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Especialista alerta para os impactos da sobrecarga emocional e defende que escolas criem espaços de escuta e apoio para preservar a saúde mental dos educadores
Com a chegada do fim do ano letivo, cresce o número de professores que enfrentam esgotamento mental, resultado da soma entre excesso de demandas, pressão por resultados, acúmulo burocrático e falta de reconhecimento. A reta final é marcada por prazos, avaliações e a necessidade de manter o engajamento dos alunos. Isso acaba intensificando o estresse e pode levar a sinais de burnout, como cansaço extremo, irritabilidade e perda de motivação. Mais do que uma questão individual, o problema tem se mostrado estrutural e exige atenção urgente das instituições de ensino.
De acordo com Priscilla Montes, educadora, especialista em Neuroeducação e Desenvolvimento Infantil, o fim do ano é um período especialmente sensível para os docentes. “Quando o professor adoece, a escola inteira perde voz. O esgotamento docente não é falta de vocação — é excesso de exigência sem rede de apoio”.
Burnout: um problema que vai além da sala de aula
A preocupação com o esgotamento não é restrita ao ambiente escolar. Segundo o Panorama do Bem-Estar Corporativo 2026, feito pela plataforma de bem-estar corporativo Wellhub, mais de oito em cada dez brasileiros (86%) relataram ter experimentado sintomas de burnout no último ano, índice que chega a 90% globalmente. Quase quatro em cada dez (39%) afirmam sentir esses sintomas pelo menos uma vez por semana, evidenciando um quadro de tensão contínua. O levantamento também mostra que, em 2025, apenas 54% dos entrevistados globalmente avaliaram seu bem-estar como bom ou ótimo, uma queda em relação aos 63% de 2024. O bem-estar mental recuou de 57% para 54%, enquanto o bem-estar físico se manteve estável em 54%.
Para reverter esse cenário, é fundamental que as escolas promovam políticas internas de bem-estar e acolhimento. Espaços de escuta, programas de apoio psicológico, maior diálogo entre gestores e professores e uma comunicação transparente com as famílias podem reduzir significativamente o nível de estresse e fortalecer o senso de pertencimento da equipe docente.
Reconhecimento e valorização
Segundo a educadora, reconhecer o esforço dos professores e valorizar o trabalho pedagógico faz diferença direta na motivação e na saúde emocional. “Cuidar da saúde mental de quem ensina é uma estratégia pedagógica, o bem-estar do professor é o alicerce da aprendizagem dos alunos. Em meio a metas e cobranças, seguimos ignorando o óbvio: a aprendizagem desaba quando o ambiente que acolhe o professor adoece.”
Mais do que nunca, discutir a saúde mental docente é discutir a qualidade da educação. O bem-estar do professor é o alicerce de um ambiente escolar mais humano, produtivo e saudável, condição indispensável para o aprendizado e para o desenvolvimento integral dos estudantes.