“Eu não quero ter filhos!” Cada vez mais mulheres não querem ter filhos.

Por que cada vez mais mulheres perdem o desejo de serem mães?

“Você vai casar, ter filhos e cuidar da sua família.” Desde o começo dos tempos, essa frase era a mais ouvida por mulheres. Independentemente dos seus desejos, procriar era quase que uma obrigação. O homem era responsável por cuidar financeiramente da casa e, a mulher, criar seus filhos e manter o lar em ordem. Mas os tempos mudaram, e agora, um filho nem sempre é um desejo.

Demandas do mundo moderno

Cada vez mais, as mulheres dão preferência às suas carreiras profissionais e à independência financeira. O aumento da presença feminina no mercado de trabalho é um grande fator para que as mulheres decidam ter filhos mais tarde ou até mesmo não os terem. Isso porque elas podem dedicar 100% do tempo à profissão.

Há quem julgue este pensamento como egoísta. Porém, é preciso lembrar que a competitividade entre homens e mulheres no mercado de trabalho ainda é muito desigual. Isso faz com que elas precisem se esforçar mais para conquistar cargos de liderança, tomando todo o tempo que teriam para se dedicar à maternidade.

Mas este não é o único fator que impede as mulheres de terem filhos. De acordo com a psicóloga Larissa Fonseca, a maioria das mulheres que desistem da maternidade gostariam de criar filhos dentro de um contexto familiar. E, se não encontram um parceiro, evitam ser mães solo. “Outros motivos também são tão importantes quanto: o futuro da humanidade ou do país, questões econômicas, a liberdade para ser uma prioridade na própria vida e não abrirem mão de si mesmas, casais que decidem em conjunto que crianças não fazem parte de uma vida com viagens constantes, e até traumas vivenciados na infância são motivos para a escolha de não ser mãe”, explica a psicóloga. Também há quem apenas não se veja como mãe. “Gostar de crianças é algo bem diferente de querer educá-las, levar para casa, dar banho e dedicar um tempo a isso”, aponta Larissa.

Pressão da sociedade para ter filhos

A psicóloga ressalta que, quando as mulheres deixam claro que não se veem como mães, a sociedade entra em colapso e os julgamentos vêm com força. “A sociedade pressiona a mulher de diversas maneiras. incluindo o viés inconsciente de que o propósito da mulher no século XVIII era ter filhos e cuidar da família. A religião, a cultura, inclusive os próprios valores familiares (você apenas será boa se der netos, sobrinhos etc)”.

Além disso, também há questões de gênero que são impostas, como a de que toda mulher precisa ter filhos, independente se julgam ser pertencentes ao sexo feminino. “Quando amigos e pessoas do próprio convívio já têm filhos, nos sentimos obrigadas a ter também para pertencer ou fazer novas amizades”, complementa.

A psicóloga ainda explica que existe um julgamento e pressões no sentido inverso, para que a mulhe não tenha filhos para não prejudicar a própria carreira. “Mas não podemos negar a existência de um estigma social que julga e sentencia a mulher que decide não ter filhos. Há inclusive um movimento americano, chamado Not Mothers, que incentiva a escolha da mulher”, conta.

Defenda-se!

Aguentar as críticas da sociedade pode ser algo cansativo. Por isso, a psicóloga aponta como agir nessa situação: “Devemos responder dizendo que essa não é uma escolha da outra pessoa, e sim dela mesma. Independente dessa outra pessoa ser um cônjuge, a família dele ou a própria família. Não se obriga ninguém a ter filhos. Essa é uma escolha extremamente individual e é inclusive um motivo plausível para separação”.

Se você ainda está em dúvidas sobre a decisão que quer tomar para sua vida, tem algumas coisas que é preciso levar em consideração. Como seus objetivos pessoais e como a maternidade se encaixa neles, seus hobbies, o quanto a ausência de ter filhos se encaixa em seus valores pessoais – não de crenças familiares, mas sim sobre o quanto você se sente realizada. Além disso, avalie sua saúde, suas finanças
e seu tempo para se dedicar a um filho.

Larissa acrescenta que é preciso avaliar qual o sentido da vida para você, se um filho deve fazer parte disso ou não. “Apenas aprendemos ser mãe sendo, e saber se você quer mesmo ser, apenas o futuro poderia te responder. Essa é uma decisão difícil e extremamente individual. Apenas leve em consideração se essa é uma escolha por si ou para agradar e suprir os padrões sociais esperados”, complementa.

Coloque-se em primeiro lugar

Independentemente do motivo, as mulheres precisam se sentir empoderadas para usar a própria voz, e os outros necessitam ser encorajados a ouvir. As mulheres ainda sofrem com o viés inconsciente, que é reflexo de muitos anos vividos com o conceito de que a inteligência era função do sexo masculino e o cuidado com a família do sexo feminino. “O que mais dói é saber que uma mulher não tinha poder para abrir conta em banco, votar e até mesmo o direito de trabalhar sem autorização do próprio marido. Não é à toa a dificuldade em romper essas barreiras. Muitas vezes, vejo na clínica mulheres presas na crença de que precisam ter filhos mas sofrem por não querer e, assim, vivenciam o conflito: escolher agradar a si e decepcionar sua família e além das expectativas sociais”, finaliza a profissional.