
Uma pesquisa recente da Duke University, nos Estados Unidos, revelou um fenômeno no ambiente corporativo
Colegas estigmatizam usuários de IA como “preguiçosos” ou “menos competentes” os profissionais que utilizam inteligência artificial para otimizar suas tarefas. O estudo, que envolveu 4,4 mil participantes, aponta que essa resistência pode estar criando barreiras invisíveis para a adoção de tecnologias que já são realidade no mercado.
Segundo a pesquisa, conduzida por um trio de analistas de negócios, muitos entrevistados acreditavam que seriam julgados negativamente ao usar ferramentas como ChatGPT no ambiente profissional. Além de verem esses profissionais como menos diligentes, algumas pessoas os percebiam como mais facilmente substituíveis do que aqueles que se recusavam a utilizar aplicativos de IA.
O experimento
Em um dos experimentos, os participantes foram convidados a descrever como enxergavam colegas que recorriam à IA para realizar tarefas. Os resultados foram contundentes: muitos os consideravam “menos competentes em seus trabalhos, preguiçosos, menos independentes, menos autoconfiantes e menos diligentes”. O estudo também simulou um processo de contratação, revelando que “gerentes” eram menos propensos a contratar candidatos que admitissem usar IA em suas funções. Curiosamente, essa resistência diminuía significativamente quando o próprio gerente era usuário de ferramentas de inteligência artificial.
Para Ricardo Marsili, especialista em IA e CEO da M2br Academy, essa percepção negativa é sintomática de um descompasso entre a realidade tecnológica e a cultura organizacional. “O que vemos aqui não é um problema da tecnologia. Mas sim, um reflexo da falta de preparo das equipes para lidar com a transformação digital. É como se estivéssemos revivendo o mesmo preconceito que existia contra quem usava calculadoras há décadas”, afirma.
É preciso dosar
Ricardo ressalta que a IA não substitui habilidades humanas fundamentais, mas as complementa. “Usar inteligência artificial não é ‘trapacear’ ou ‘fazer menos trabalho’. É trabalhar de forma mais inteligente, focando o potencial humano onde ele realmente faz diferença: na criatividade, no pensamento crítico e na tomada de decisões estratégicas”, explica o especialista.
Ele também alerta para as consequências competitivas desse estigma. “Empresas que cultivam essa cultura de resistência à IA estão, na prática, escolhendo ser menos produtivas e inovadoras. É como decidir competir em uma corrida de Fórmula 1 com um carro de passeio, enquanto seus concorrentes usam toda tecnologia disponível”, compara.
Segundo Ricardo, a solução passa por uma mudança de mentalidade corporativa. “Precisamos redefinir o que significa ser produtivo e competente no século XXI. Não se trata mais de quem trabalha mais horas ou quem memoriza mais informações, mas de quem consegue entregar os melhores resultados, independentemente das ferramentas utilizadas”, defende.
O especialista recomenda que empresas invistam em programas de letramento digital que desmistifiquem a IA. “Quando todos entendem como a tecnologia funciona e quais são seus limites, o foco deixa de ser ‘quem está usando IA’. Passa a ser ‘quem está entregando as melhores soluções’. O verdadeiro diferencial está em como você aplica a ferramenta, não no fato de usá-la ou não”, conclui.