A força do balé clássico

Apesar da beleza e sutileza, dança exige rotina de atletas, beneficiando o corpo de diversas formas

O balé clássico é um estilo de dança caracterizado pela beleza e sutileza que transmite. Porém, os artistas que praticam este tipo de dança acabam, muitas vezes, tendo que ter um desempenho digno de atletas, já que a dança exige do corpo posições desconfortáveis e até mesmo anti-fisiológicas. O resultado disto pode ser visto na força desenvolvida na musculatura e articulações.

Ainda, a dança, que surgiu no século XVI como forma de entreter a nobreza europeia, hoje já é utilizada até mesmo por atletas profissionais para aperfeiçoar a flexibilidade e técnicas corporais, a exemplo do que foi divulgado em 2020, quando  atletas olímpicos de Tóquio  utilizaram o balé para aquecimento e melhora do corpo e práticas profissionais.

Em relação à saúde, estudos já demonstraram que a prática do balé pode beneficiar o sistema cardiovascular e respiratório, tendo em vista que o exercício físico não é benéfico somente para a força muscular, como também para manter a densidade dos ossos, o controle da pressão arterial, do peso e de outros fatores que contribuem para melhora da saúde e para o bem-estar do corpo como um todo.

Alguns elementos que garantem a boa postura no balé

  • Os pés devem suportar o peso do corpo do bailarino e o arco do pé deve ser estimulado para cima
  • O quadril é a base para uma perfeita colocação postural, por isso é essencial fortalecer os músculos glúteos e abdominais além de promover o alongamento do quadríceps;
  • Posicionar as escápulas inferiormente, retrair os ombros, e contrair os músculos oblíquos do abdômen para manutenção da postura;
  • Os braços devem estar arredondados e o cotovelo é o ponto mais importante, pois suspende o braço e conduz os movimentos.

Fonte: A postura corporal e o balé clássico: uma revisão. Meereis et Al. (2009). Grupo de estudos e pesquisas em equilíbrio e reabilitação vestibular – GEPERV. 

Entretanto, apesar dos benefícios, é preciso atenção, tendo em vista que esta dança, por exigir grande esforço corporal, também pode causar lesões. As mais comuns, segundo pesquisadores,  são a lordose lombar, a hiperlordose e a  hipercifose cervical. Ainda, lesões nas articulações do joelho, no fêmur e na articulação dos calcanhares também se fazem muito presentes em profissionais de balé clássico.

Desta forma, é necessário atenção e cuidado redobrado com o corpo. Alongamentos, acompanhamento com fisioterapeuta e todos os outros métodos utilizados pelos atletas profissionais de outros esportes são bem-vindos.

Uma história de sucesso

O bailarino brasileiro Thiago Soares  começou sua carreira em uma escola de circo, em uma comunidade no Rio de Janeiro e, hoje, é um dos dançarinos mais premiados do mundo. “Eu tive uma boa aproximação com o circo por causa de professores e pessoas que treinavam a arte e colaboraram com o grupo de Street Dance que eu treinava. Basicamente, fiz uma iniciação com essa equipe. Foi incrível porque na arte circense você aprende atuação, acrobacias, coisas extraordinárias. De alguma forma, foi algo que acrescentou no meu repertório corporal de memórias, sem dúvidas”, revela.

Desde então, Thiago não parou e alcançou conquistas cada vez maiores em sua carreira, chegando às grandes companhias de dança no exterior, como a Royal Ballet de Londres, no Reino Unido, onde foi muito reconhecido e teve a oportunidade de ser recebido pessoalmente pela própria Rainha Elizabeth II. “Eu me considero um artista bastante premiado para a minha trajetória. Ganhei prêmios que nunca imaginei e me sinto muito honrado e privilegiado. No Brasil, tive a sorte de ter alguma visibilidade, mas tive muita atenção na Europa. Meus sonhos se tornaram realidade fora do Brasil. Na Europa, fui recebido por líderes políticos e pessoas ilustres como a Rainha Elizabeth II. Tive muita visibilidade em eventos, matérias, catálogos e editoriais”, conta.

Porém, Thiago afirma que não há o mesmo reconhecimento para bailarinos no Brasil. “No Brasil, não tive o mesmo impacto, mas não me sinto ferido por isso. O coração segue batendo forte como um bom artista brasileiro ´jogadão´ nesse mundo”.

Da Capoeira ao Balé Clássico

“Eu sou um artista de dança clássica, mas tenho no meu repertório, desde o começo, um dançarino de danças urbanas como o street dance. Tenho também em mim um capoeirista e um bailarino de dança contemporânea como algumas obras importantes que já fiz. Treino todos os dias o balé clássico e outras danças que coreógrafos me trazem. Gosto muito dos balés neoclássicos, em que usam o repertório clássico e de alguma forma contam-se histórias mais modernas, podendo se expressar sem a formalidade do clássico tradicional e antigo. Hoje em dia, inclusive na minha próxima turnê, tenho explorado outros ritmos, danças que precisam de outras técnicas e até mesmo inventadas, técnicas em que você desenvolve uma maneira diferente de se mover”, conta.

Culto ao corpo

Sobre a saúde corporal, ele revela que tenta se cuidar bastante. “Hoje sou um artista que não é mais um menino, então eu tento me cuidar mais. Não bebo muito, tento não exagerar no açúcar, treinar e fazer fisioterapia. Dar ao corpo o combustível que ele precisa. O corpo é uma máquina muito poderosa e generosa. Se você dá a disciplina, o carinho e o combustível que ele precisa, ele te devolve. Acredito muito no corpo, no culto ao corpo, na nossa máquina que é a mais importante e relevante que temos. Então acho que é se alimentar da melhor maneira e ter disciplina, mas sem ser cruel, atendendo aos seus objetivos. Mas que você consiga viver sem uma opressão alimentar”, completa.