A falta de dinheiro é um dos fatores mais significativos que afetam a vida cotidiana das pessoas. Influenciando não apenas aspectos financeiros, mas também emocionais, psicológicos e relacionais. A insegurança financeira, associada ao estresse constante com as dívidas e à dificuldade de atender às necessidades básicas, pode gerar uma série de consequências profundas e duradouras. A psicóloga organizacional Patrícia Ansarah explora como essa pressão contínua influencia diretamente a saúde mental, a capacidade de tomar decisões e os relacionamentos interpessoais.
Os impactos da falta de dinheiro
Viver sob a constante preocupação com as finanças mantém o corpo e a mente em estado de alerta, o que pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão. “Quando uma pessoa está preocupada com suas dívidas, contas ou futuro financeiro, o cérebro interpreta isso como uma ameaça, gerando insegurança e um estado de estresse prolongado. Esse estado crônico de estresse pode afetar o sistema nervoso, resultando em sintomas de ansiedade, como palpitações e sensação constante de preocupação”, explica a psicóloga.
A falta de bem-estar emocional afeta a capacidade de tomar decisões racionais e até de se relacionar socialmente. Impactando também o estado de humor e as interações com outras pessoas.
Falta de dinheiro causa insônia
Outro efeito prejudicial da falta de dinheiro é o impacto no descanso. A liberação constante de hormônios relacionados ao estresse, como o cortisol, pode prejudicar o ciclo do sono. “Ao sofrer de insônia, a qualidade da gestão emocional, da organização e produtividade do dia e das relações ficam impactadas, aumentando a irritabilidade. Em estado contínuo, isso pode gerar um ciclo de esgotamento emocional e tornar ainda mais difícil lidar com os desafios do dia a dia e encontrar alternativas para sair desta situação.”
Tomada de decisões prejudicada
A escassez financeira também pode afetar a capacidade de tomar decisões racionais e lidar com problemas cotidianos. Um estudo da Universidade de Princeton mostrou que a preocupação constante com o dinheiro pode reduzir temporariamente o QI em até 13 pontos, prejudicando o planejamento e o controle emocional. Segundo Ansarah, “essa ‘carga cognitiva’ excessiva aumenta a impulsividade, tornando as pessoas mais propensas a tomar decisões precipitadas, como gastar mal ou negligenciar contas importantes”.
Impacto nos relacionamentos e até divórcios
A falta de dinheiro é uma das principais fontes de conflito em relacionamentos, gerando tensões emocionais que podem levar ao término de casamentos e parcerias. De acordo com uma pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), 64% dos casais afirmam que questões financeiras são a maior causa de conflitos. “Esse estresse gera tensões constantes e pode prejudicar a comunicação, diminuindo a empatia e aumentando a sensação de culpa ou vergonha. Casais que não conseguem lidar com essas dificuldades de forma construtiva acabam sendo mais suscetíveis ao término de uma relação. Segundo o IBGE, aproximadamente 57% dos casamentos no Brasil terminam devido a problemas financeiros”, destaca Patricia.
A falta de dinheiro pode aumentar o isolamento social
Além dos impactos nos relacionamentos íntimos, a falta de dinheiro também afeta a autoestima e a autoconfiança em interações sociais. “A percepção de fracasso financeiro afeta diretamente a autoestima e a autoconfiança. Muitas pessoas associam o sucesso material com valor pessoal e o dinheiro com status social. A sensação de fracasso gera vergonha e sentimento de incompetência, de baixo valor próprio. Fazendo com que, muitas vezes, pessoas que enfrentam dificuldades financeiras se isolam socialmente, aumentando o risco de depressão.”
Estagnação
A sensação de estagnação e falta de controle sobre a própria vida é outro efeito comum da falta de recursos financeiros. “Uma vez que o recurso financeiro é atribuído ao recurso essencial para as pessoas alcançarem novas oportunidades ou realizarem seus sonhos. Essa situação pode gerar um sentimento de falta de controle sobre a própria vida, de limitação de crescimento, de frustração e desesperança, afetando a autoestima e, por consequência, a motivação para agir, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos emocionais a longo prazo”, finaliza.