Ser ou não ser, eis a indecisão!

Por que tomar decisões as vezes parece um pesadelo? Conversamos com o Dr. Luiz Felipe Carvalho, médico especializado em neurociência, para entender. Se você é aquela pessoa que trava a fila do restaurante na hora de selecionar o pedido? Saiba que definitivamente não está sozinho(a)!

Viver é decidir

Escolher uma profissão, um relacionamento, uma faculdade… viver é decidir. E isso é desde que a humanidade é humana, conforme explica Luiz. “A evolução teve um papel fundamental no desenvolvimento dessa habilidade. No passado, o ser humano enfrentava ambientes mais imprevisíveis, onde decisões rápidas e baseadas em instinto eram fundamentais para a sobrevivência. Isso ajudou o cérebro a priorizar respostas automáticas e emocionais.”

Como a mágica da decisão acontece

Tomar decisões envolve diversas áreas cerebrais, para haver uma boa análise e definir a escolha final. “As principais são o córtex pré-frontal, responsável pela avaliação das opções e planejamento, o córtex cingulado anterior, que rege ações mais emocionais, e a amígdala,  que ajuda a avaliar riscos”, afirma o especialista.

E para o cérebro funcionar corretamente nessa hora, há um componente essencial: os neurotransmissores. “Em especial, são três principais: (I) a dopamina, que está relacionada à sensação de recompensa e motivação, o que influencia o balanço das consequências e benefícios de cada escolha; (II) a serotonina, que é ligada à impulsividade e pode tornar a decisão mais ou menos racional e (III) a norepinefrina, que regula a atenção e resposta ao estresse, o que também contribui para a tomada de decisão.”

Mas claro, escolher seu próximo lanche é bem diferente do que escolher a sua próxima casa, e nosso cérebro sabe bem como separar essas ‘gavetas’. “Em geral, decisões racionais demoram mais tempo para serem tomadas por precisar considerar e analisar mais fatores envolvidos. Isso porque elas envolvem uma maior ativação do córtex pré-frontal, que processa informações de maneira lógica. Já as decisões emotivas são mais rápidas e automáticas, baseadas em padrões reconhecidos e emoções, com forte envolvimento da amígdala e outras áreas subcorticais”, comenta Luiz.

Os mesmos inimigos de sempre…

Mas o que pode tornar alguém mais indeciso? Para além de um traço de personalidade, um dos maiores vilões para a tomada de decisão podem ser justamente eles: estresse e ansiedade. “Existem vários fatores que podem influenciar a tomada de decisão, que vão desde fatores ambientais à interação social, mas o estresse e a ansiedade prejudicam o pensamento crítico, estimulando respostas mais emotivas”, diz o médico.

Mas será que tem jeito para se aprender a tomar decisões assertivas?

Se a indecisão chega a afetar muito negativamente a sua vida, a dica também é aquela de sempre: buscar por um psicólogo para que juntos se estabeleçam estratégias viáveis de como lidar com essa sensação. 

Mas a boa notícia é que ser uma pessoa indecisa não precisa ser sentença. “Uma das habilidades mais importantes de nosso cérebro é justamente a neuroplasticidade, ou seja, a habilidade de modificar as propriedades fisiológicas em resposta às alterações do ambiente e reorganizar suas conexões neurais para lidar com novas necessidades. No caso da tomada de decisões, ela pode contribuir para reforçar conexões relacionadas, por exemplo, à aprendizagem, à atenção, ao controle emocional e à avaliação de risco. Como a tomada de decisão depende de um conjunto de habilidades agindo em paralelo, entender mais sobre como cada uma delas funciona permite melhorar a decisão e é aí que entra a neurociência, que ajuda a compreender esses processos neurais e criar intervenções personalizadas para otimizá-las”, finaliza.