
No Dia do Trabalhador, a comunicadora Giovanna Mel trouxe à tona uma discussão sobre saúde mental no ambiente profissional, com foco na prevenção do burnout e no papel da comunicação assertiva na gestão de limites. Em entrevista, ela compartilhou experiências pessoais de esgotamento e alertou para os sinais que costumam anteceder quadros mais graves.
Uma escolha contra si
“Burnout é uma escolha. Não é uma escolha simples. Mas é uma escolha. A escolha de não dormir, de aceitar tudo, de ultrapassar limites que você sabe que existem”, afirmou. “E eu posso falar com propriedade: já tive burnout. Mais de uma vez. E todas as vezes… eu escolhi. Escolhi trabalhar demais, assumir mais do que dava conta, ignorar os sinais.”
Segundo Giovanna, a comunicação assertiva é uma das ferramentas mais eficazes para evitar esse tipo de desgaste. “Por definição, é a capacidade de se expressar entendendo o próprio espaço e o espaço do outro. Não é ser grosso, direto a qualquer custo ou sair dizendo ‘não’ pra tudo. É saber o que dizer, como dizer e quando dizer — respeitando a si mesmo e o ambiente onde está.”
Ela observa que a dificuldade em dizer “não” está por trás de muitos casos de sobrecarga. “Muita gente aceita tudo não por escolha, mas por falta de coragem. Aceita tudo pra agradar. E quem vive pra agradar, adoece. Quem domina a comunicação assertiva deixa claro o que aceita, o que não aceita e o que não vai tolerar. E quem deixa claro desde o início, não precisa se esgotar tentando ‘provar’ depois.”
Dizer “não” é uma forma de se proteger
A comunicadora também explicou como a falta de posicionamento no ambiente de trabalho pode se refletir fisicamente. “A dificuldade de se posicionar é uma das primeiras rachaduras no seu limite emocional. E o corpo avisa: queda de energia, alteração de humor, sensação constante de dívida com todo mundo. São sinais que, ignorados, podem evoluir para quadros mais graves.”
Entre os exemplos que ela cita, estão aceitar demandas excessivas, prazos sem negociação e tolerar desrespeitos em silêncio. “Não é só sobre o que te pedem. É sobre o que você aceita calado. E, muitas vezes, quem está calado, está se traindo em nome de uma falsa paz.”
Para quem já se sente sobrecarregado, mas tem receio de comunicar isso à liderança, Giovanna orienta: “Seu trabalho não é agradar. É entregar resultado com inteligência. Se a carga de trabalho está além do razoável, comunicar isso não é reclamação: é gestão de risco pessoal e profissional.”
A dica, segundo ela, é apresentar fatos com objetividade. “Comece observando os sinais: cansaço desproporcional, irritabilidade, queda de performance. Apresente números, prazos, impactos. Não dramatize. Argumente. Quem fala com clareza, se impõe sem gritar.”
A N1 é essencial
Ela também ressaltou a importância da nova versão da NR-1, que passa a valer em 2026, e que exige das empresas medidas para prevenção de riscos psicossociais. “Comunicar limites e cuidar da sua saúde mental deixou de ser apenas escolha individual. É uma pauta estratégica de sobrevivência dentro das empresas.”
Giovanna ainda comentou como a busca por uma comunicação “perfeita” pode ser um fator de estresse adicional. “A busca pela comunicação ‘perfeita’ é a armadilha do inseguro. E a insegurança é prima-irmã da exaustão emocional. Comunicação boa não é a que parece bonita: é a que entrega a mensagem com impacto e precisão. Quem busca excelência cresce. Quem busca perfeição adoece. E, aliás: às vezes, o erro mais grave é não falar nada.”
Por fim, ela destacou o papel das lideranças na prevenção do burnout nas equipes. “A culpa não é do líder. Mas um líder mal treinado pode ser, sim, um estressor. E vai pagar o preço. Vai perder os melhores do time, vai perder resultado, e vai ficar sem entender por quê.”
Ela conclui reforçando o objetivo da NR-1 como um chamado à responsabilidade. “Ela não é licença para vitimismo. Não é desculpa pra mimimi. É um chamado à responsabilidade — individual e coletiva. Quem lidera precisa de visão. E isso inclui enxergar o impacto da sua comunicação — e da sua omissão.”