A SBS atinge cerca de 150 mil crianças por ano no Brasil, mas ainda é pouco falada
A Síndrome do Bebê Sacudido (SBS) é pouco comentada e é considerada rara, atingindo cerca de 150 mil crianças por ano no Brasil. Por isso, nessa matéria, vamos trazer luz para um assunto tão importante.
O que é a Síndrome do Bebê Sacudido?
A Síndrome do Bebê Sacudido (SBS) é uma forma grave de lesão cerebral causada por sacudir violentamente um bebê ou uma criança pequena. “Esse movimento brusco faz com que o cérebro do bebê se mova dentro do crânio, resultando em hematomas, inchaço e até hemorragias cerebrais”, explica Tatiana Cicerelli Marchini, Pediatra e Neonatologista.
As principais causas são:
- Sacudidas violentas: Normalmente ocorrem quando um cuidador ou adulto perde a paciência devido ao choro incessante de um bebê e, em um momento de frustração, sacode o bebê com força.
- Impactos repetidos: Além de sacudir, impactos repetidos, como jogar o bebê para cima e não conseguir pegá-lo adequadamente, também podem causar essa síndrome.
- Quedas acidentais: Embora menos comum, quedas graves ou outros tipos de trauma craniano também podem contribuir para a síndrome, mas o sacudir é a causa mais frequente.
Quais os sinais o bebê dá?
Tatiana pontua que os sinais e sintomas da SBS podem variar em gravidade, dependendo da intensidade da lesão. No entanto, existem alguns sinais e sintomas mais comuns que os pais e cuidadores devem observar incluem.
Sinais imediatos da Síndrome do Bebê Sacudido :
- Irritabilidade excessiva: O bebê pode chorar mais que o normal, parecer incomodado ou irritado sem uma causa aparente.
- Letargia ou dificuldade para acordar: O bebê pode parecer anormalmente sonolento ou ter dificuldade para se manter acordado.
- Vômitos sem motivo: Vômitos frequentes ou sem uma causa aparente, como uma infecção, podem ocorrer.
- Convulsões: Episódios de convulsões, como tremores ou espasmos, podem ser sinais de lesão cerebral.
- Respiração anormal: O bebê pode apresentar dificuldades respiratórias, como respiração lenta, irregular ou parada temporária da respiração (apneia).
- Perda de apetite ou dificuldade para se alimentar: A alimentação pode se tornar difícil, com o bebê recusando-se a comer ou tendo problemas para sugar e engolir.
- Pele pálida ou azulada: A pele do bebê pode apresentar uma coloração pálida ou azulada, indicando problemas circulatórios ou respiratórios.
Sintomas físicos:
- Hematomas inexplicáveis: Podem aparecer hematomas nos braços, pernas ou tórax do bebê, indicando possíveis lesões.
- Cabeça aumentada: O aumento repentino do perímetro craniano devido ao inchaço cerebral.
- Fontanela protuberante: A moleira (fontanela) do bebê pode parecer inchada ou saliente.
Sinais Neurológicos:
- Olhos com movimentos anormais: O bebê pode ter dificuldade para focar os olhos ou pode haver movimentos involuntários dos olhos (nistagmo).
- Paralisia ou dificuldade de movimento: Fraqueza em partes do corpo ou perda da capacidade de mover certos membros.
Sinais Tardios:
- Perda de desenvolvimento: A criança pode perder habilidades que já havia adquirido, como sorrir, rolar ou sentar.
- Problemas cognitivos e comportamentais: À medida que a criança cresce, pode desenvolver dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento ou deficiência intelectual.
Por que bebês são particularmente vulneráveis?
Cecilia Gama, Pediatra da Clínica Mantelli, explica que o motivo é porque os bebês têm músculos do pescoço muito fracos e suas cabeças são relativamente grandes e pesadas em relação ao resto do corpo. “Sacudir um bebê pode causar movimentos bruscos da cabeça para frente e para trás, o que aumenta o risco de lesões. Os vasos sanguíneos delicados do cérebro podem se romper, e isso pode levar a danos cerebrais severos ou até à morte”, completa.
Além disso, Cecilia também aponta que existem diversas complicações a longo prazo associadas à Síndrome do Bebê Sacudido.
- Lesões cerebrais permanentes: Pode resultar em paralisia cerebral, atraso no desenvolvimento, problemas de aprendizado e comportamento, convulsões, ou perda da visão ou audição.
- Morte: Em casos graves, a SBS pode ser fatal.
- Problemas neurológicos: Se o bebê sobreviver, pode enfrentar problemas como dificuldade de coordenação motora, distúrbios de fala e linguagem, e epilepsia.
Diagnóstico da Síndrome do Bebê Sacudido
No consultório, o médico consegue identificar sintomas visíveis, como hematomas e hemorragias, que se identificam através de: hemorragias dentro dos olhos; fraturas nas costelas ou nos ossos longos; e hemorragias entre o cérebro e o crânio.
Além disso, Cecilia destaca a importância do diagnóstico multidisciplinar. “O diagnóstico da Síndrome do Bebê Sacudido requer a colaboração de uma equipe multidisciplinar, incluindo pediatras, neurologistas, oftalmologistas, radiologistas, e, em alguns casos, especialistas em abuso infantil. A combinação de achados clínicos e de imagem, juntamente com o histórico médico e social, é essencial para confirmar o diagnóstico. Se houver suspeita de que um bebê foi sacudido, é crucial procurar atendimento médico imediatamente. O tratamento precoce pode reduzir o risco de complicações a longo prazo e salvar a vida da criança.”
Como a SBS é tratada e qual é o prognóstico para as crianças afetadas?
Tatiana comenta que o tratamento depende da gravidade das lesões e do tempo decorrido desde o trauma. “O manejo clínico visa estabilizar a criança, minimizar os danos cerebrais e tratar as complicações decorrentes do trauma.”
Tratamento da Síndrome do Bebê Sacudido
1. Cuidados médicos de emergência
- Estabilização: Se o bebê apresentar sintomas agudos, como dificuldade respiratória, convulsões ou perda de consciência, ele deve ser levado imediatamente para a emergência. O foco inicial é estabilizar as funções vitais, como respiração e circulação.
- Ventilação mecânica: Em casos graves, onde há comprometimento respiratório, pode ser necessário o uso de ventilação mecânica para auxiliar a respiração.
2. Tratamento neurocirúrgico:
- Drenagem de hematomas: Se houver sangramento intracraniano significativo, pode ser necessária uma cirurgia para drená-lo e reduzir a pressão sobre o cérebro.
- Monitoramento da pressão intracraniana: Nos casos em que há edema cerebral (inchaço do cérebro), pode ser necessário monitorar e, se possível, controlar a pressão intracraniana.
3. Cuidados intensivos:
- Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI): Crianças com SBS frequentemente necessitam de cuidados intensivos para monitoramento contínuo, controle de convulsões e gestão de outras complicações.
- Controle de convulsões: Medicamentos anticonvulsivantes são usados para controlar convulsões, que são comuns após lesões cerebrais traumáticas.
4. Reabilitação e terapias de longo prazo:
- Fisioterapia: Para ajudar a melhorar a força muscular, coordenação e mobilidade. Essencial para crianças que sofrem de paralisia cerebral ou outros déficits motores devido à SBS.
- Terapia ocupacional: Focada em ajudar a criança a desenvolver habilidades diárias e independência, especialmente se houver déficits motores ou cognitivos.
- Terapia da fala: Importante para crianças que têm problemas de comunicação e linguagem, ajudando-as a melhorar suas habilidades de fala e linguagem.
- Apoio psicológico e social: Tanto para a criança quanto para a família, o apoio psicológico é crucial para lidar com as consequências emocionais e comportamentais da SBS. Além disso, assistentes sociais podem ajudar as famílias a acessar recursos e suporte adicional.