O luto pela morte de um ídolo é frequentemente tratado com descaso, ou até ridicularizado pela sociedade. Porém, a dor de perder uma figura que, para muitos, foi uma companhia emocional durante anos é legítima e profunda. Segundo a psicóloga Natália Aguilar, esse tipo de perda se encaixa nos chamados lutos não reconhecidos. “São lutos que são minimizados pela sociedade, que não são vistos, que não são reconhecidos mesmo”, explica a especialista.
Nós presenciamos, recentemente, a dor de muitos fãs ao redor do mundo quando Liam Payne, ex-integrante do One Direction, faleceu. Os fãs do artista expressaram sua dor, que para muitos, parecia incompreensível. No entanto, para esses jovens, o luto foi real e necessário.
Uma relação complexa
A relação de fãs com seus ídolos, mesmo sem uma conexão pessoal direta, é significativa e complexa. “Ainda que esse ídolo nem saiba da existência desse fã, ele sabe que existem coletivos de fãs que gostam dele, que o idolatram, que o seguem”, comenta a psicóloga. Assim, o vínculo entre fã e ídolo não é trivial, muito pelo contrário, ele surge da busca constante por proximidade, seja indo a shows ou acompanhando cada passo dessa pessoa nas redes sociais.
O luto pelo ídolo dói como se fosse um parente ou amigo
Natália explica que a experiência do luto por um ídolo pode ser, inclusive, comparada ao luto por uma pessoa próxima, como um amigo ou um familiar. Muitas vezes, as letras de uma canção ou as cenas de um filme de um ator favorito oferecem mais consolo e compreensão que suas relações próximas. “Quando se perde esse vínculo, o fã sente como se uma parte importante de sua história pessoal tivesse sido arrancada.”
Sentimentos comuns
A psicóloga pontua que os sentimentos experimentados pelos fãs ao perderem um ídolo variam, mas tristeza e a necessidade de um momento de despedida são comuns. “Muitas vezes, esses lutos públicos são essenciais para os fãs elaborarem sua dor. É importante que eles tenham um momento de despedida, porque eles vão ali prestar a última homenagem, eles vão de fato se despedir”, explica.
Além disso, em muitos casos, o luto por um ídolo se torna um momento de introspecção para os fãs. “Esse é o momento em que eles começam a revisitar memórias e a entender a importância daquele artista em suas próprias vidas. Para um fã que encontra conforto na música ou na arte de seu ídolo, ver a sociedade invalidar esse luto só aprofunda a dor. Esse luto não é uma besteira, não é uma bobagem. Às vezes o ídolo é a pessoa mais próxima que esse fã tem na vida”, destaca a especialista.
Redes sociais: inimigas e aliadas
As redes sociais, de acordo com Natália, amplificam essas emoções, tanto positiva quanto negativamente. Por um lado, permitem que os fãs se conectem, compartilhem suas lembranças e sintam-se apoiados em sua dor. Por outro, as redes também podem ser cruéis, expondo esses sentimentos à ridicularização. “Nas redes sociais, você pode encontrar pessoas que se identifiquem com o seu momento de luto… mas também pode encontrar os haters, que vão cascar o verbo dizendo que é absurdo”, lembra a psicóloga.
É fundamental que a sociedade valide o luto dos fãs. Se essa dor não é acolhida, os efeitos psicológicos podem se estender por anos, levando ao isolamento e à ansiedade. “A tendência é eu acreditar que não posso contar com as pessoas, então vou me fechando mais”, explica a especialista.
Como lidar com o luto pelo ídolo?
Para lidar com o luto de maneira saudável, a psicóloga sugere estratégias simples, como criar um memorial ou até escrever uma carta de despedida. “O mais importante é se permitir o espaço para viver a morte desse ídolo que foi tão importante”, orienta a especialista.
Para sempre
Por fim, a dor de perder um ídolo pode marcar de forma duradoura os fãs, especialmente os mais jovens. “O sofrimento é daquela pessoa que sofre. Não somos nós que temos que dizer que aquilo é besteira. Porque se aquela pessoa está dizendo que ela está sentindo, então é ela que tem que dizer, o sentimento é do sentidor”, finaliza Natália.