Condições de distúrbio no ritmo dos batimentos são bastante comuns no Brasil, mas ainda é um tema subestimado
As arritmias cardíacas, distúrbios no ritmo dos batimentos cardíacos, afetam milhões de pessoas ao redor do mundo e podem variar de benignas a potencialmente fatais. No Brasil, estima-se que aproximadamente 20 milhões de pessoas sofram de algum tipo de arritmia cardíaca. Os dados são da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC).
Isso significa que a condição é um problema comum, mas muitas vezes subestimada, o que pode acarretar consequências graves para a saúde.
O que é arritmia?
Normalmente, o coração bate em um ritmo controlado por impulsos elétricos, que coordenam a contração dos átrios e ventrículos. Quando há uma alteração na geração ou condução dos impulsos, o ritmo cardíaco pode acelerar (taquicardia), desacelerar (bradicardia) ou se tornar irregular (fibrilação atrial, por exemplo) – isso é a arritmia.
Mesmo que muitas arritmias sejam assintomáticas ou causem apenas sintomas leves, como palpitações e tontura, algumas podem desencadear complicações mais graves, como insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC) ou até morte súbita, como infelizmente aconteceu com o jogador uruguaio Juan Izquierdo, de apenas 27 anos. Izquierdo passou mal durante um jogo do Nacional contra o São Paulo, desmaiou e foi levado em estado grave para o hospital. A morte foi confirmada cinco dias depois.
Entre os tipos mais comuns, a fibrilação atrial (FA) ganha destaque por ser uma das principais causas de AVC. Segundo o estudo Global Burden of Disease (GBD), publicado na revista The Lancet, a FA afeta cerca de 33 milhões de pessoas no mundo, sendo particularmente prevalente em pessoas acima de 65 anos.
Principais fatores de risco para arritmia
As causas das arritmias cardíacas podem ser muitas, e muitos fatores podem contribuir para o desenvolvimento do problema. Segundo o Instituto do Coração (InCor), doenças cardíacas pré-existentes, como a insuficiência cardíaca e a hipertensão arterial, são fatores de risco. Além disso, a obesidade, o diabetes, o sedentarismo, o consumo excessivo de álcool e de cafeína, o uso de drogas ilícitas e o estresse são elementos que aumentam a probabilidade de desenvolver arritmia.
Ainda de acordo com informações do instituto, as arritmias podem também estar associadas a distúrbios eletrolíticos, como níveis anormais de potássio e magnésio no sangue. Além disso, algumas arritmias têm uma origem genética, e a predisposição familiar pode ser um indicativo importante de risco.
Envelhecer exige cuidados
O envelhecimento é um fator de risco. Com o aumento da longevidade da população, a ocorrência de arritmias, especialmente a fibrilação atrial, vem crescendo. De acordo com o estudo Framingham Heart Study, uma das pesquisas mais renomadas sobre saúde cardiovascular, uma em cada quatro pessoas desenvolverá fibrilação atrial após os 40 anos de idade.
Diagnóstico de arritmia
O diagnóstico de arritmias é feito principalmente por meio de eletrocardiograma (ECG), exame que registra a atividade elétrica do coração. Em alguns casos, pode ser necessário monitoramento prolongado com dispositivos como o Holter, que acompanha o ritmo cardíaco por 24 a 48 horas, ou um monitor de eventos, que grava o ritmo cardíaco durante várias semanas.
O tratamento para arritmia depende do caso
O tratamento das arritmias varia conforme o tipo e a gravidade. Para arritmias leves, algumas mudanças no estilo de vida, como controle da pressão arterial, redução do consumo de álcool e cafeína, e manejo do estresse, podem ser suficientes. Já em casos mais graves, o uso de medicamentos antiarrítmicos, anticoagulantes (para prevenir AVCs) ou até a implantação de dispositivos como marcapassos e desfibriladores automáticos são mais indicados. Procedimentos invasivos, como a ablação por cateter, que destrói pequenas áreas do coração responsáveis pelos impulsos elétricos anômalos, também são opções eficazes em situações com maiores complicações.
Novidade na medicina
Uma novidade promissora é o uso de tecnologias avançadas de mapeamento cardíaco em 3D para a realização de ablações mais precisas. Segundo o European Heart Journal, essa técnica tem demonstrado aumentar a taxa de sucesso do tratamento, especialmente em casos de arritmias complexas.
Arritmia: dá pra prevenir
É possível prevenir a arritmia, em grande parte dos casos, com a adoção de hábitos de vida saudáveis. Manter uma dieta balanceada, rica em frutas, vegetais e pobre em sal, associada à prática regular de exercícios físicos, é essencial para o coração. O controle de condições como hipertensão, diabetes e colesterol alto também é de extrema importância.
Programas de reabilitação cardiovascular, como os desenvolvidos pelo American Heart Association (AHA), também são eficazes na redução da recorrência de arritmias em pacientes de alto risco. Também é necessária a conscientização sobre os sintomas de alerta e a busca precoce por atendimento médico podem evitar complicações mais graves.