mil pessoas. Nele foi constatado que 95% dos homens entrevistados afirmaram que tinham orgasmos constantemente ou sempre, contra 65% das mulheres afirmando a mesma coisa. E sim, o recorte hétero se faz necessário, pois as entrevistadas lésbicas afirmaram sofrer bem menos com esse problema. “Por conta de múltiplos fatores, dentre eles o sociocultural, os homens são mais influenciados a terem interesse por sexo, e as mulheres, ao contrário, influenciadas a não se interessarem. Logo, se você tem interesse por sexo, é muito mais fácil ter desejo sexual”, explica Paulo.
Portanto, não adianta apenas concluir que a frequência sexual do casal está baixa. A partir dessa conclusão, é essencial que as mulheres se perguntem se estão fazendo na cama o que realmente desejam, e não apenas tentando agradar o parceiro. E principalmente, os homens devem se perguntar: a relação sexual está sendo pensada para os dois, ou somente para você?