Canetas emagrecedoras podem afetar a fertilidade?

Dr. Paulo Tudech, da Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, explica como substâncias como a semaglutida influenciam ovulação, reserva ovariana e saúde hormonal

O uso das chamadas canetas emagrecedoras – como Ozempic, Wegovy e similares – segue em alta no Brasil, principalmente entre mulheres em idade fértil. Apesar da promessa de emagrecimento rápido, poucas pessoas discutem os impactos dessas medicações na fertilidade fora dos consultórios.

Dados divulgados em junho de 2025 pelo New York Post e pela Pharmacy Times mostram que cerca de 15% das pacientes que usam agonistas de GLP‑1 relataram alterações no ciclo menstrual e na ovulação.

Entre os homens, um estudo apresentado na American Urological Association (AUA 2025) apontou melhora de até 2,8% na normalização da contagem de espermatozoides. Isso mostra que o impacto pode variar conforme o perfil de cada paciente.

Além disso, a agência regulatória do Reino Unido (MHRA) emitiu um alerta, também em junho de 2025, sobre mais de 40 casos de gestações inesperadas durante o uso de medicamentos como semaglutida e tirzepatida. O aviso reforça a importância da orientação contraceptiva para quem não deseja engravidar.

As canetas emagrecedoras exigem cautela

Para o Dr. Paulo Tudech, especialista em reprodução humana da Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, o tema deve ser abordado com cautela, informação de qualidade e acompanhamento personalizado. “A semaglutida das canetas emagrecedoras atua principalmente no controle do apetite e do metabolismo, mas esses efeitos repercutem de forma sistêmica. Em mulheres, podem ocorrer alterações no eixo hormonal, ciclos irregulares ou até impacto sobre a reserva ovariana, dependendo da intensidade da perda de peso e do estado nutricional. Por outro lado, para pacientes com obesidade ou síndrome dos ovários policísticos (SOP), essas medicações podem ser grandes aliadas. Isso porque a perda de peso melhora a sensibilidade à insulina e favorece a ovulação. O risco está no uso sem indicação, sem monitoramento e com expectativas irreais”, explica.

Ozempic brasileiro

Com a chegada do Ozempic brasileiro — nomes comerciais Olire e Lirux, produzidos pela EMS e previstos para chegar ao mercado ainda em 2025 — o acesso deve se tornar ainda maior. Para o Dr. Paulo, isso amplia a responsabilidade sobre o uso consciente. “A produção nacional democratiza o acesso, mas reforça a urgência de informação técnica e acompanhamento especializado. Na Nilo Frantz, defendemos o tratamento multidisciplinar: endocrinologistas, nutricionistas e especialistas em reprodução trabalham juntos para que o paciente emagreça de forma saudável e preserve sua saúde reprodutiva.”

Perda de peso excessivo das canetas emagrecedoras

O médico também alerta para um ponto pouco discutido: o risco da perda de peso excessiva. “A magreza extrema também compromete a fertilidade, pois níveis muito baixos de gordura corporal reduzem a produção hormonal, prejudicando a ovulação e a qualidade dos óvulos. É um equilíbrio: perder peso em excesso, de forma descontrolada, pode ser tão prejudicial quanto a obesidade.”

Ele destaca que o medicamento é apenas uma ferramenta. Para ter mais efeito, deve estar inserido em um contexto mais amplo. Isso inclui uma alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos, sono de qualidade e atenção à saúde intestinal — todos esses fatores influenciam diretamente a fertilidade.

“Até o momento, não há estudos que comprovem ganho de fertilidade apenas pelo uso da semaglutida. O que existe é a evidência de que a perda de peso equilibrada melhora a função ovulatória, o ambiente uterino e, em alguns casos, a qualidade dos óvulos e dos espermatozoides. Por isso, é fundamental acompanhamento médico, exames regulares e planejamento reprodutivo claro” finaliza o médico.