Nova tecnologia promete salvar bebês prematuros com cardiopatia Uma nova esperança para esses pequenos pacientes com cardiopatia pode estar prestes a chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS)

A tecnologia inovadora pode beneficiar milhares de recém nascidos

No Brasil, nascem cerca de 300 mil bebês prematuros por ano, e até 50% deles podem desenvolver uma condição chamada persistência do canal arterial (PCA) – uma falha no fechamento do canal arterial que deveria ocorrer naturalmente após o nascimento. Quando isso não acontece, o bebê pode sofrer uma série de complicações graves, como insuficiência cardíaca, sobrecarga nos pulmões, sangramentos cerebrais e digestivos e insuficiência renal.

Uma nova esperança para esses pequenos pacientes pode estar prestes a chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS). Após recomendação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), o processo de incorporação de um dispositivo para fechamento percutâneo do canal arterial avança rumo à decisão final do Ministério da Saúde.

Tratamento da cardiopatia

“Hoje, quando identificamos pelo ecocardiograma que o canal está aberto e há repercussão clínica, iniciamos o tratamento com medicamentos. Mas em até 40% dos casos o canal não se fecha, mesmo após dois ciclos de remédios. Nessas situações, indicamos o fechamento mecânico, que pode ser feito por cirurgia ou por cateterismo”, explica a Renata Mattos Silva, cardiologista intervencionista e Diretora de Intervenções em Cardiopatias Congênitas da SBHCI.

É aí que entra o novo dispositivo: o Amplatzer Piccolo Occluder, um implante via cateterismo, indicado para bebês com mais de 700 gramas e menos de 3 kg, com pelo menos três dias de vida. Ele permite fechar o canal arterial sem a necessidade de cirurgia, o que reduz significativamente a morbidade em pacientes tão pequenos e frágeis.

“A cirurgia nesses casos é invasiva e delicada. Ter essa tecnologia disponível significa oferecer uma opção segura e eficaz para bebês que já enfrentam tantos desafios pela prematuridade”, completa a especialista.

O caminho até a incorporação

O processo de incorporação de novas tecnologias no SUS segue uma série de etapas:

  1. A Conitec avalia os dados científicos e emite uma recomendação preliminar;
  2. A proposta passa por uma consulta pública, onde a sociedade pode enviar opiniões e contribuições por pelo menos 20 dias;
  3. Após analisar as sugestões recebidas, a Conitec publica uma recomendação final;
  4. A equipe envia então a recomendação ao Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, que decide se incorpora ou não a tecnologia;
  5. Se aprovar a decisão, o governo a publica no Diário Oficial da União;
  6. O SUS tem 180 dias para disponibilizar a tecnologia nas unidades de saúde.
    Atualmente o processo já passou pela quarta etapa. A participação da população na consulta pública é essencial para que tecnologias inovadoras como essa sejam incorporadas. Mais do que números e protocolos, a decisão pode representar vidas salvas e mais qualidade de vida para bebês e famílias inteiras.

Com essa nova tecnologia, o Brasil se aproxima de um cuidado neonatal mais moderno, humanizado e menos invasivo, alinhado às melhores práticas internacionais.