Infectologista explica a nova doença que vem preocupando a população

Depois de uma assustadora e triste pandemia em 2020, devido a covid-19, 2024 vem nos entregando um cenário preocupante. O aumento de casos da mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, ao redor do mundo, fez com que o monitoramento global da Organização Mundial da Saúde (OMS) crescesse, intensificando os estudos da doença que segue se alastrando pela África. Até o fechamento desta edição, no total, o Brasil contabilizava 791 casos notificados e 16 mortes.

Venha entender, de forma simples, o que é a mpox e o quanto devemos nos preocupar com ela. Quem nos ajuda a entender é Carolina Brites, infectologista pediátrica.

Quais são os principais sintomas da mpox?

“Os principais sintomas são: erupções cutâneas ou lesões de pele, aumento dos gânglios, principalmente dos cervicais, dores no corpo, mal-estar, indisposição, cefaleia, calafrios, inapetência (fraqueza e mal-estar), assim como a febre em alguns momentos. O número de lesões de pele são bem variáveis e geralmente acomete mais onde houve maior contato com o vírus.”

Precisamos prestar atenção!

Carolina enfatiza que é importante diferenciar a mpox de outras doenças virais. “As erupções são parecidas com as da catapora, porém não são tão disseminadas. E os pródromos, esses sintomas inespecíficos, são para todas as doenças virais. Portanto, o ideal é realmente prestarmos atenção nas erupções cutâneas, que são bem características”, pontua.

Como a mpox é transmitida entre humanos, e quais são as principais medidas preventivas para evitar sua propagação?

“A principal transmissão entre os homens é por fluidos corporais e contato com as lesões, além de gotículas respiratórias. Portanto, as medidas preventivas são as pessoas minimizarem o contato com quem possa ter mpox e, principalmente, manter a higienização das mãos e diminuir as aglomerações. Quanto menos aglomerado e mais ar circulando, melhor, principalmente para as doenças virais.”

Quais grupos populacionais correm maior risco de contrair a mpox, e quais fatores contribuem para uma maior vulnerabilidade?

“Os grupos de risco são as pessoas que vivem em ambientes aglomerados e as que têm alguma imunodeficiência, além dos extremos de faixa etária. Devemos focar nas pessoas que tem até quatro ou cinco anos de idade, e os que tem a partir dos 60, pois esses são os mais vulneráveis à mpox.’’

Qual é o tratamento disponível e como os profissionais de saúde lidam com casos graves da doença?

‘’Não existe um tratamento específico para mpox. É feita uma avaliação criteriosa e uma hiper-hidratação. É preciso estar atento a qualquer infecção secundária de pele, seja qual fora a gravidade. Mesmo nesse momento em que sabemos que tem uma baixa mortalidade, as pessoas que são mais imunossuprimidas têm maior chance de sofrer com quadros de infecções secundárias de pele e encefalites.”

Existem vacinas eficazes contra a mpox? Quem deve ser prioritariamente vacinado para prevenir surtos?

“Existem dados recentes em relação a prioridades a favor de fazer a vacina, mas neste momento não há evidências de que ela exista em rede pública ou privada. Então, quando vier, e acredito que seja o mais breve possível, provavelmente quem terá preferência serão as gestantes, as pessoas que vivem com vírus do HIV ou que têm alguma imunossupressão, assim como os de idades extremas, que são realmente mais vulneráveis.”

Como os sistemas de saúde pública monitoram e controlam surtos de mpox, especialmente em áreas onde a doença é endêmica?

“O sistema público de saúde sempre monitora a partir de nós, profissionais da saúde, por isso é importante estarmos atentos a possíveis casos de mpox. Qualquer atendimento que fizermos em relação ao quadro sugestivo de mpox, deve automaticamente ser notificado, para a vigilância entender se é um caso ou não, e fazer com que haja um bloqueio em relação àquele paciente para evitar a disseminação. O mais importante é que os cidadãos procurem o serviço de saúde o mais breve possível, para ter um diagnóstico e o profissional. Na suspeita do diagnóstico, notifique à vigilância. Então, cabe a nós, tanto o cidadão como o profissional da saúde, correr atrás para realmente conseguir esses dados o mais breve possível.’’

Corremos o risco de passar por uma nova pandemia com lockdown, assim como a Covid-19?

“Ainda não vejo como sendo um quadro de pandemia, como foi a Covid-19. Mas, já que foi anunciado esse alerta de surto, é importante que todos nós estejamos atentos. O que é mais importante é que, como qualquer outra doença, como qualquer outra situação emergencial, não podemos esperar que as coisas piorem. Agora, já que houve esse alerta, nós realmente precisamos fazer a nossa parte. É preciso notificar os pacientes com suspeita, isolá-lo, monitorar os contatos que ele teve, fazer a prevenção com higienização das mãos e prevenção com vacina assim que ela surgir. É isso que precisamos fazer no momento, prevenir antes que aconteça.”