
Exaustão silenciosa, culpa disfarçada de produtividade e a pressão constante por dar conta de tudo.
Esses são sintomas cada vez mais comuns entre mulheres que, mesmo cercadas de ferramentas modernas, seguem adoecendo emocionalmente em uma rotina que exige mais do que o corpo e a mente podem sustentar. Foi desse lugar — íntimo, real e vivido na pele — que nasceu BASTA!, o novo livro da psicóloga e mentora de líderes Thirza Reis.
Na obra, ela propõe não uma fórmula mágica, mas uma pausa corajosa. Um reencontro com a própria verdade. Com uma escrita acolhedora e fundamentada em sua experiência clínica, Thirza convida leitoras a repensarem o que realmente importa, oferecendo reflexões e ferramentas práticas para quem busca uma vida com menos pressão e mais presença.
Nesta entrevista exclusiva, Thirza fala sobre os sinais da sobrecarga emocional, a importância de aprender a dizer “não” e como o autoconhecimento pode ser um antídoto poderoso contra a cultura da exaustão.
O que te motivou a escrever um livro especialmente para pessoas que se sentem sobrecarregadas?
“Minha motivação nasceu de um lugar muito íntimo e real: a exaustão que eu mesma experimentei — e que vi repetida em tantas mulheres que atendo. Mulheres fortes, inteligentes, comprometidas… que estavam literalmente se desmanchando tentando dar conta de tudo. Eu queria oferecer algo que não fosse mais um manual de produtividade, mas um convite à reflexão e ao recomeço. Um livro que dissesse: “Você não está sozinha. E você não precisa seguir nesse ritmo que adoece. Existe outro jeito”. Assim nasceu o Basta! — com o desejo de que ele seja um livro-colo e uma convocação ao mesmo tempo.”
Quais são os principais sinais de que alguém está vivendo em um estado constante de sobrecarga emocional ou mental?
“Eles são muitos — e às vezes bem sutis. Acordar cansada mesmo depois de dormir a noite inteira. Sentir que está sempre devendo, sempre atrasada, mesmo quando faz tudo. Explodir com quem você ama e depois se culpar. Chorar escondida no carro. Dizer “sim” quando queria dizer “não”. A mente que não silencia, que não para. O corpo que adoece. A exaustão não aparece só no físico — ela afeta o emocional, o mental, o relacional. E o pior: a gente aprende a achar tudo isso normal. Mas não é. Isso é a normose que precisamos reconhecer para conseguir combater.”
O livro traz ferramentas práticas para o dia a dia. Pode nos contar um pouco sobre alguma delas?
“Sim, diversas! Cada capítulo termina com um convite a um exercício prático. Uma das ferramentas que mais tocam as leitoras é o exercício do autoconhecimento autocompassivo. Nele, a gente olha para todas as esferas da vida e identifica o que, de fato, é prioridade — e o que está sendo carregado por medo, culpa ou costume. Ele ajuda a colocar limites com mais clareza e leveza. É um jeito prático de parar de tentar segurar tudo e começar a escolher o que realmente importa agora.”
Por que hoje tantas pessoas — especialmente mulheres — se sentem sobrecarregadas, mesmo com tantos recursos de apoio disponíveis?
“Porque a sobrecarga não é só uma questão de tempo, mas de cultura. A gente foi ensinada a se medir pela entrega, pela perfeição, pela disponibilidade constante, a priorizar tudo e todos e se deixar em último lugar. E, mesmo com aplicativos, ajuda externa ou redes de apoio, o que continua nos pressionando é essa mentalidade de que não podemos falhar, de que temos que dar conta de tudo — sorrindo. O Basta! propõe exatamente essa desconstrução: sair da lógica da Mulher-Maravilha e entrar na lógica da mulher inteira, real e autêntica que nós já somos, mas precisamos nos dar a chance de reconhecer e acolher.”
Você acredita que aprender a dizer “não” é uma das chaves para aliviar a sobrecarga? Como isso é tratado no livro?
“Sim, sem dúvida. Dizer “não” com clareza e sem culpa é um ato de cuidado — com você e com os outros. No livro, eu falo muito sobre isso: sobre como o “sim” automático é, muitas vezes, um reflexo do medo de rejeição ou da culpa — uma barganha por afeto. Falo da importância de se colocar limites claros e explico, de um jeito bem direto e simples, o que é “colocar limites”. Em seguida, proponho pequenos treinos para aprender a estabelecer esses limites com respeito e empatia — consigo e com os outros. Uma coisa que todos precisamos normalizar: dizer “não” não é ser egoísta. Muito pelo contrário — é expressão da sua verdade e da sua autenticidade. É você se incluindo na equação, sendo honesta com o que pode e deseja oferecer. É algo que definitivamente precisamos aprender e colocar em prática.”
Como o livro equilibra teoria psicológica e linguagem acessível para alcançar leitores que não são da área?
“Esse foi um cuidado que tive desde o início: transformar conceitos profundos da psicologia — como autocompaixão, vergonha, exaustão emocional e empatia — em uma linguagem que acolhe, que conversa, que atravessa. Uso metáforas, histórias reais minhas e de pessoas que acompanhei ao longo dessa jornada como psicóloga e mentora, além de muitas perguntas reflexivas. Não é um livro que se pretende técnico. Não é um livro para “entender” apenas com a cabeça, mas para sentir, refletir e aplicar com o coração na vida prática.”
Qual a principal mensagem que você espera que os leitores levem com eles ao terminar a leitura?
“A principal mensagem é: você não precisa se esgotar para ser valiosa, e pode fazer sua vida C.A.B.E.R na sua vida. Isso mesmo: C.A.B.E.R é um acrônimo que criei para apontar um caminho que a leitora pode seguir para construir uma vida que faça mais sentido para ela, sem precisar se esgotar — lembrando que sua força não está em dar conta de tudo, mas em ter coragem de escolher o que realmente importa. O Basta! é um convite ao recomeço — mais leve, mais consciente, mais inteiro. Com coragem, com presença, com empatia. Uma vida possível, não perfeita.”