Crença popular é falsa, e especialista explica o porquê
Você, com certeza, já deve ter visto em algum lugar que usamos apenas 10% do nosso cérebro e que, se usássemos 100%, teríamos superpoderes. Mas o Dr. Bruno Burjaili, neurocirurgião funcional especialista em Parkinson, aponta que essa informação é falsa.
“Essa crença vem de uma má interpretação do que disse o psicólogo William James em 1907. Quando ele refletiu sobre como deixamos de usar o nosso potencial físico e mental (não disse nada de 10% do cérebro, e foi algo bem mais filosófico do que anatômico). Quem deu essa má interpretação foi o escritor Lowell Thomas no prefácio do famoso livro de Dale Carnegie, Como fazer amigos e influenciar pessoas, de 1936. Thomas trouxe ao mundo o ‘percentual mágico’ de 10%. Inspirado pela declaração de James e pelos estudos dos últimos 200 anos que sugerem, eventualmente, que grande parte do cérebro fosse silenciosa. O que vemos, pela ciência atual, é que essa ideia era incorreta”, explica o especialista.
Mas, por que essa informação sobre o cérebro é mentira?
Burjaili conta que, na verdade, estamos sempre modificando as áreas ativas do cérebro, que podem agir em conjunto, mesmo estando distantes. “É como uma orquestra que, conforme a música que está tocando, contará com o trabalho conjunto de diferentes músicos que se alternam ou tocam juntos no grupo.”
Andrea Deis, professora e neurocientista, complementa dizendo que o cérebro só não funciona simultaneamente para evitar a exaustão. “O órgão divide as funções justamente para evitar gasto de energia. Inclusive, estudos de neuroimagens mostram a atividade cerebral ocorrendo em diversas áreas do cérebro, mesmo em repouso”, indica a neurocientista. (box)
E como usamos o cérebro?
Seguindo a metáfora da orquestra, Burjaili explica que o cérebro é uma grande rede. Cujos elementos podem se combinar dos modos mais diferentes para produzir nosso comportamento do dia a dia. “Afirmar que 100% do cérebro está ativo de uma vez só pode ser um exagero, mas é razoável dizer que a sua maioria está quase sempre agindo, e as partes que não estão sendo utilizadas naquele momento, não estão desligadas, mas esperando o seu momento de entrarem em jogo também.”
O neurocirurgião pontua que, às vezes, pequenos “terrenos” podem funcionar para algumas funções específicas, em um momento curto, “como a formação de uma primeira imagem do que os olhos captaram (por exemplo, quando vemos uma maçã), mas logo a seguir essa imagem será combinada com outros estímulos externos simultâneos (os sons que está ouvindo enquanto vê a maçã, o quanto você gosta ou não da fruta, se ela está madura, se ela te faz lembrar de momentos da sua vida, etc), com sensações internas, com memórias, e afins. Cada elemento combinado ao inicial (som, gosto, lembrança) está em outro ‘terreno’ cerebral, geralmente distante, ou pode até ser já uma combinação de terrenos”, descreve o especialista.
100% não dá!
Ainda não sabemos exatamente como utilizar todo o potencial cerebral, mas longe dos superpoderes, o órgão pode ser desenvolvido para aprender melhor, e as áreas podem ser melhores treinadas.
Andrea explica que o cérebro é complexo e pode ser esmiuçado. “Há várias formas de explorar o potencial, como usando a neuroplasticidade, com novos aprendizados e estimulação mental. Então, o autoconhecimento, a prática de mindfulness, jogos de memória e atividades para expandir a capacidade de atenção e memória ajudam a ampliar o potencial do cérebro.”
Mas desenvolver todo esse poder necessita de hábitos saudáveis. “Não adianta estimular todo o potencial do cérebro se você não tem hábitos saudáveis. O esporte potencializa áreas do cérebro, a alimentação também é importante, assim como ter cuidado com as restrições na dieta, que podem tirar a força cerebral”, pontua a professora.