A busca desenfreada pelo corpo perfeito afeta a nossa mente e pode acarretar diversos transtornos
O termo sociedade plástica tem se tornado uma realidade cada vez mais triste. É difícil encontrar uma pessoa na rua que não tenha ficado animada com a live action da Barbie no último ano. Aproveitando que o filme foi um sucesso nos cinemas mundiais, que tal falarmos sobre o padrão de beleza que a boneca mais famosa do mundo gerou? É claro que o tipo de corpo aceitável foi mudando com os anos, mas desde o lançamento da boneca, em 1959, as coisas mudaram bastante.
Barbie e sua simbologia
A Barbie sempre foi símbolo de um padrão de beleza praticamente inalcançável. A sociedade indiretamente estabeleceu o padrão de corpo ideal como magro, com cintura e pernas finas, além de cabelos loiros e lisos. Para o masculino, era aquele homem magro, mas com um corpo definido. Por mais que agora a sociedade esteja “menos” preconceituosa, o lançamento do filme reacendeu alguns debates.
O Cirurgião Plástico Luís Maatz, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), analisou e concluiu que as medidas corporais da boneca são irreais. 91 cm de busto, 46 cm de cintura e 84 cm de quadril para uma mulher adulta com 1,75 m de altura.
O que leva a sociedade plástica
“Isso significa uma gordura corporal insuficiente para uma mulher menstruar. Hoje, com as redes sociais, as pessoas replicam esse fenômeno indefinidamente. Celebridades, subcelebridades e até pessoas comuns usam alterações digitais (como os filtros do Instagram) para corrigir imperfeições e parecerem mais jovens ou supostamente mais bonitas e atraentes. Isso cria uma distorção no imaginário de muitos jovens ou mesmo adultos, que começam a fazer comparações do seu próprio rosto e corpo com as falsas belezas postadas nas redes”, explica o cirurgião plástico.
Golpe na nossa saúde mental
Para a psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C, Monica Machado, essa busca desenfreada pelo corpo perfeito afeta a nossa mente. Podendo acarretar diversos transtornos como ansiedade, depressão, estresse, sentimentos de inadequação, problemas de autoestima e muitas vezes levando a distúrbios alimentares para nos encaixarmos no “padrão” eleito pela sociedade como perfeito. Já para a psiquiatra geral e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria, Danielle H. Admoni, o fato da boneca trazer esse corpo irreal pode mexer com pessoas de todas as idades. E gera maior risco para as crianças que ainda estão se desenvolvendo, principalmente psicologicamente.
Ken humano
Mais de 90 cirurgias plásticas e cerca de R$6 milhões gastos para se parecer com Ken, boneco que faz par romântico com Barbie. Isso parece algum tipo de pegadinha, mas é a realidade de algumas pessoas. Que querem fazer de tudo para chegar o mais perto possível de figuras que passam do real. “Acredito que querer modificar algumas coisas que incomodam seja algo natural”, diz Monica. “Mas quando isso se transforma em obsessão como o do Ken humano, podemos compreender que há casos em que estamos tratando de um Transtorno Dismórfico Corporal (TDC).”
De acordo com Maatz, o transtorno dismórfico corporal é o espectro mais extremo disso, levando a pessoa a nunca estar satisfeita com a própria aparência e que comumente recorre a inúmeros procedimentos estéticos ou cirurgias para melhorar uma ou mais partes do corpo.
“A busca por um corpo perfeito é uma jornada que nunca será concluída, um caminho sem fim, que inevitavelmente levará a pessoa a uma grande frustração, gerando insegurança e ansiedade, podendo contribuir também com o surgimento ou agravamento de crises depressivas”, alerta Luís.
A busca pela perfeição tem cura?
Ao analisar essa busca pela perfeição, percebemos que ela está ligada a problemas de autoimagem e autoestima, que podem ser trabalhados na psicoterapia. De acordo com Monica, durante as sessões é onde teremos uma melhor compreensão de quando essas questões começaram a surgir com o indivíduo, e é possível realizar algumas intervenções para a evolução do quadro do paciente.
Claro que nem todo incômodo com a beleza é algo que precisa de terapia. Por exemplo, uma pessoa que não gosta tanto do seu nariz, mas no caso onde ela deixa de fazer coisas no seu dia a dia por incômodo daquela parte do corpo, e o nariz passa a ser o assunto central da sua vida, ela passa do normal para o patológico. “Quando falamos de patológico, falamos de uma intervenção medicamentosa e de terapia junto, dependendo do caso”, finaliza a psiquiatra Danielle.