
Neurodivergentes são mais vulneráveis ao uso excessivo de telas e precisam de acompanhamento
O excesso de tempo das crianças em frente às telas preocupa famílias e profissionais de saúde. Mas a situação se torna ainda mais alarmante quando falamos de crianças e adolescentes neurodivergentes — como aqueles com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Esse público apresenta maior vulnerabilidade à dependência digital por dificuldades de autorregulação, rigidez comportamental e até pela inocência diante do ambiente virtual, onde muitas vezes não conseguem distinguir entre realidade e ficção, maldade e brincadeira.
O risco da dependência digital infantil em neurodivergentes
“As telas oferecem reforços imediatos e previsíveis, como sons, cores e imagens, que podem ser atrativos e até servir como forma de regulação emocional. Mas, quando usadas em excesso, reduzem as interações sociais, afetam o sono e reforçam interesses restritos”, explica a psicóloga Caroline Espíndola, coordenadora clínica do Grupo Conduzir.
Por que crianças com TEA e TDAH são mais vulneráveis
Segundo ela, os impactos no desenvolvimento de neurodivergentes são amplos e profundos: desde a diminuição da tolerância a atividades que exigem concentração até a passividade social, já que o contato com a tela não exige habilidades como olhar nos olhos ou respeitar turnos de fala. Além disso, o uso excessivo pode gerar crises de irritabilidade, prejudicar a alimentação e comprometer o desempenho escolar.
Controle individualizado do uso de telas
O controle de telas deve ser sempre individualizado, especialmente no caso de crianças atípicas. Mais importante que o tempo absoluto de uso é avaliar a função da tecnologia na vida da criança. “Para neurodivergentes, a tela pode ser ferramenta de comunicação, autorregulação sensorial ou lazer. Por isso, não basta restringir, é preciso compreender seu papel e oferecer alternativas previsíveis e reforçadoras”, orienta.
Alternativas para substituir o tempo em frente às telas
Um dos exemplos acompanhados pela psicóloga foi o de uma criança autista que usava o tablet como principal forma de autorregulação. A retirada abrupta gerava crises e conflitos familiares. A solução encontrada foi substituir gradualmente a função da tela por blocos de montar e massinhas, atividades que também ofereciam estímulos visuais e táteis. O resultado foi positivo, pois a criança passou a buscar, de forma autônoma, recursos não digitais para se acalmar, e a rotina da família tornou-se mais tranquila.
Entre as opções que costumam substituir bem o uso de telas estão atividades sensoriais, como massinha, slimes, areia cinética e pintura. Além de jogos de memória, quebra-cabeças; brincadeiras motoras, como pular corda, cama elástica e bambolê. E até tarefas simples do cotidiano, como preparar um lanche ou organizar a mesa. Essas experiências favorecem a autonomia, aproximam a criança da família e contribuem para o desenvolvimento de habilidades sociais.