Nos últimos dias, quem é mãe com filhos em idade escolar acompanhou os debates nos grupos de WhatsApp sobre o uso de celulares nas escolas. As discussões ferveram ainda mais com a aprovação de uma lei estadual em São Paulo, que proíbe celulares, tablets e outros dispositivos conectados à internet em todas as áreas das escolas públicas e privadas, aguardando apenas a sanção do governador.
As mães questionam: “Como vou falar com meu filho?”; “O que ele vai fazer no intervalo? “Por que não pode usar?”. Meu Deus! Meus questionamentos são opostos: estamos perdendo nossos filhos para as telas? Cadê a conexão familiar? Recreio não é para brincar e conversar? E os prejuízos do ensino remoto durante a pandemia?
As telas impactam sim!
Muitas escolas não reavaliaram o impacto das telas no aprendizado e no comportamento dos alunos. Pesquisas mostram que o uso excessivo de tecnologia contribui para queda no desempenho escolar, aumento de ansiedade, déficit de atenção, isolamento social e até para a hostilidade entre alunos. Mesmo assim, há quem insista: “Bullying não tem relação com telas.” Discordo. Será que essa mãe do “zap” enlouqueceu consumida pelo mundo virtual?
O contraste com outros países é evidente. Na Austrália, redes sociais estão proibidas para menores de 16 anos. Na China, há restrições severas para todas as idades. Lá, veem-se pessoas interagindo, produzindo e estudando. Por outro lado, aqui no Brasil, escolas antes reconhecidas por bons resultados acadêmicos agora têm crianças e adolescentes presos às telas, entre jogos, redes sociais e apostas digitais. E nestes mesmos colégios se acumulam bullying e outras situações com consequências ainda mais nefastas.
A solução? Governos estaduais e federal devem proibir telas em sala de aula e durante o intervalo, restringindo seu uso apenas para alunos com necessidades especiais ou fins pedagógicos específicos. Mesmo as escolas finlandesas, referência em educação, estão abandonando o excesso de tecnologia e voltando ao ensino tradicional.
Leis como a de São Paulo são passos importantes, mas é preciso mais: regulamentação do acesso às redes sociais para menores de 16 anos e educação midiática para alunos, professores e pais, tornando-a disciplina obrigatória. Não podemos deixar crianças e adolescentes à mercê de redes sociais manipuladoras ou expostos a conteúdos nocivos sem critério.
Não sou contra a tecnologia, mas precisamos aprender a usá-la com consciência. Foi sobre isso que falei na Brazil Conference, em Harvard, em abril deste ano, debatendo a educação midiática, pauta prioritária da UNESCO.
Menos telas, mais conhecimento, mais seres sociais, mais gente com recheio de gente!