O que define um serial killer? Foto: Pixabay

Uma das maiores dúvidas, principalmente para os brasileiros, já que não temos muitos assassinos em série na nossa história, é o que define uma pessoa como serial killer. Fábio Cantinelli, psiquiatra pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (IPq/HC/FMUSP) e pelo NuFor (Núcleo de Psiquiatria Forense do IPq), e psiquiatra forense, mata essa dúvida de uma vez por todas.

Qual é o número mínimo de vítimas necessário para que uma pessoa seja classificada como serial killer?

“Não há um consenso exato, mas é um número múltiplo, suficiente para caracterizar um modus operandi. Poderia ser, a rigor, a partir de dois crimes, mas o consenso mais recente fala a partir de três vítimas. Por modus operandi entendemos a ‘assinatura’ daquele assassino, de tal modo que possamos identificar que estamos falando do mesmo indivíduo.”

Como a repetição de atos homicidas ao longo do tempo contribui para a definição de assassino em série?

“Justamente porque há a identificação de um padrão, de uma assinatura daquele assassino. Percebe-se as similaridades entre os crimes, semelhanças entre as vítimas. E o procedimento geral deste crime, desde sua concepção, ‘captura’ da vítima ou forma como esta pessoa é morta. Não há um único tipo de serial killer, que passam desde o visionário com perda de contato, mesmo que parcial, da realidade, até o sádico. O assassino sexual que mata pelo desejo e por fantasias próprias tenebrosas, nefastas, com ação de tortura e mutilação. Sendo que o que traz a satisfação sexual não é o ato sexual em si, mas a morte do outro.”

Que papel a premeditação e a seleção de vítimas desempenham na distinção entre um serial killer e outros tipos de assassinos?

“Antes de mais nada, premeditação não é uma característica exclusiva de assassinos em série. Crimes de assassinos comuns podem ter planejamento ou premeditação, até como forma de sucesso do ato ou escape da punição. Ou mesmo assassinos em série podem ter grande impulsividade, que seria um pressuposto de não-planejamento.

Mas, segundo a grande pesquisadora e criminóloga Ilana Casoy, principalmente nos serial killers sádicos, haveria seis fases do crime: áurea, onde se começa a perder ‘compreensão da realidade’ (não significa necessariamente, um quadro psicótico); pesca, onde se procura a vítima; a galanteadora, onde se faz a sedução ou engano da vítima; a captura, onde a vítima cai na armadilha; o assassinato em si, que é o auge desta ação; e a ‘depressão‘, que é um período de recolhimento do assassino (e não deve ser entendida como depressão clínica, na forma clássica como a conhecemos). Consideramos que estes serial killers agem de acordo com sua fantasia sádica muito própria e todo este processo, principalmente o ápice que é o assassinato é a realização desta fantasia. E quanto mais durar o sofrimento desta vítima, melhor é ao assassino, no sentido da satisfação deste gozo.”

Todo serial killer tem um modus operandi específico nos seus crimes?

“Geralmente, sim, mas não necessariamente. Mas a orientação sexual que determina o procedimento de um serial killer passa pela satisfação de suas fantasias ou instintos sexuais mais sádicos, que, certamente, são muito pessoais.”

Quais são as características psicológicas e comportamentais que diferenciam um assassino em série de outros criminosos violentos?

“Há um entendimento que pode ser fundamental nesta resposta: para os serial killers, geralmente as vítimas ‘não são vítimas, são objetos’ da realização de suas fantasias sádicas. A vítima é algo completamente ‘descoisificado’. Muitas vezes não é nem considerada como um outro ser humano. Assassinos comuns também querem matar logo, o interesse é o evento morte do outro e pronto. Serial killers não têm essa pressa. Quanto maior o tempo gasto, quanto maior a resistência dessa vítima, melhor é para ele.”