Ao fazer isso, conseguimos melhorar produtividade e eficácia no trabalho a longo prazo
O texto é inocente e até motivacional à primeira vista, e ficou popular em vídeos de TikTok ou posts no Instagram: “Trabalhe enquanto eles dormem e depois viva a vida que eles sempre sonharam”. Mas a realidade, como sempre, tende a não ser tão simples. “A intensificação desse ideal pode ocasionar vários transtornos à saúde mental, pela própria dificuldade de a pessoa encontrar e estabelecer limites”, explica a psicóloga organizacional Patricia Ansarah.
Um estudo do International Stress Management Association (Isma) revelou que o Brasil está em segundo lugar entre os países com mais diagnósticos de Síndrome de Burnout. A doença ocupacional gerada por exaustão com o trabalho afeta cerca de 30% dos brasileiros.
Malefícios
Os malefícios da produtividade desenfreada são vários, aponta Patrícia, e afetam tanto indivíduos quanto empresas. Para os trabalhadores, pode ocasionar, além do Burnout, estresse crônico, baixa qualidade de vida, irritabilidade, entre vários outros problemas. Já para as organizações, há o risco de alta rotatividade de funcionários, afastamentos médicos, e baixo nível de engajamento e desempenho nas equipes.
Isso acontece porque, ao seguir à risca essa frase popular, muitos podem acabar acreditando que é perda de tempo estabelecer uma rotina com pausas e que englobe as outras áreas da vida. “Um erro comum é entrar num modo automático incessante de execução, acreditando que quanto menos descansar, maior a produtividade. E, portanto, as possibilidades de recompensa e reconhecimento”, exemplifica a psicóloga.
Pausando para ir mais longe
Estabelecer períodos de descanso é, na verdade, essencial para um bom trabalho. Uma pesquisa da West University of Timisoara, na Romênia, chegou à conclusão de que fazer micropausas de até 10 minutos ao longo do expediente ajuda a diminuir o estresse do dia a dia, melhora o bem-estar e aumenta a produtividade.
“É preciso que cada um cultive uma mentalidade mais saudável e resistente à pressão pela produtividade constante, permitindo que a pessoa se concentre em encontrar um equilíbrio satisfatório entre trabalho, lazer e bem-estar”, pontua Patrícia.
Mudar é preciso pelo bem da saúde mental
Quando a pressão constante é promovida pelo próprio ambiente de trabalho, lidar com isso se torna ainda mais desafiador. “Escolham o momento certo para conversar com a liderança de forma honesta e clara. E peçam ajuda para repriorizar as atividades, fornecendo exemplos específicos sobre o impacto que a pressão excessiva está causando e sugerindo alternativas”, aconselha.
Conversas como essas podem ser reveladoras para ambas as partes, incluindo o gestor que, muitas vezes, não sabe como liderar de forma mais saudável e pode se interessar em pedir ajuda para que isso não aconteça novamente.
Priorize à saúde mental
Caso não ocorram mudanças, a especialista recomenda que cada profissional repense suas possibilidades com cuidado, lembrando-se da máxima: sua saúde deve vir em primeiro lugar. Busque esclarecimentos, apoio externo, reavalie suas prioridades, pense em maneiras de administrar o estresse (psicoterapia e a escolha de algum hobby para além do trabalho, por exemplo). E, em última instância, faça uso dos processos internos para formalizar uma queixa.
Em caso de uma nova negativa, considere uma mudança de função, gestor ou até mesmo de emprego. Lembre-se: cargos são temporários. No futuro, quem irá se lembrar do seu desgaste serão sua saúde e sua família. Nunca se esqueça de refletir: essa é a vida que desejo para mim?
“Priorizar a sua saúde mental é um fator fundamental para melhorar a produtividade e a eficácia no trabalho a longo prazo, ajudando a evitar o esgotamento e a manter um estado de bem-estar geral”, destaca a psicóloga.
“Exposed” trabalhista?
Viralizou no X (antigo Twitter), nas últimas semanas, uma lista com desabafos de funcionários anônimos sobre empregadores considerados tóxicos. O que começou quase como uma brincadeira entre trabalhadores de TI se tornou um documento com mais de 500 empresas, passando por pequenos
escritórios até multinacionais.
O “exposed” foi apelidado pelos internautas de Worst Place to Work. Uma piada com o ranking Great Place to Work, que seleciona empresas consideradas as melhores para se trabalhar. Infelizmente, o compilado não traz apenas simples desabafos: há denúncias graves de até mesmo assédio sexual, atrasos de salário e acúmulo de funções.