
Técnica modifica estado de consciência e pode ajudar pacientes com ansiedade ou dependentes de tabagismo
Controlar uma fobia antiga. Descartar de vez um mau hábito. Ou ainda, ter a persistência necessária para alcançar um objetivo até então inatingível, como continuar firme na dieta, fazer uma poupança e evitar compras por impulso. Para aliviar essas tensões e até mesmo se livrar das travas acumuladas ao longo da vida, muitas pessoas têm recorrido à hipnoterapia, um fenômeno neurológico que acontece bem no meio do cérebro e é capaz de deixar a consciência livre de julgamentos para resolver e trazer novos significados a marcas deixadas por emoções vividas no passado.
“Com base em técnicas, levamos o paciente a um estado alterado de consciência para promover as mudanças que ele busca”, ressalta a psicóloga e hipnoterapeuta Karina Peraçoli Marcuci. O autoconhecimento é um dos principais benefícios da hipnose, já que a pessoa consegue respostas sobre seu perfil de comportamento.
“Durante a sessão, promovemos um leve rebaixamento da consciência. O paciente tem total controle da situação, já que a hipnose é intencional, não forçada. Esse rebaixamento é para que a pessoa tenha menos o seu fator crítico atuante, o qual é cheio de ‘nãos’, que acabam dirigindo e impedindo o sujeito de mudar”, explica a hipnóloga.
Tabagismo e ansiedade
A hipnoterapia traz à tona os motivos que moldam as reações das pessoas perante as várias situações vividas no dia a dia. O comportamento durante uma discussão, por exemplo, é determinado por emoções passadas e registradas pelo cérebro. “A hipnose investiga essas emoções que foram guardadas exatamente como e quando aconteceram, porque são elas que nos motivam a agir da forma como agimos”, acrescenta Marcuci.
Os conselhos federais de Medicina e de Psicologia já reconhecem a hipnose como ferramenta no tratamento de dores crônicas. Há estudos que comprovam sua eficácia contra o tabagismo, a ansiedade, a depressão e outros transtornos psíquicos. Atualmente no Brasil, 5,8% da população sofre de depressão, que afeta um total de 11,5 milhões de pessoas.
Estado natural
Quem já não passou pela experiência de estar no carro dirigindo e, ao se dar conta, sequer percebeu o caminho percorrido? Momentos como esse são mais comuns do que se possa imaginar, afinal, a pessoa está em seu estado de hipnose, que pode ocorrer várias vezes ao dia. O mesmo pode acontecer quando lemos um livro e nos emocionamos, esquecendo o mundo externo.
“Hipnose é um estado natural da consciência que também pode ser induzido em consultório. E o trabalho tem foco no problema a ser resolvido, naquilo que provoca desconforto. Portanto, quem decide o que quer cuidar é a própria pessoa”, explica a hipnóloga Karina Marcuci. Em geral, a hipnoterapia é procurada para aliviar os sintomas da depressão, ansiedade e estresse.
História real
Em muitos casos, resolver o sofrimento do paciente não é tão complexo quanto parece. A hipnóloga Karina Marcuci conta que, em média, três sessões são suficientes para concluir o tratamento. Foi o que aconteceu com um paciente seu, que chegou ao consultório com queixa de ansiedade. Durante a hipnoterapia, ele conseguiu relatar que, aos 3 anos de idade, viveu uma situação de medo e impotência.
“Essa pessoa, criança na época, esteve num ambiente fechado com um inseto, possivelmente uma barata. Como não alcançava a porta para sair, seu cérebro registrou uma emoção de muito medo, que a paralisa até hoje diante de situações em que perde o controle. É o que explica sua ansiedade hoje. Na época, a mente dele não estava preparada para lidar com essa situação”, diz a especialista.
A hipnóloga explica que o cérebro guarda o que aconteceu, preservando o momento e a vivência do fato. “A experiência fica ali, armazenada. Ainda que não nos lembremos, vai emergir no momento oportuno e se manifestar como uma trava, determinando nossas reações”. Para a hipnoterapia ser eficaz, é preciso que o paciente esteja realmente disposto a organizar sua bagagem interior. Aliás, é a primeira porta de acesso para rever conteúdos e resolver as travas acumuladas ao longo da vida.
Edição: Fernanda Villas Bôas