Gravidez psicológica: quando o corpo não responde à realidade CR_ Shutterstock, Inc._Satyrenko

Condição afeta cerca de uma mulher em cada 22 mil gestantes no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde

A gravidez psicológica, também conhecida como pseudociese ou gravidez imaginária, é um fenômeno psicológico em que uma mulher apresenta sintomas físicos e emocionais de gravidez, apesar de não estar realmente grávida. A condição é considerada rara e sem razões biológicas, e pode permanecer por semanas ou meses, sendo comum durar todos os nove meses como em uma gestação real. “Quando fazemos os exames que confirmam o diagnóstico da gravidez, que são Beta HCG e ultrassom, temos o exame de sangue negativo e o ultrassom que não mostra embrião. Ou seja, do ponto de vista médico, a paciente de fato não está grávida, mas corpo acredita que está”, explica o ginecologista e obstetra Carlos Moraes.

Como a gravidez psicológica acontece?

Chamada de situação multifatorial por não ter uma única causa, a gravidez psicológica afeta pacientes que já possuem histórico de algum transtorno psiquiátrico, o que se torna um fator predisponente e que, eventualmente, venha a ser desencadeado por experiências da própria paciente. De acordo com o ginecologista e com a psiquiatra geral Danielle Admoni, alguns fatores que podem desencadear a gravidez psicológica são:

  • Dificuldade de engravidar;
  • Transtorno psiquiátrico;
  • Quadro de infertilidade;
  • Abortamento, único ou repetido;
  • Desejo muito grande de engravidar;
  • Abusos sexuais;
  • Pressão do parceiro ou de familiares.

Como o corpo e a mente reagem

De maneiras ainda inexplicadas pela ciência, o cérebro reage aos estímulos provocados pelas mudanças do estado emocional, desregulando a produção hormonal. As funções endócrinas, corticais e hipotalâmicas trabalham juntas no eixo ‘hipotálamo-hipófise-adrenal’, resultando nos sintomas de uma gravidez real.

“Muitas vezes, a paciente pode ficar sem menstruar ou vir a ter secreção mamária, tudo em decorrência das disfunções hormonais que ocorrem por causa da gravidez psicológica”, contextualiza Moraes. Esses sintomas são experienciados com tanta autenticidade que a mulher chega a sentir o crescimento da barriga, os movimentos do bebê, e até mesmo as dores e contrações do parto.

E mesmo sem haver nascimento, a mulher pode chegar a insistir que o bebê virá em algum momento e continuar esperando por ele. No caso da distensão abdominal, cerca de 60% a 90% das mulheres com pseudociese podem apresentar um aumento do volume da barriga. A condição pode acometer pessoas em qualquer faixa etária, mas o mais comum é após os 40 anos e durante a menopausa.

Existe tratamento para gravidez psicológica?

O ginecologista aponta que o tratamento começa com exames de sangue e ultrassons, mas muitas mulheres não acreditam no diagnóstico da gravidez psicológica. “Nesses casos, cabe ao ginecologista indicar um tratamento psicológico para identificar a origem do transtorno e tratar a causa. Também pode ser preciso intervenção com medicamentos hormonais para regularizar a menstruação e encerrar a produção de leite”, explica.

Já a psiquiatra acrescenta que a gravidez psicológica não é uma invenção da mulher. “Muitas vezes, a pseudociese é a válvula de escape que o cérebro encontrou para lidar com as adversidades psicológicas. Portanto, julgamentos só irão agravar o transtorno. A família deve da apoio, conforto e acompanhar o tratamento psicológico, até para entender melhor a condição e saber como lidar com o quadro”, finaliza.