Hipocondria: preocupação para dar e vender! Foto: Pixabay

Um novo estudo aponta que os hipocondríacos morrem mais cedo do que quem se importa menos com a saúde

A grande maioria da população já ouviu falar sobre hipocondria. É um termo associado a uma pessoa com preocupação excessiva em relação à sua saúde. Mas, antes de entrarmos mais a fundo na matéria, Letícia Ruthes Niz, graduada em Medicina pela PUCPR e especialista em Psiquiatria pelo Hospital Heidelberg,  alerta que esse é um termo que os médicos preferem evitar. “Desde a publicação da Quinta Edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), em 2013, as pessoas antigamente diagnosticadas com Transtorno Hipocondríaco agora são classificadas, em sua maioria, com Transtorno de Sintomas Somáticos (TSS). Ou, em menor parcela, com Transtorno de Ansiedade de Doença”, explica.

Mas o que passa na cabeça de quem sofre com hipocondria?

Letícia pontua que os pacientes com um desses dois transtornos têm como característica central a preocupação excessiva a respeito de doenças. Associado à alta ansiedade com o agravamento de uma condição de saúde ou medo de contrair uma enfermidade. “Eles podem constantemente identificarem reações normais do corpo como ameaçadoras. Podem vasculhar o próprio corpo em busca de sinais de doença ou se convencerem que a própria ausência desses sinais é um indicativo de algo oculto que precisa ser investigado.”

Dois exemplos oferecidos pela especialista são:

➡️Uma pessoa que, ao levantar-se da cama e sentir uma tontura devido a mudança rápida de posição, associe a presença de um câncer no cérebro.

➡️Um paciente, por ter na família casos de pessoas que infartaram pode, constantemente, achar que está em ameaça de sofrer um, mesmo não apresentando fatores de riscos para tal.

“Isso tudo gera prejuízos significativos no comportamento dessa pessoa.”

E o que engloba o estudo?

Um estudo realizado na Suécia e publicado em dezembro de 2023 na revista JAMA Psychiatry acompanhou cerca de 42 mil pessoas. Das quais 1.000 sofriam do distúrbio. E constatou que, durante esse período, as pessoas com o transtorno apresentaram maior risco de morte do que quem não se preocupava demasiadamente com a saúde.

Pessoas com o transtorno que morreram de causas naturais apresentaram maior mortalidade por causas cardiovasculares, respiratórias e desconhecidas. Letícia pontua que “esses transtornos estão fortemente associados a outros, como depressão e ansiedade. Estes já estão bem estabelecidos como sendo fatores de risco para diversas condições de saúde preocupantes como distúrbios cardiovasculares e mortalidade prematura”.

Além disso,  alguns experimentam níveis tão elevados de ansiedade em relação à saúde que realmente evitam o contato com serviços médicos. E aí mora o perigo, porque esses pacientes correm o risco de ignorar doenças potencialmente graves.

Já a principal causa de morte não natural pontuado pelos cientistas foi o suicídio, com uma taxa pelo menos quatro vezes maior. Patricia avalia que por vezes os sintomas são tão intensos que essas pessoas chegam a tirar a própria vida por não suportarem essa condição.

Tem os que não saem dos médicos e os que evitam!

Tanto que o DSM-5 criou subcategorias para especificar o comportamento do paciente, de acordo com Letícia. “Nós podemos classificá-lo como paciente com Transtorno de Ansiedade de Doença, com dois subtipos: 1-) tipo busca de cuidado; 2-) tipo evitação de cuidado.” 

➡️No tipo busca de cuidado, o paciente procura ativamente serviços de saúde. O que inclui consultas com médicos na esperança de realizar exames e procedimentos para a investigação do diagnóstico. “Apesar de não parecer arriscado buscar avaliação médica com frequência, esse perfil de paciente corre o risco de realizar, inadvertidamente, diversos exames laboratoriais e outros testes desnecessários e contraproducentes, que podem culminar com a realização de procedimentos tão desnecessários quanto. Por exemplo, uma cirurgia”, pontua.

➡️No tipo evitação, os pacientes evitam o cuidado médico sempre que possível. Nesses casos, eles podem acabar negligenciando a própria saúde e enfrentando desfechos negativos que poderiam ser evitados com a busca precoce de tratamento.

Do diagnóstico ao tratamento da hipocondria

Patricia Dallago Chandoha Busquim, psiquiatra e professora no Centro Universitário Integrado, em Campo Mourão (PR), afirma que o diagnóstico é feito através de critérios clínicos que se enquadram nas características apresentadas pelo paciente, que são:

  • Preocupação em ter ou contrair uma doença grave;
  • Sintomas físicos não presentes, ou se estiverem, são de intensidade leve;
  • No caso de ter outra condição médica ou risco elevado de desenvolvê-la, a preocupação é claramente excessiva ou desproporcional;
  • O indivíduo busca muito cuidado médico ou evita a todo custo.

A professora explica que na maioria dos casos, não chega a cura ou remissão, mas o tratamento com acompanhamento psicológico e, eventualmente, com um psiquiatra ajuda a controlar significamente os sintomas e oferecer uma qualidade de vida maior ao paciente.