A busca urgente por resultados estéticos no fim do ano acentua frustrações emocionais e coloca em risco a saúde física e mental
À medida que o fim do ano se aproxima, cresce a pressão para transformar o corpo rapidamente. Redes sociais, padrões estéticos rígidos e a sensação de “última chance” antes do verão alimentam a ideia de que é possível mudar tudo em uma semana. Nataly Martinelli, psicóloga e autora da série Enfrentando com Coragem, ela publicou os livros Frustrações: Enfrentando com Coragem e Fobia: Enfrentando com Coragem e prepara para o próximo ano, o lançamento de Famílias: Enfrentando com Coragem, todos pela editora Alta Life, alerta que essa busca não só é ineficaz, como perigosa para a saúde física e emocional.
Segundo projeções da Fiocruz, até 2044 cerca de 48% dos adultos brasileiros poderão viver com obesidade, enquanto, já em 2030, o índice pode chegar a 24,5%. Esses números mostram que mudanças reais não podem ser tratadas como ações de impacto rápido — muito menos como promessas de “perder 10 quilos em sete dias”. A obesidade exige acompanhamento profissional, planejamento gradual e orientação adequada.
Quando o corpo vira prazo: a escalada da frustração

No fim do ano, a promessa de transformação rápida se intensifica e traz efeitos contrários. Metas irreais exigem mudanças bruscas na alimentação, no sono e na rotina de treinos, exigências que o corpo não consegue assimilar com segurança. O resultado aparece em forma de lesões, fadiga, desregulação hormonal e episódios de compulsão alimentar.
Emocionalmente, o impacto é ainda mais silencioso. A sensação de insuficiência cresce quando o corpo não responde na velocidade desejada, reforçando autocobrança e comparação. Para Nataly, a frustração surge da incompatibilidade entre o tempo real do corpo e a pressa imposta por padrões externos.
“A urgência sustenta a fantasia de que tudo deve ser resolvido rapidamente. Quando o corpo não acompanha esse ritmo, interpretamos isso como inadequação. É assim que a autocobrança se instala”, explica. Para ela, a mudança verdadeira nasce da consciência, não da punição.
A história de Elisa: quando a comida vira afeto
Em um dos capítulos do livro Frustrações: Enfrentando com Coragem, Nataly apresenta a história de Elisa, cuja relação com a comida nasceu na infância marcada por privações emocionais e parentificação. A comida funcionava como acolhimento, e, na vida adulta, mesmo após se tornar chef de sucesso, a compulsão persistiu como forma de preencher lacunas antigas. Durante a gestação, esse padrão se intensificou. “O comportamento é a linguagem das frustrações que não conseguimos expressar”, afirma a autora, reforçando que compreender essas raízes é essencial para interromper padrões que ferem.
Caminhos para um emagrecimento saudável
Reflita sobre os motivos
Entender por que o processo começou reduz a urgência e ajusta expectativas. “Quando você identifica o que te move, age por consciência, não por pressa”, reforça Nataly.
Valorize pequenas conquistas
Mudanças consistentes surgem da soma de pequenos avanços. Celebrar o mínimo fortalece a motivação e evita a sensação de fracasso.
Evite extremos e comparações
Dietas radicais, treinos exaustivos e comparações desgastam e criam inadequação. “O corpo não responde à comparação; responde ao cuidado”, lembra a psicóloga.
Busque apoio psicológico
Relações com comida e corpo frequentemente têm raízes emocionais profundas. O acompanhamento oferece ferramentas para lidar com gatilhos e ressignificar comportamentos.
Conte com equipe multidisciplinar
Nutricionistas, educadores físicos, médicos e psicólogos garantem uma jornada segura e menos solitária. “O excesso de responsabilidade individual adoece; o cuidado compartilhado organiza”, diz Nataly.
Estabeleça metas realistas
Objetivos inalcançáveis geram frustração. Metas possíveis mantêm o vínculo com o processo e reduzem a ansiedade.
Sustente um plano contínuo, não sazonal
Saúde não depende de um feriado ou de uma estação. Constância transforma hábitos. “Quando o cuidado é diário, o corpo deixa de ser projeto e passa a ser casa”, afirma a autora.
Uma virada de ano mais gentil
Reconhecer que mudanças profundas dependem de continuidade e não de pressa é um ato de coragem. Cada pessoa tem seu tempo, sua história emocional e suas condições reais. Comparações perdem força quando entendemos que saúde física e emocional não se constroem em sete dias.
A mensagem final é clara: a busca por saúde deve caminhar junto com o respeito — ao corpo, ao tempo e às próprias fragilidades. A virada do ano pode ser menos sobre cobrança estética e mais sobre presença. A jornada começa quando trocamos a urgência pela coragem de sustentar processos que acolhem em vez de punir.