
O som do talher raspando no prato. Alguém mastigando chiclete com a boca aberta. Ou o simples bater rítmico de uma caneta sobre a mesa. Para algumas pessoas, ruídos comuns como esses podem ser mais do que apenas incômodos: são verdadeiros gatilhos de ansiedade, irritação ou até dor física. Essa hipersensibilidade auditiva pode estar associada a duas condições ainda pouco discutidas: a hiperacusia e a misofonia.
O que é misofonia e hipercausia
Segundo o médico otorrinolaringologista Dr. Bruno Borges de Carvalho Barros, esses distúrbios não estão relacionados à perda de audição. Mas sim a uma amplificação anormal da percepção sonora pelo cérebro. “A hiperacusia é quando o paciente sente dor ou desconforto intenso com sons que para a maioria das pessoas são toleráveis. Já a misofonia envolve uma reação emocional forte, como raiva ou angústia, geralmente provocada por sons específicos, como respiração, mastigação ou repetição de palavras”, explica o especialista.
Essas condições afetam a qualidade de vida e, em muitos casos, são confundidas com intolerância ou exagero emocional. “É importante entender que há uma disfunção real no processamento auditivo central. O cérebro dessas pessoas não filtra os sons da mesma forma e responde de maneira exacerbada a estímulos banais”, ressalta o otorrino.
Principais causas e diagnóstico
Dr. Bruno aponta ainda que estresse crônico, ansiedade, depressão e até traumas auditivos prévios podem agravar ou desencadear esses distúrbios. “Pacientes com hiperacusia, por exemplo, muitas vezes relatam que passaram a sentir dor ao ouvir sons depois de uma infecção viral, exposição a ruídos intensos ou estresse prolongado”, completa.
O diagnóstico envolve uma avaliação clínica criteriosa, com exclusão de outras causas auditivas e, em alguns casos, testes específicos de tolerância a sons. O tratamento pode incluir terapia sonora, acompanhamento psicológico e reeducação auditiva, além de estratégias para controle do estresse.
“O mais importante é que o paciente saiba que não está exagerando ou sendo ‘fresco’. Há explicações neurológicas para essas reações, e procurar ajuda médica é o primeiro passo para melhorar a convivência com os sons do dia a dia”, finaliza Dr. Bruno.