O tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o mundo

Figurando como a principal causa de morte evitável no mundo, o cigarro está associado ao surgimento de uma série de alterações em todo o organismo, e não apenas ligadas ao aparelho respiratório. Além dos danos ambientais, econômicos e sociais, o cigarro também pode afetar o corpo todo.

A seguir, um time de especialistas de diversas áreas da saúde explica como o cigarro afeta as estruturas e o funcionamento do organismo.

Os danos ao cérebro ocasionados pelo cigarro

Muitos dos produtos químicos que compõem os cigarros são tóxicos para o cérebro, estando associados diretamente ao declínio mental e à demência. “O acetato de chumbo, por exemplo, é uma das substâncias tóxicas que possuem efeito cumulativo para o organismo, na medida em que o chumbo não é eliminado. Então, há um risco de danos celulares e desenvolvimento de tumores”, explica Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA).

Este mesmo cenário vale também para o fumo passivo. “Por isso, converse com outras pessoas da sua família sobre parar de fumar também. Todos ficarão mais saudáveis se sua casa e seu carro forem protegidos da fumaça do cigarro”, completa o especialista.

Os impactos do cigarro na pele

O tabagismo é um dos principais fatores envolvidos no envelhecimento da pele, favorecendo o surgimento de flacidez, rugas e manchas. “Estudos apontam que o risco de rugas moderadas a graves em fumantes ao longo da vida é mais de duas vezes maior do que em fumantes que haviam fumado por menos tempo”, afirma Roberta Padovan, médica especializada em Dermatologia e Medicina Estética. Esse problema ocorre porque o cigarro contém substâncias tóxicas que causam a vasoconstrição periférica por um período de dez minutos, o que diminui o fluxo sanguíneo para áreas como o tecido cutâneo e cabelos. “Como resultado, podemos notar uma perda de viço e luminosidade da pele, além do amarelamento do tecido e a diminuição da firmeza por conta da oxigenação e nutrição reduzidas”, explica a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Prejuízos aos cabelos

Assim como afeta a pele, o cigarro também pode prejudicar o couro cabeludo e, consequentemente, os fios. Para manter-se saudável e crescer adequadamente, o couro cabeludo precisa de oxigenação e nutrição, que são prejudicadas devido à vasoconstrição provocada pelo cigarro. “Além disso, as substâncias tóxicas contidas no produto chegam ao couro cabeludo pela corrente sanguínea, gerando um quadro inflamatório que torna a região mais suscetível a sofrer com problemas como psoríase, dermatite seborreica, irritação, afinamento e quebra dos fios e até mesmo queda capilar”, alerta Daniel Cassiano, dermatologista da Clínica GRU Saúde e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Fertilidade comprometida

O cigarro é também um dos principais causadores da infertilidade, visto que os componentes tóxicos presentes no produto, como a nicotina e o alcatrão, agridem severamente a qualidade reprodutiva. “Nas mulheres, por exemplo, o tabagismo é capaz de favorecer a deterioração dos óvulos, envelhecendo-os em até dez anos e acelerando o início da menopausa, o que é especialmente prejudicial hoje em dia, quando as mulheres estão querendo engravidar cada vez mais velhas”, afirma Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime. Rosa completa destacando que, nos homens, o hábito de fumar diminui a quantidade de espermatozoides e fragmenta o DNA do esperma, reduzindo assim a capacidade de fecundação, além de também contribuir para a perda do apetite sexual e a disfunção erétil.

Outro ponto é que o tabagismo promove o aparecimento de infecções vaginais. O tabaco diminui o número de lactobacilos. Eles são bactérias de defesa presentes no organismo fundamentais para a flora vaginal, para manter o pH da vagina em um nível normal. “Se não tivermos lactobacilos, há uma chance maior de infecções. A paciente pode começar a ter um corrimento. As vezes até com cheiro, um odor característico, porque há um desvio da flora e isso é considerado uma infecção, uma vaginose”, explica Eloisa Pinho, ginecologista e obstetra da Clínica GRU.

Há ainda um outro problema com relação à lubrificação íntima. “Além do muco normal de uma vagina saudável, a lubrificação que facilita as relações sexuais também pode ficar comprometida. A própria nicotina faz a diminuição do fluxo sanguíneo presente em qualquer órgão. Essa mesma vasoconstrição diminui a produção de secreção por parte das glândulas aí existentes, originando secura vaginal. Assim, a saúde vaginal torna-se mais vulnerável e as relações sexuais podem ser dolorosas”, alerta a ginecologista.

Os perigos para o coração

Não é segredo nenhum que o uso de cigarros também é extremamente prejudicial para o coração. O médico cardiologista e geriatra Juliano Burckhardt, membro titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), explica que, a cada vez que você inala a fumaça do cigarro, sua frequência cardíaca e sua pressão arterial aumentam temporariamente, ou seja, seu coração tem que bater mais forte e mais rápido do que o normal. “Os níveis de colesterol também ficam fora de controle, já que a fumaça do cigarro aumenta os níveis de LDL, ou colesterol ‘ruim’, e de uma gordura no sangue chamada triglicerídeos. Isso faz com que uma placa de gordura se acumule em suas artérias, aumentando o risco de ataques cardíacos”, explica o médico.

Desta forma, parar de fumar é uma excelente maneira de melhorar a saúde cardíaca. “Apenas 20 minutos depois de parar, sua pressão arterial e frequência cardíaca diminuem. Entre duas a três semanas, seu fluxo sanguíneo começa a melhorar. Depois de um ano sem cigarros, a probabilidade de sofrer com alguma doença cardíaca cai pela metade em relação a quando fumava. Depois de cinco anos, o risco é quase o mesmo do que de alguém que nunca acendeu um cigarro”, exalta o médico.

E por falar em fluxo sanguíneo…

A circulação é uma das estruturas que mais sofre com o tabagismo. O cigarro pode causar diversos problemas circulatórios, como arteriosclerose e tromboangeíte obliterante, um distúrbio que afeta as extremidades do corpo. Em ambos os casos, há riscos do enfermo ter que amputar membros, como pernas, pés e mãos.

A cirurgiã vascular Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Ela destaca que a nicotina está ligada à diminuição da espessura dos vasos sanguíneos e o monóxido de carbono reduz a concentração de oxigênio no sangue. “Todo esse processo pode causar complicações para o normal funcionamento dos vasos. Eles ficam mais suscetíveis ao entupimento, podendo levar a processos de trombose, principalmente quando há fatores de risco envolvidos”, alerta Aline.

Processo de recuperação e cicatrização

O tabagismo também é extremamente prejudicial para aqueles que se submeteram ou ainda vão passar por procedimentos estéticos e cirurgias. Existe uma maior incidência de complicações cirúrgicas em pacientes tabagistas devido à vasoconstrição causada pelo cigarro. Alguns dos exemplos mais comuns são trombose pulmonar, infecção, hematoma, necrose de tecidos e problemas com qualidade de cicatriz. A cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery), explica. “Estudos apontam um aumento de até quatro vezes o número de complicações e intercorrências em decorrência do tabagismo. Tanto no aparelho respiratório como risco de necroses e dificuldade de cicatrização da área operada”.

O cigarro também pode causar alterações na nutrição corporal

Por fim, é importante ressaltar que o hábito de fumar é capaz de influenciar até mesmo nos aspectos nutricionais do organismo. “Por atuar no Sistema Nervoso Central, o cigarro causa uma diminuição do apetite, pois afeta a atividade de neurotransmissores que são responsáveis pelo controle da fome, além de alterar o paladar e o olfato, reduzindo o gosto e o aroma dos alimentos”, explica a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). “Além disso, o cigarro promove um efeito termogênico, acelerando o metabolismo, o que leva ao emagrecimento e reduz a oxigenação dos tecidos do organismo, que causa envelhecimento precoce e acelerado”, finaliza.