Apesar dos avanços na legislação, alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda precisam encarar uma série de desafios no ambiente escolar, desde a matrícula até sua participação efetiva na sala de aula. Isso acontece porque, mesmo com leis atualizadas para promover a inclusão de autistas nas escolas, também torna-se necessário conscientizar para que as crianças possam promover um ambiente escolar mais saudável para seus colegas com autismo.
Combate a exclusão
As crianças com TEA acabam excluídas nas escolas quando elas não são acolhidas nas atividades dentro e fora da sala de aula. Para a psicóloga clínica Andreia Calçada, o professor tem que de alguma forma buscar aquela criança para dentro da atividade. “A escola também precisa se adaptar para receber este aluno. Com profissionais capacitados para o atendimento, ou também com estrutura adaptada, caso o aluno tenha problemas de mobilidade”, explica.
Já a psicóloga Larissa Fonseca diz que é preciso pensar em atividades que sejam acessíveis a todos os alunos, e não apenas a um grupo. “Por não se comportarem, raciocinarem ou demonstrarem o afeto como a maioria, as crianças neurodivergentes podem ser excluídas comportamentalmente do grupo”, completa. Nas escolas atualmente, falta ensinar sobre empatia e valorização da diferença, assim passamos a incluir todas as formas de exclusão.
“Deveria haver em todas as escolas a aprendizagem de que todos somos extremamente valiosos com nossas diferenças e isso faz os humanos serem tão especiais”, acredita Larissa.
O papel da escola no cuidado com o TEA
A inclusão não depende somente dos colegas de sala, mas principalmente da escola. Para Andreia, esse trabalho tem que ser uma parceria entre o ambiente, a família da criança com autismo e demais alunos. “Para uma inclusão bem sucedida é preciso que se tenha escuta e conhecimento das necessidades de cada criança e que se entenda que cada um tem suas singularidades”, afirma.
Essa parceria só vai ter sucesso com uma capacitação para os profissionais presentes no ambiente escolar. A psicóloga Larissa Fonseca, entende que dessa forma eles podem valorizar de forma positiva as diferenças. Além de aprenderem a diminuir estímulos sensoriais (visuais, auditivos e olfativos), que podem ser desencadeadores de ansiedade. “Os professores devem saber sobre possíveis dificuldades específicas de cada criança. O importante é incentivar a participação e socialização até o limite de cada indivíduo, evitando permitir que ocorra total exclusão assim como, não forçar nenhuma criança, porque isso pode se tornar traumático”, analisa Larissa.
Ajuda especializada para TEA
Será a hora das escolas contarem com especialistas na sala de aula para uma ajuda mais capacitada? Para a psicóloga clínica, Andreia Calçada, isso depende da necessidade. “A partir de uma observação do professor, da direção da escola e da demanda da família. É importante que a escola esteja aberta e preparada para esta demanda”, contribui.
Agora para a psicóloga, Larissa Fonseca, a resposta é sim. “Sim, esse é um grande diferencial característico para um melhor aproveitamento do conteúdo, assim como, percepção de quaisquer dificuldades sociais no momento em que ocorrem”, opina. Por mais que isso não seja uma solução universal, Larissa acredita que uma pessoa treinada com olhar empática e que está próxima da criança, ajuda a identificar necessidades específicas e as melhores estratégias para apoiar seu desenvolvimento. “Este profissional vai conseguir valorizar as qualidades da criança e ensiná-la a se superar a cada dia. Não seria essa a missão de uma escola?”, indaga.
Participação dos colegas
Antes de mais nada, é preciso que os pais e profissionais da escola ensinem as crianças que é importante conviver com as diferenças, que cada um tem características e que devem ser respeitadas. “Acho que tendo respeito e carinho pelo outro toda a inclusão será bem sucedida e isso vale para a vida de uma maneira geral. Adolescentes e crianças devem exercer a empatia e respeitar as diferenças e limitações de um colega de turma, de um parente, de um estranho”, explica Andreia.
É necessária uma discussão cada vez maior nas escolas e em casa sobre a necessidade de uma comunicação mais assertiva e não violenta. “Hoje temos alguns problemas em nossa sociedade que se agrava com a ausência dos genitores na rotina, no cotidiano dos filhos. Isso acaba acarretando uma insegurança no menor e acaba gerando a agressividade”, completa a psicóloga clínica.
Essa falta de limite e atenção, faz com que os filhos fiquem excessivamente na internet e acabam assumindo valores que não são os deles. “Se a família não construiu valores sólidos, os filhos ficam à mercê desses valores externos. Então, a inclusão escolar deve passar por mudanças e aceitação das diferenças que devem estar presentes nos valores vindo de casa e na escola também. Filhos de pais preconceituosos, tendem a ser preconceituosos também. É um trabalho de parceria entre a escola e as famílias”, explica.
Hora da matrícula
No momento de procurar uma escola para seu filho, a psicóloga Larissa, pede atenção a forma como falam sobre a inclusão, ambientes (adaptados ou não), profissionais (habilitados ou não) e se possível: recomendações ou conversas com outros pais que passem por situações de neurodiversidade na escola e como a escola lidou com possíveis desafios.