Menstruação: ser mulher não é fácil

A menstruação não só traz mudanças de humor, mas também afeta a performance das atletas

O ano era 1989 e Steffi Graf estava disputando a final de Roland Garros contra Arantxa Sánchez Vicario, quando a alemã deixou a partida e foi para o vestiário. Na hora, muitos pensaram que ela estava tentando confundir sua adversária, mas depois de ter sido eliminada, Steffi contou o motivo. “Por que eu saí antes do final da partida? Realmente querem saber? Porque estava menstruada“, respondeu a tenista. Além disso, ela revelou que a noite anterior tinha passado acordada devido a fortes cólicas, que a fizeram ter uma queda no desempenho.

Adeus, energia

“Se olharmos para a parte hormonal/fisiológica do ciclo menstrual, na menstruação há uma queda de todos os principais hormônios femininos, especialmente estrogênio e testosterona. Isso, inclusive, é o que faz o endométrio (camada interna do útero) descamar e exteriorizar pela vaginal em forma de sangue menstrual. Esta queda de estrogênio e testosterona pode provocar uma queda de energia especialmente para atividades físicas de alto rendimento. Além disso, algumas mulheres podem sentir cólicas, alterações de humor, cansaço e anemia quando há sangramento intenso, e estes fatores podem impactar na performance esportiva em alguns casos”, afirma Juliana Sperandio, médica ginecologista parceira da marca Pantys.

Mudanças e mais mudanças durante a menstruação

O corpo feminino é cíclico, e de acordo com a especialista, altera-se conforme a presença ou ausência de hormônios específicos, a depender da fase do ciclo menstrual. Temos basicamente 3 fases principais:

  • Primeira fase: pré-ovulatória (folicular) – há estrogênio e testosterona em maior quantidade no corpo, promovendo sensação de bem-estar, energia, libido alta, pele e cabelo com mais brilho e maior performance esportiva.
  • Segunda fase: pós-ovulatória (lúteo) – há mais progesterona circulando, e, nesta fase, algumas mulheres já podem sentir alguns sintomas pré-menstruais como inchaço, menos energia e alterações de humor.
  • Terceira fase: menstruação

“Por isso, para mulheres que não usam hormônios e/ou contraceptivos hormonais, a fase que mais favorece a performance nos esportes é a pré-ovulatória. O estrogênio e a testosterona mais altos podem beneficiar aquela mulher em relação à força e maior ganho de massa magra”, revela Juliana.

Menstruação: Mito ou fato?

Existe um burburinho no mundo esportivo de que as mulheres que treinam muito podem parar de menstruar. Mas a médica afirma que essa suposição é, sim, um fato! “Para a menstruação ocorrer, alguns órgãos devem estar funcionando em sincronia: glândulas cerebrais (hipotálamo e hipófise), ovários, útero e vagina. As secreções hormonais do cérebro e dos ovários, e a atuação dos hormônios ovarianos no útero, são essenciais para que existam ciclos menstruais regulares. Qualquer fator que tenha impacto em uma ou várias vias deste processo pode impactar no padrão de sangramento menstrual.”

Além disso, o treino em excesso, sem suplementação/alimentação adequada, hidratação e períodos de descanso, pode fazer com que haja impacto na produção de hormônios ovarianos, e com isso irregularidade menstrual.

Vamos às soluções

Para Juliana, um calendário de hormônio das atletas pode ajudar a entender as mudanças que o corpo passa. “Conhecer o ciclo menstrual é conhecer o corpo feminino e suas potencialidades, e fazer este segmento é essencial, também, para atletas, para que entendam melhores épocas da performance e também para que aprendam a identificar quando algo no corpo não vai bem e busquem ajuda se necessário”, aconselha. 

Os pontos principais que podem ser melhorados com o calendário, de acordo com a ginecologista, são:

  • Conhecer o ciclo menstrual e as mudanças que podem ocorrer no corpo e na mente ao longo do mês ajuda a encaixar, por exemplo, atividades que demandem maior performance nas fases favoráveis;
  • Identificar quando o corpo indica que algo não vai bem, por exemplo: cólicas menstruais incapacitantes) e buscar ajuda médica;
  • Alimentação adequada e suplementação individualizada são essenciais e devem ser ajustadas de acordo com cada fase do ciclo menstrual e de acordo com as necessidades de cada atleta.

Por fases!

Já que o corpo feminino é cíclico, os treinos também devem ser. Para a ginecologista, a periodização dos treinos é essencial para atingir a melhor performance esportiva e conhecer o corpo, bem como o que ele é capaz de entregar em cada fase é importante para atingir a capacidade máxima e evitar lesões. 

Sugestões de treinos para cada fase:

  • Fase folicular: priorizar treinos que envolvem alta performance e exigência de força, como por exemplo musculação com mais carga, treinos de tiro com aumento importante da frequência cardíaca.
  • Fase lútea: priorizar exercícios de resistência com menor carga, visando fortalecimento muscular e proteção das articulações, treinos longos mais estáveis (sem picos de frequência cardíaca).
  • Menstruação: priorizar treinos mais curtos, envolvendo mobilidade/alongamento, sem picos de frequência cardíaca e com tempo menor, pode ser uma excelente estratégia, especialmente nos 2 primeiros dias de fluxo.

Tem como contornar?

Será que é possível evitar que o rendimento caia durante o período menstrual? “Invariavelmente, se a paciente menstrua e não usa hormônios, como anticoncepcionais, o próprio sangramento pode impactar no rendimento nesta fase, além da queda de estrogênio e testosterona conforme já vimos”, responde Juliana.

“Especialistas podem minimizar este impacto ajustando a nutrição para repor micronutrientes perdidos com o sangramento (como ferro) e aumentar a produção estrogênica do corpo.” Ou seja, escolher alimentos certos e otimizar a suplementação é essencial nesta fase, para minimizar o impacto da menstruação nos treinos”.

Outro ponto importante, destacado pela ginecologista, é a periodização dos treinos. Priorizar treinos mais curtos, que envolvem mobilidade e alongamento, pode ser uma excelente estratégia nos dois primeiros dias de fluxo. “Além disso, é muito importante que a mulher que possui fluxo menstrual muito intenso, TPM que impacta de maneira significativa no rendimento, ou cólicas intensas, é imprescindível que sejam investigadas e tratadas doenças específicas, de modo a melhorar ainda mais o rendimento no esporte e a qualidade de vida, como endometriose, miomas, adenomiose, dentre outras”, finaliza.