
Exaustão pode gerar consequências graves como ansiedade e depressão; reconhecer o esgotamento é o primeiro passo para reestabelecer a saúde emocional
Ser mãe atípica é vivenciar as dores e delícias habituais da jornada da maternidade, mas também os desafios diários de uma vida que tenta conciliar o cotidiano, o acúmulo de demandas, uma rotina intensa de terapias, a vigilância constante, o medo contínuo pelo futuro do filho, a autocobrança e o preconceito da sociedade. O resultado: uma exaustão que vai além do cansaço físico.
“É uma sobrecarga que atinge o corpo e o emocional. Outra coisa que faz com que o sentimento de exaustão prevaleça é a solidão. A sensação de carregar tudo sozinha, sem rede de apoio, sem reconhecimento, sem pausa. Muitas mães atípicas vivem em um estado de alerta permanente, o que consome seus recursos emocionais pouco a pouco”, alerta Mariana Bonnás, psicóloga referência no atendimento de mães atípicas.
Consequências
Entre as principais consequências do esgotamento emocional de mães atípicas, a profissional destaca o desenvolvimento de transtornos mentais como a depressão e a ansiedade. “Essa exaustão pode gerar consequências graves e profundas, como ansiedade, depressão, crises de pânico, dificuldades no vínculo com a criança, adoecimento físico e até a perda do sentido de si mesma. E isso impacta não só a saúde da mulher, mas também o bem-estar da família como um todo”, explica.
Autora do livro “Mães atípicas – A Maternidade que ninguém vê” (Ed. Gente), Bonnás esforça-se contra a invisibilidade das necessidades de mulheres com filhos portadores de síndromes, transtornos, doenças raras ou deficiência e se dedica à conscientização de que o autocuidado é condição inclusive para seguir cuidando.
“Reconhecer o esgotamento é o primeiro passo para romper com a ideia de que a maternidade atípica precisa ser solitária e silenciosa. É um ato de coragem e de cuidado”, incentiva. Para Bonnás, quando a mãe permite nomear o que sente, ela abre espaço para pedir ajuda, estabelecer limites e se reconectar consigo mesma. “Validar essa exaustão é também validar a humanidade dessas mulheres. Cuidar da saúde mental não é luxo, é necessidade. E para mães atípicas, é uma forma de continuar cuidando com mais equilíbrio e presença”, completa.
Adoecimento de mães atípicas
Com mais de 16 anos dedicados ao atendimento da maternidade atípica, Bonnás alerta para o adoecimento dessas mães, uma realidade ainda pouco reconhecida e que precisa ser abordada com responsabilidade. “Muitas mães atípicas adoecem em silêncio, porque sentem que não têm o direito de parar, de falhar ou de pedir ajuda. Mas o adoecimento não é fraqueza, é o reflexo de uma estrutura social que não oferece o suporte necessário”, afirma.
A busca por apoio é fundamental, seja em grupos de acolhimento, em espaços seguros de escuta ou na psicoterapia e pode ser realizada o quanto antes, de forma preventiva. “E quando ou se a mãe perceber que está constantemente no limite, chorando com frequência, sem prazer em nada, com dificuldades para dormir, irritabilidade excessiva ou sensação de esvaziamento, é hora de buscar ajuda profissional”, orienta.