Ortopedista explica por que as mulheres são mais propensas a sofrer com lesões no joelho
Você certamente já deve ter ouvido falar de várias pessoas que sofreram com lesões no joelho, especialmente quando são fisicamente ativas – apesar de não ser um risco restrito a quem pratica atividade física. Independente do gênero, o joelho é uma das estruturas mais afetadas por lesões. “Isso porque é uma articulação grande, complexa e responsável pela sustentação do corpo e pela absorção de impacto, sendo muito demandada durante a movimentação”, explica Marcos Cortelazo, ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
Elas são mais afetadas
Ao analisar o número de casos entre os gêneros masculino e feminino, percebemos que os ferimentos nesta região afetam mais as mulheres. Aquelas que realizam atividades físicas ou modalidades esportivas, por exemplo, têm entre 50 a 100% a mais de probabilidade de sofrer alguma lesão no joelho, em comparação com o homem.
“Essa diferença está ligada principalmente a fatores como anatomia, questões hormonais e de cotidiano. Por isso, as mulheres devem tomar cuidado redobrado com a saúde dessa articulação”, aponta.
Exemplos no esporte
Para ilustrar esse ponto, vale lembrar que durante os preparativos para a Copa do Mundo de Futebol Feminino realizada na França, em 2019, constatou-se que 17 das 39 jogadoras da seleção feminina brasileira já haviam enfrentado esse tipo de lesão. Além disso, quatro atletas haviam sofrido lesões em ambos os joelhos.
Mesmo as jogadoras mais renomadas não estão imunes a essas lesões. Um exemplo é Marta, considerada a maior jogadora brasileira de todos os tempos, que sofreu uma lesão no joelho esquerdo aos 36 anos no final de março de 2022, resultando em sua ausência na Copa América do mesmo ano. Catarina Macario, outra atleta de destaque, que é brasileira naturalizada norte-americana, também enfrentou a mesma lesão em junho. A jogadora alemã Dzsenifer Marozsán precisou passar por cirurgia em maio devido a esse tipo de contusão, enquanto a espanhola Alexia Putellas sofreu um ferimento semelhante em julho, poucos dias antes do início da Eurocopa.
Fatores de risco
MALU elencou alguns dos motivos que podem favorecer o surgimento de problemas como lesões do ligamento do joelho, condromalácia patelar e até artrite e artrose.
- Anatomia: Homens e mulheres têm anatomias diferentes. “De maneira geral, as mulheres possuem uma bacia mais larga (ginecóide), tendem a ter joelhos valgos (arqueados para dentro) e apresentam um ângulo do quadríceps maior. Esses fatores causam alterações biomecânicas e de alinhamento, especialmente nos membros inferiores, aumentando assim a suscetibilidade das mulheres de sofrerem com condições como a condromalácia patelar, caracterizada pelo amolecimento da cartilagem da patela”, esclarece o ortopedista.
- Ciclo Menstrual: As mudanças hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual possuem impacto significativo nas articulações, o que faz com que a mulher seja mais ou menos propensa a lesões dependendo da fase do ciclo em que se encontra. “As articulações, assim como as cartilagens que as protegem, possuem receptores de estrogênio, hormônio que contribui para a manutenção da saúde dessas estruturas. Logo, quando os níveis de estrogênio sofrem alterações durante o ciclo menstrual, essas estruturas tornam-se mais frágeis. Pode ocorrer uma maior frouxidão dos ligamentos, o que favorece, por exemplo, a ocorrência de lesões do ligamento cruzado anterior (LCA)”, afirma o médico.
- Menopausa: A menopausa é outro fator na vida das mulheres que influencia a saúde das articulações, justamente por causar alterações hormonais. “Conforme a produção hormonal é alterada na menopausa e os níveis de estrogênio diminuem, as articulações ficam mais inflamadas, o que causa dor em regiões como mãos, joelhos e ombros, e favorece o surgimento de condições como a artrite e artrose”, acrescenta Cortelazo, que ainda afirma que essa alteração hormonal que ocorre na menopausa também favorece a perda da massa óssea, levando à osteoporose e, consequentemente, aumentando o risco de fraturas e lesões no joelho.
O problema do salto alto
Os saltos fazem parte do guarda-roupa de praticamente toda mulher, é inegável. No entanto, além da lista citada acima, o uso excessivo desses calçados pode prejudicar a saúde dos joelhos. “Ao usar um salto alto, a distribuição do peso ao caminhar é alterada. Ela acaba se concentrando no joelho, o que acaba exigindo mais da articulação da região, favorecendo assim o desgaste, principalmente, da cartilagem da patela. Como resultado, há aumento do risco de condições como a condromalácia patelar e a artrose”, explica o médico.
Cuidados preventivos
Mas, então o que fazer para prevenir o surgimento dessas lesões? Depende do caso. Em relação ao salto alto, o especialista orienta que a solução pode ser simples. “O ideal é evitar o uso desse tipo de calçado quando possível. Quando não, optar por opções com saltos mais baixos e bicos mais largos”, aconselha.
A realidade é que a maior parte desses fatores não pode ser modificada ou revertida, pois são características inatas das mulheres. No entanto, você pode tomar alguns cuidados gerais para preservar a saúde do joelho por mais tempo e prevenir problemas mais sérios. Algumas dessas atividades incluem realizar alongamentos, manter o controle do peso, adotar uma alimentação balanceada e praticar exercícios de fortalecimento muscular. É bom também evitar a sobrecarga nos treinos e realizar os movimentos com técnicas adequadas e devidamente adaptadas para as características femininas. O ortopedista sugere que, especificamente no caso da menopausa, um ginecologista deve avaliar cada caso para indicar a reposição hormonal.
Além disso, o médico deixa um alerta. “Ao menor sinal de dor, inchaço ou dificuldade de movimentar o joelho, é imprescindível buscar ajuda de um ortopedista para receber o diagnóstico e tratamento adequado”.