Apegos da infância: as consequências chegam na fase adulta! Ilustração: GoodStudio/Shutterstock Images

4 tipos de apegos que desenvolvemos na infância afetam nossos relacionamentos ao longo da vida

O psicanalista britânico John Bowlby desenvolveu, em meados do século XX, a teoria do apego, para tentar entender os efeitos que a separação dos pais tinha sobre os filhos. Em resumo, a ideia fundamental dessa teoria é de que as crianças precisam desenvolver uma relação de apego segura com pelo menos um cuidador principal, para, assim, se desenvolver emocionalmente e socialmente de forma adequada.

“O conceito dessa teoria visa explicar o modelo mental que criamos quando estamos angustiados e com medo. Frente a essas emoções negativas, buscamos nos cuidadores (mãe e pai, basicamente), um abrigo emocional que nos promova conforto, amparo e segurança. O primeiro amor da vida de uma criança é sempre o seu cuidador mor”, explica Roselene Espírito Wagner, psicóloga clínica, neuropsicóloga e PhD em Neurociência.

Os apegos

“A partir do desenvolvimento do vínculo afetivo, a criança pode interpretá-lo de três maneiras, construindo padrões mentais e emocionais para os próximos estágios do ciclo vital e seus futuros relacionamentos.”

Dessa forma, os três tipos básicos de apego são: 

  1. Apego seguro: determinam pessoas confiantes em suas relações;
  2. Apego ansioso: gera insegurança e medo de ser rejeitada;
  3. Apego evitativo: onde o sujeito evita o envolvimento por medo futuro de rejeição.

Como esses apegos afetam nossa vida adulta?

Em síntese, a neuropsicóloga explica que é na infância que as vigas de sustentação para a formação do psiquismo são lançadas. “De acordo com as experiências e tipos de relação, desenvolvemos as bases de nossos relacionamentos futuros, gerando apegos saudáveis e positivos, ou adoecidos e negativos.”

Ou seja, pessoas com vínculos de apego seguro tendem a se relacionar intimamente com diálogos abertos e demonstrações transparentes. Em contrapartida, pessoas com vínculos de apegos ansioso e evitativo, sistematicamente têm dificuldade de se conectar emocionalmente, de confiar, têm medo do abandono, além de sofrer com emoções antecipatórias negativas.

Teoria do Apego para adultos

Roselene pontua que a teoria também existe para os adultos. Guardamos as primeiras experiências emocionais e as integramos às bases do psiquismo, influenciando relações futuras. Quando os primeiros amores de uma criança giram em torno da entrega e do recebimento de afeto, o modelo relacional romântico/sexual adulto adota essas mesmas premissas, com algumas adaptações”, completa.

Os tipos de apegos na vida adulta seriam:

  1. Apego seguro: que traz a facilidade na expressão dos afetos;
  2. Apego ansioso: sujeitos que se relacionam de forma preocupada, ansiosa, não confiam, não se entregam e evitam receber o afeto alheio por medo da responsabilidade que isso gera;
  3. Apego evitativo: pessoas que sofreram abusos e traumas, que se sentem desconfortáveis em se relacionar de forma mais íntima.

Nos encaixamos em um desses apegos

Cada pessoa desenvolve suas próprias interpretações e percepções afetivas, trazendo um tipo de apego emocional desenvolvido por John Bowlby. “Basicamente, nos reconhecemos dentro de um desses tipos de apegos. Claro que quando nos identificamos com um apego que não é saudável, podemos assumir a auto responsabilidade de modular nossas emoções em uma organização mental que possa nos gerar mais autoconfiança, para que nossos relacionamentos possam ser gerenciados de forma consciente, madura, estável. Mas é fato que cada um de nós irá se reconhecer dentro de um desses padrões descritos”, afirma a neuropsicóloga. (box)

A terapia é uma aliada

Fazer terapia pode ajudar a identificar e melhorar alguns padrões que temos em relacionamentos devido a nossas relações com nossos pais, já que promove autoconhecimento, trabalha a autoimagem e desenvolve a autoestima, trazendo um modelo relacional mais saudável consigo mesmo. “Quando somos confiantes e temos consciência das características que formam nossa personalidade, podemos melhorar a relação conosco. Nós só podemos oferecer aquilo que somos. Quanto mais temos, mais transbordamos na vida. Passamos a assumir uma relação íntima mais equilibrada com nós mesmos, para ofertarmos e recebermos de forma recíproca e positiva”, finaliza.