Produtivismo e burnout andam lado a lado Nossa sociedade está focada em dar tudo de si no trabalho, priorizando o produtivismo, mas é a nossa saúde que sai perdendo

Nossa sociedade está focada em dar tudo de si no trabalho, mas é a nossa saúde que sai perdendo

Horas extras, metas a serem batidas, projetos novos, milhares de demandas que tem uma certa “urgência”, entre outros pontos que nos mostram que vivemos em uma sociedade que precisa dar 200% no seu trabalho e no produtivismo. Já dizia aquela famosa frase das redes sociais: “Trabalhem enquanto eles dormem”. Mas então você não deve descansar também?

No livro Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho (Editora Atlas), Christophe Dejours, francês considerado o pai da psicodinâmica do trabalho, pontua que nós, seres humanos, temos metas, percepções, pensamentos, emoções e ações que são individuais, mas quando o trabalho se torna fonte de tensão e de insatisfação, dá origem ao sofrimento e à patologia.

Produz, produz, produz, produz…

Para a Dra. Denise Pará Diniz, especialista em gerenciamento do estresse voltado à saúde e ao trabalho e psicóloga credenciada Omint, nossa sociedade ficou assim após diversas mensagens de ação produtiva e a ideia de que todas as metas são alcançáveis. “Se éramos proibidos a algo, hoje somos incentivados, ou seja, aparece a ideia de que sempre podemos alcançar uma versão melhor de nós mesmos. O que implica em sempre tentar conseguir atingir uma meta maior, baseada em autoexigências e/ou, muitas vezes, exigências do ambiente”, pontua.

Os efeitos da sobrecarga

Nosso corpo e nossa mente sentem quando estamos negligenciando o descanso e focando no produtivismo. O Burnout, segundo Denise, é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes. “Excesso de trabalho com jornadas exaustivas; contexto com muita competitividade; que pode estar sofrendo de pressão psicológica; ou que também pode se impor ou estar sob pressão para atingir metas abusivas. Enfim, viver em situações de alto nível de estresse podem desencadear o início da doença.”

Sintomas

Os principais sinais e sintomas físicos e psicológicos que podem indicar a Síndrome de Burnout são:

  • Alterações no apetite e repentinas de humor;
  • Cansaço excessivo, físico e mental;
  • Dificuldades de concentração;
  • Dores difusas, tais como dores de cabeça;
  • Insônia e isolamento;
  • Negatividade constante;
  • Sentimentos de derrota, desesperança, fracasso, insegurança e incompetência.

Quebrando o ciclo!

A especialista oferece dicas para as empresas e para os profissionais quebrarem o ciclo do produtivismo e valorizarem o bem-estar.

Dicas para trabalhadores

  • “Importante: é fundamental manter o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas.”
  • Tente definir pequenos objetivos na vida profissional e pessoal;
  • Participe de atividades de lazer com amigos e familiares;
  • Permita-se descansar, sair da rotina, passear, comer em restaurante ou ir ao cinema;
  • Converse com alguém de confiança sobre o que se está sentindo;
  • Faça atividades físicas regulares. Pode ser a atividade que mais gostar: academia, caminhada, corrida, bicicleta, tênis, natação, etc.;
  • Mantenha alimentação saudável;
  • Cuidado com o uso excessivo de álcool;
  • Não se automedique, nem tome remédios sem prescrição médica.

Dicas para empresas

  • Ações preventivas e proativas para evitar problemas de saúde, incluindo estímulo ao bem-estar no local de trabalho. Isso pode contribuir significativamente para redução de doenças ocupacionais;
  • Liderança empática atenta aos colaboradores.

Tem tratamento!

A Dra. Denise explica que um profissional de saúde mental (psicólogo, psiquiatra, neurologista) é capaz de determinar a Síndrome de Burnout e estabelecer um tratamento, mas a pessoa que está sofrendo precisa reconhecer que tem que procurar ajuda. “É muito importante que haja observação e participação de gestores do próprio ambiente do trabalho e/ou ainda, de amigos e familiares. Isso porque, muitas vezes, a própria pessoa não reconhece que necessita de tratamento. Em dependência do diagnóstico, o tratamento costuma ser medicamentoso e comportamental (psicoterapia), e deve ser realizado por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar”, finaliza a psicóloga